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Biscoito ou bolacha? Tanto faz, tudo tem veneno

Coluna Cozinha Bruta, publicada na Folha de S.Paulo

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Folha de S.Paulo

Atualizado: 

15/06/2021
Ilustração: iStock
Ilustração: iStock

Coluna publicada do jornal Folha de S.Paulo, publicada em 04/06/2021

Das polêmicas cretinas da internet, poucas são tão estúpidas quanto a briga regional pelo alimento conhecido em alguns lugares como biscoito e, em outros, como bolacha. Qual seria o termo correto?

O bate-boca dos bolachistas com os biscoiteiros já pode acabar: tanto faz, é tudo veneno. Não sou eu quem diz, é o estudo “Tem Veneno Nesse Pacote”, divulgado na terça-feira (1/6) pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

O Idec submeteu 27 alimentos industrializados a análise laboratorial, a fim de detectar neles a presença de agrotóxicos. Do total de amostras, 59,3% apresentaram resíduos de defensivos agrícolas.

Todas as oito marcas de bolacha-biscoito testaram positivo para pelo menos três agrotóxicos distintos. São produtos campeões de vendas, fabricados por Mondeléz (Oreo e Trakinas), Nestlé (Bono e Negresco), Arcor (Triunfo), M Dias Branco (Vitarella e Zabet) e Marilan.

O objetivo do Idec foi investigar o teor de venenos agrícolas em comidas ultraprocessadas –submetidas a diversos processos fabris e feitas com substâncias de uso exclusivamente industrial. Além disso, tais petiscos e bebidas costumam pegar pesado em sal, açúcar e/ou gordura.

As outras categorias analisadas eram bebidas doces, salgadinhos e pães do tipo bisnaguinha. Quase tudo vem com vitamina XYZ e figuras fofas na embalagem, para atrair o público infantil.

Só os refrigerantes e os néctares de frutas tiveram todas as marcas (seis, no total) aprovadas no teste. Os resultados completos você encontra neste link.

O Idec selecionou alimentos à base de trigo, milho, soja e cana-de-açúcar. São commodities, cultivadas em escala gigantesca para abastecer a indústria e a pecuária. Já a Anvisa estipula limites máximos de agrotóxicos somente para frutas e hortaliças vendidas in natura para o consumo doméstico.

Isso cria o ponto-cego em que o estudo do Idec jogou alguma luz. Já sabíamos que os ultraprocessados não são saudáveis –e os fabricantes também, como mostram documentos internos da Nestlé que vieram à tona esta semana. Tínhamos, porém, pouquíssima informação sobre os venenos agrícolas que engolimos de lambuja nos podritos da vida.

O resultado da análise destrói o mito de que o processamento industrial elimina os resíduos agrícolas.

E atira outra batata quente no já conturbado embate entre a indústria e os defensores de uma alimentação mais natural. O fabricante de bolacha deve ser responsabilizado pelo agrotóxico de um insumo que ele já adquire processado, como farinha e açúcar?

Tendo a achar que sim, pois essas empresas –além das já mencionadas, testaram positivo produtos de Lactalis, Bimbo, Wickbold e Panco– têm mais dinheiro e maior acesso à tecnologia do que o Idec.

Se o Idec pode testar o alimento pronto, o fabricante pode testar insumos e eliminar fornecedores “sujos” – muito antes de entupir o supermercado com alimentos envenenados.

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