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Nova regra da ANS vai permitir troca de operadora se rede credenciada mudar

Regulamentação foi debatida em audiência pública hoje. Defesa do consumidor vê com ressalva possibilidade de substituir hospital por unidade em outra cidade

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O Globo

Atualizado: 

18/06/2021
Foto: iStock
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Reportagem do jornal O Globo, publicada em 09/06/2021

Título original: Plano de Saúde: Nova regra da ANS vai permitir troca de operadora se rede credenciada mudar

RIO - A mudança na rede assistencial hospitalar pelas operadoras dará ao consumidor o direito de realizar a portailidade, ou seja, a troca de plano de saúde carregando as carências já cumpridas. Isso vale para o descredenciamento de hospital na cidade de moradia do consumidor ou no município de contratação do plano.

O prazo para portabiliade será de 180 dias a partir da data de saída da unidade da rede.

Essa é uma das novidades da nova proposta de norma que estabelece critérios para alteração da rede que foi debatida, na manhã desta quarta-feira, em audiência pública promovida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e deverá entrar em vigor em 180 dias após a sua publicação.

- Entendemos que é um reconhecimento da ANS de que a mudança da rede descaracteriza o contrato. A rede é, sem dúvida, um dos critérios decisivos para escolha de um plano, nada mais justo que, se houver mudança, o consumidor tem direito a trocar - diz Ana Carolina Navarrete, coordenadora do programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

As entidades de defesa do consumidor se preocupam, no entanto, com a possibilidade aberta pela proposta da nova regra de que um hospital possa ser substituído por uma unidade em muncípio limítrofe ou a região de saúde, caso não haja outro de perfil equivalente naquela cidade.

- Nos preocupamos que isso possa implicar em grandes deslocamentos para o consumidor, o que pode ser fatal em casos de emergência. Vamos propor que se leve em consideração o conceito de mercado relevante usado pelo Cade prevendo que intervalo de tempo de deslocamento entre o hospital e a unidade pela qual está sendo substituído seja de até 10 minutos - antecipa Ana Carolina.

A questão geográfica da troca também é alvo de crítica da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

- Entendemos que essa regra passa por cima da vontade e da necessidade do paciente. É como se você fosse ao mercado e comprasse um produto com a embalagem A e ao chegar em casa o produto dentro fosse o B. Além disso, falta à regra da ANS uma definição que permite comparar qualidade entre hospitais. Acreditamos que isso vai acabar aumentando a judicialização - avalia Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp.

Maior poder de negociação com hospitais

Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde, que reúne as maiores empresas do setor,  concorda com Britto que falta estabelecer critérios de qualidade que permitem a comparação entre os hospitais para além da "grife".

Diferentemente do que avalia o executivo da Anahp, Vera acredita que a flexibilização das regras para troca de hospitais por unidades em municípios limitrofes e por uma multiplicidade de prestadores que garantam a soma dos serviços prestados será benéfica para o consumidor.

- Essas mudanças nos permitirão ter maior poder de negociação com os prestadores. Hoje quando se fala de um hospital que é considerado uma grife, não há como negociar, o preço está dado. Com mais flexibilidade, as operadoras ganham maior capacidade de negociar e isso na ponta reflete em preços menores para os consumidores.

Vera ainda destaca que é preciso avaliar  se preocupar com a qualidade prestada pelo  hospital e não apenas com a reputação:

- Apenas 8% dos prestadores são acreditados, o que é um indicador de qualidade. É preciso que se estabeleça critérios que permitam ao consumidor verificar se aquele hospital tem a qualidade que a reputação lhe confere, assim como se outra unidade sem tanto renome pode oferecer qualidade semelhante.

Na audiência pública a ANS explicou que a nova proposta é que a substituição por hospitais com classificação de qualidade seja feita em planos que mantinham unidades com essa qualificação, entendendo que 87% as regiões de saúde no país não tem unidades hospitalares com essas certificações. Ainda foi destacado que em casos de mudança na rede, o plano deverá manter ao menos uma unidade com qualificação.

Para Bruno Sobral, diretor executivo da Confederação Nacional de Saúde, Hospitais, Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde), os critérios de qualidade previsto pela ANS são insuficientes:

- Nós defendemos que com a exclusão de um hospital acreditado deveria ser obrigatória a inclusão de outro hospital com essa qualificação. Outra opção seria permitir o redesenho contrato, sem aquele hospital a ser ofertado ao consumidor com outro preço, outras condições. Da forma como foi posta a regra, facilitaa exclusão e substituição por unidades sem a mesma qualificação.

Serviços especializados

Na avaliação de Marcos Novais, superientendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge),  a questão geográfica não será um problema, pensando que boa parte dos usuários da saúde suplementar está concentrado nas capitais.

A Abramge, de fato, gostaria de regras ainda mais flexíveis, apesar de admitir que há um avanço com a proposta.

Novais  diz ainda que a oferta segmentada dos serviços oferecidos na substituição de um hospital geral é uma tendência que vem sendo estudada e que pode ser positiva:

- Ao desmembrar os serviços por hospitais ou serviços hospitalizados, além de reduzir riscos como de infecções, no caso de maternidade, ainda se pode prestar um serviço de ainda maior qualidade. Não vejo razão para os consumidores se preocuparem com isso.

O superintendente da Abramge defendeu ainda que sejam divulgados pelos hospitais indíces de infecção, de desfechos os atendimentos, tempo médio de atendimento em casos de emergência, assim como número de procedimentos realizados por especialidades.

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