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Coronavírus: Covas reduz linhas e põe a população em risco

Prefeitura reduziu a oferta de ônibus para 40% do total. Ônibus lotados, expõe as pessoas a maior risco de contaminação pelo coronavírus

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Rede Brasil Atual

Atualizado: 

31/03/2020
Foto: Zé Barretta/iStock
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Reportagem orignalmente publicada em Rede Brasil Atual, em 30/03/2020

A redução na oferta de ônibus na capital paulista deixa a população que não pode parar de trabalhar em uma situação de risco desnecessária e contraditória com as medidas que o governo do prefeito Bruno Covas (PSDB) vem propondo para evitar a expansão da pandemia de coronavírus. Ônibus lotados aumentam o risco de disseminação do coronavírus.

Essa é a avaliação do ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, que considera que o sistema de transporte precisa ser mantido com boas condições para evitar a superlotação dos veículos. “Medidas de higiene e ventilação são importantes para prevenir a contaminação por coronavírus, mas não adiantam nada se os ônibus estiverem lotados”, explicou.

O governo Covas determinou a redução da oferta para cerce de 40% do total de ônibus da cidade. Na prática, o serviço terá o padrão adotado aos domingos, inclusive com algumas linhas deixando de operar, o que aumenta a demanda por outros trechos.

Nas linhas noturnas, haverá redução 430 para 211 veículos em operação. Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), a demanda por transporte está em 23% da média para os dias úteis, sobretudo devido à suspensão das aulas e fechamento de equipamentos públicos por conta da pandemia de coronavírus. A cidade está em quarentena desde a última terça-feira (24).

“Me parece uma decisão de caráter unicamente econômico, mas não é hora de pensar nisso. Grande parte dos trabalhadores da saúde, da segurança, dos mercados e outras áreas essenciais, seguem utilizando o transporte coletivo todos os dias. É preciso garantir que essas pessoas tenham distância umas das outras, porque os ônibus são um local crítico para transmissão do coronavírus”, observou Chioro. A capital paulista registrou hoje (30) 1.451 pessoas infectadas por coronavírus, com 98 mortes. No país, são 4.579 casos e 159 mortes.

O maior problema foi na zona leste da cidade, por exemplo, na linha 4311-10 Terminal São Mateus – Terminal Parque Dom Pedro II. “Está parecendo um dia normal, a lotação que costuma ter mesmo. Mas está demorando muito mais par vir o ônibus”, relatou o operador de caixa Henrique Gonçalves, que utiliza a linha todos os dias. Também houve relatos de problemas na zona sul da cidade, no Terminal Varginha. “Está demorando muito, então está lotando do mesmo jeito de sempre. Dizem que não pode ter aglomeração, isso aqui é o que?”, questionou a repositora Lourdes de Oliveira Batista, moradora do Jardim Varginha.

“Parece que a SPTrans teve alguns erros pontuais, mas que não deveriam ocorrer, já que ela detém o controle das informações de demanda. Essa redução da oferta em relação a redução da demanda não ocorre por igual em toda cidade”, afirma o pesquisador Rafael Calabria, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Idec aponta prejuízos

Segundo Calabria, a queda de um dia útil normal para um domingo normal é diferente, porque menos gente vai trabalhar. “O que estamos falando hoje é a mudança de um dia útil comum para um dia útil em pandemia, com alguns setores trabalhando. É uma mudança diferente. Não é simplesmente 23% para 40%, é um outro tipo de redução.”

O Idec encaminhou ofícios a diversos órgãos responsáveis pela política e pela fiscalização do funcionamento do transporte coletivo, alertando que a interrupção do transporte coletivo prejudica a população.

O instituto defende que seja garantido o acesso da população aos serviços essenciais e dos trabalhadores destes serviços aos seus locais de trabalho, o deslocamento das pessoas em situação de emergência ou que necessitam de atendimento médico e a segurança dos profissionais que atuam na prestação dos serviços de transportes e usuários do sistema em geral.

O instituto apoia o isolamento social como medida correta para a pandemia, mas isso não pode impedir quem necessita circular pela cidade e depende do transporte coletivo.

“O correto é atuar pela redução de deslocamento das pessoas suspendendo atividades econômicas e sociais, e dando alternativas de renda aos autônomos e outras pessoas que necessitam se deslocar para a manutenção da renda familiar”, completou Calabria.

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