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O que você precisa saber sobre a temporada de cruzeiros no Brasil

Dos protocolos de seguranças aos riscos para os viajantes, o que sabemos sobre o turismo marítimo em 2020/2021

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O Globo

Atualizado: 

19/10/2020
Foto: iStock
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Reportagem do jornal O Globo, publicada em 15/10/2020

A exatamente um mês da data prevista para o início da temporada brasileira de cruzeiros marítimos, ainda há muito mais dúvidas do que certezas no horizonte. Das três companhias que tradicionalmente enviam seus navios para roteiros pelo litoral brasileiro, apenas uma, a MSC, confirmou a participação. Ainda assim, sua frota de quatro transatlânticos precisa ser liberada pelas autoridades sanitárias brasileiras, que seguem estudando, desde julho, os protocolos de segurança para o segmento, um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. A seguir, respondemos a algumas perguntas que ainda flutuam nesse mar de indefinições.

Qual a situação atual dos cruzeiros no Brasil?

Depois da desistência da Costa Cruzeiros e o pedido de recuperação judicial da Pullmantur, a MSC ficou como a única opção para os cruzeiristas no país, com quatro navios escalados. O grande destaque, no entanto, não virá: o novíssimo MSC Grandiosa foi relocado para o Mediterrâneo e substituído pelo MSC Seaview.

A retomada depende da autorização de um grupo interministerial coordenado pelo ministério da Saúde e composto por outras seis pastas e pela Anvisa, que ainda estuda os protocolos de segurança apresentados pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil) e pela própria MSC. O Ministério do Turismo, que não integra esse gabinete, afirma que participa das negociações e espera que as navegações sejam liberadas até início de novembro.

Qual o protocolo de segurança?

O único protocolo de biossegurança divulgado até o momento é o da própria MSC, que diz que adotará no litoral brasileiro as mesmas medidas praticadas a bordo do MSC Grandiosa. O meganavio tem feito cruzeiros de uma semana por Itália e Malta desde agosto e, até agora, não registrou casos de infecção.

Todos os passageiros são submetidos a testes rápidos antes do embarque. Caso dê positivo, é feito um RT-PCR para confirmar. Se o resultado for o mesmo, o embarque é negado. Já os tripulantes são testados três vezes antes do começo do contrato. Todas as pessoas a bordo terão a temperatura medida ao menos uma vez por dia, de preferência após cada parada. Os desembarques, aliás, serão permitidos apenas para excursões com empresas comprometidas com os mesmos protocolos de segurança.

Os navios operam com até 70% da capacidade e algumas atividades de lazer devem ser agendadas com antecedência. A limpeza foi reforçada com materiais de uso hospitalar, e o uso de máscaras é obrigatório. Passageiros com sintomas serão atendidos gratuitamente a bordo, e 10% das cabines serão destinadas a pessoas infectadas, até que possam desembarcar.

É seguro fazer um cruzeiro agora?

Coordenadora do Centro Brasileiro de Medicina do Viajante, a médica Flávia Bravo considera que navios continuam sendo ambientes muito favoráveis para transmissão de vírus respiratórios e que, mesmo os protocolos de segurança podem não ser suficientes:

— Testes, quando feitos fora do período correto, podem apresentar resultados enganosos. E medidas de higiene e distanciamento só funcionam se todo mundo estiver comprometido.

Ela ressalta ainda o risco de quarentena a bordo, ou de dias perdidos para testagem de casos suspeitos, como aconteceu com o navio Mein Schiff 6 na Grécia, há duas semanas.

Como fica o cliente em caso de cancelamento?

Apesar da indefinição governamental, os pacotes da MSC estão à venda. Para Igor Britto, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, se a temporada for cancelada, quem já comprou os bilhetes pode não ter direito a reembolso, como prevê a lei 14.046, que rege a prestação de serviços de turismo durante a pandemia.

— As empresas têm apenas obrigação de oferecer a remarcação sem custos ou um crédito no valor já pago, para viagens futuras. O viajante precisa ter consciência disso.

O executivo brasileiro Adrian Ursilli olha para a Itália em busca de horizontes para a temporada de cruzeiros deste lado do Atlântico. O diretor-geral da MSC no Brasil fala sobre suas expectativas para a navegação em meio à pandemia, inspirado pela operação do MSC Grandiosa no Mediterrâneo.

A um mês para o início da temporada, como estão as negociações com as autoridades sanitárias?

Continuamos em contato com as autoridades responsáveis e competentes no Brasil, e também na Argentina e no Uruguai, sobre nossa proposta de retomada das operações na América do Sul, após o reinício bem-sucedido das operações no Mediterrâneo em meados de agosto, quando introduzimos um novo e abrangente protocolo de saúde e segurança. Este protocolo foi enviado e apresentado para os órgãos responsáveis na segunda quinzena de julho e desde então seguimos trabalhando em colaboração com autoridades, portos e destinos.

Quais devem ser as maiores mudanças na vida a bordo de um navio com a pandemia?

De forma geral, os hóspedes têm todas as instalações e serviços tradicionais a bordo que normalmente já estavam disponíveis, mas num ambiente muito mais espaçoso, por conta da capacidade reduzida. O uso de máscaras agora é obrigatório em locais onde não for possível o distanciamento social adequado, por exemplo, em elevadores e áreas públicas. Quanto às refeições,mantemos o serviço de bufê, mas com um toque diferente. Agora os hóspedes selecionam o que desejam, e a comida é servida e entregue a eles para levarem de volta à mesa. Também se pode acessar os menus dos restaurantes e bares em seus dispositivos móveis, digitalizando um QR Code.

Como está a procura de pacotes por parte do público?

Nossa expectativa é que a demanda aumente à medida que as restrições de viagens sejam flexibilizadas em diferentes partes do mundo e as pessoas voltem a focar novamente em sua férias. O feedback que recebemos das agências de viagem e dos próprios turistas nos dá a confiança de que há uma demanda e uma vontade de navegar.

Como o setor de cruzeiros vai reconquistar a confiança do público depois dos casos de surtos e quarentena a bordo?

Reagimos muito rapidamente no início da crise, seja para estabelecer imediatamente uma triagem rigorosa ou intensificar as medidas de higienização, e conseguimos retornar todos os nossos navios com segurança aos portos e desembarcar nossos hóspedes quando interrompemos nossas operações globalmente, em março. Acredito que o nosso retorno ao mar no Mediterrâneo foi, entre outras coisas, um passo simbólico para a reabertura mais ampla da indústria de cruzeiros. Na verdade, as medidas implementadas por meio do nosso protocolo são únicas e não estão disponíveis em nenhum outro setor de viagens e turismo.

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