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Nos próximos meses a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve fazer uma consulta pública para definir um novo padrão de rotulagem nutricional para os produtos alimentícios industrializados do País. Uma das propostas que será votada foi enviada à entidade pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e formulada em parceria com pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Segundo o Instituto, a ideia é oferecer informação clara, simples e compreensível sobre alimentos e bebidas, tendo em vista a dificuldade dos consumidores para entender os rótulos.
A principal mudança apresentada no modelo de rotulagem proposto é a inclusão de um selo de advertência na parte da frente da embalagem de alimentos processados e ultraprocessados para indicar quando há excesso de açúcar, sódio, gorduras totais e saturadas, além da presença de adoçante e gordura trans em qualquer quantidade, substância que já deveria ter sido banida do mercado nacional.
Os parâmetros do que será considerado ‘excessivo’ deverão seguir o modelo da Organização Panamericana da Saúde (OPAS, 2016), baseado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde. Os produtos que tiverem essa advertência não poderão apresentar informações que transmitam a ideia de que o alimento é saudável, nem utilizar comunicação mercadológica voltada ao público infantil, como personagens e desenhos. Os alimentos in natura ou minimamente processados que devem fazer parte de uma rotina alimentar equilibrada não terão nenhum tipo de advertência.
É claro que eu estou na torcida pela aprovação da proposta e pela rápida implementação das mudanças. Mas acredito que isso é só o primeiro passo para a melhora nos hábitos alimentares atuais. Muita gente precisa se conscientizar de que o paladar agradável, o baixo custo, a praticidade e o conforto que boa parte dos ultraprocessados oferece escondem diversos malefícios à saúde. É preciso entender por que o excesso de açúcar é prejudicial, assim como o excesso de sódio e de gordura, a presença de adoçantes e de outros aditivos químicos.
É necessário que se volte a associar aquilo que se come com o estado geral do organismo. Perceber que os alimentos que ingerimos, ou que deixamos de ingerir, serão definitivos para o nosso funcionamento e poderão nos ajudar a prevenir determinadas doenças ou serem responsável pelo aparecimento de muitos dos nossos males físicos, mentais e emocionais. Por exemplo, não é por acaso, que o número de pessoas com doenças crônicas não-transmissíveis, como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, entre tantas outras, cresce junto com o consumo dos ultraprocessados, que estão entre os seus agentes causadores.
Para que as novas embalagens surtam efeito é necessário que, ao se deparar com elas, as pessoas deixem de lado preconceitos muito comuns que envolvem uma alimentação considerada saudável. Boa parte dessa reação negativa vem da resistência em mudar de hábitos e abrir mão do prazer momentâneo que os alimentos de pior qualidade costumam oferecer. Uma maçã ou qualquer alimento in natura, não tem realçadores de sabor, açúcar ou sal em excesso, que irão deixar o paladar super estimulado. Um prato de arroz, feijão, legumes, salada, não trará uma enorme quantidade de gordura que rapidamente agrada ao cérebro.
A boa notícia é que o nosso paladar pode ser ‘educado’. Se passarmos um tempo longe destas substâncias nocivas que criam uma espécie de ‘camada’ na língua, ela irá diminuir cada vez mais, assim voltamos a ficar mais sensíveis aos sabores menos exacerbados, como os dos alimentos naturais. É possível aprender a sentir prazer e conforto com frutas, verduras, legumes, cereais e leguminosas, que serão fontes de momentos alegres a curto, médio e longo prazos, porque também serão fontes de mais saúde, diferentemente dos ultraprocessados que trarão o prazer a curto prazo e as consequências nocivas a médio e a longo prazos.