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Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 10/02/2021
Depois de se envolver em uma polêmica sobre o tema, no ano passado, o banco digital Nubank informou nesta quarta-feira, 10, que vai definir metas para reduzir a desigualdade racial em sua equipe, tanto em posições de entrada quanto em cargos de chefia. Segundo disse a companhia ao Estadão, o plano da companhia é garantir, em cinco anos, um ambiente de trabalho com um quadro geral de 30% de funcionários negros; em cargos de gerência, o índice desejado é de 22% até 2025.
Hoje, de acordo com a empresa, 23% de seus colaboradores são pretos ou pardos – conforme a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, enquanto entre nos cargos de chefia o porcentual é de 18%.
Para mudar de patamar, a instituição calcula que será necessária a contratação de aproximadamente 2 mil pessoas negras até 2025. Segundo Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, que se envolveu em uma polêmica ao dizer, durante entrevista no programa , da TV Cultura, que que seria difícil encontrar lideranças negras e que não se podia "nivelar por baixo ", o episódio serviu para abrir os olhos do banco digital sobre o tema.
"Com o episódio do nos demos conta que, apesar de termos diversidade como um valor ao longo da nossa história, tínhamos avançando pouco na pauta racial. Desde então, temos refletido sobre o quanto precisamos agir para combater as barreiras impostas pelo racismo estrutural, e ao mesmo tempo em que aceleramos ações que já estavam nos planos e nós também incluímos diversas outras para maximizar o nosso impacto", disse a executiva, em resposta enviada por e-mail à reportagem.
O Nubank disse ainda que a inclusão racial em suas contratações já vinha em trajetória crescente. "Em 2017, 19% das contratações eram de pessoas autodeclaradas pardas ou pretas. Em 2020, esse número foi de 27%. A expectativa é que 30% de todos os funcionários contratados até o final de 2021 sejam negros. Em 2025, esse número será de 37%", explicou o Nubank, em comunicado.
Nesta semana, o Estadão divulgou o índice socioambiental dos oito maiores bancos brasileiros em ativos totais, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Uma das críticas dos autores do estudo foi justamente a falta de diversidade da equipe dessas instituições. Entre as conclusões do Idec está a baixa representatividade feminina dos cargos de chefia e a total ausência de um censo do total de funcionários negros em cargos de gerência e auditoria.
Dentre as 2 mil contratações previstas até 2025, explicou o Nubank, mais de 500 serão destinadas ao time de engenharia, pelo menos 150 para vagas de analistas de negócios e mais de 250 para posições de gerentes de produto, designers e cientistas de dados. A empresa disse ainda que a realização do censo organizacional é parte de um plano de ação dedicado à questão do racismo estrutural, divulgado pela instituição em novembro de 2020, já na esteira da polêmica das declarções ao .
Diversidade como ferramenta de negócio
No e-mail enviado à reportagem, Cristina Junqueira também afirmou que, de maneira geral, a preocupação com diversidade acaba trazendo benefícios ao negócio: "Sempre acreditamos fortemente na diversidade e inclusão, não só porque sabemos que são ingredientes fundamentais de qualquer sociedade justa, produtiva e saudável, mas também porque é clara a vantagem competitiva de desenvolver produtos para todos os brasileiros, através de times que reflitam a pluralidade que encontramos na sociedade."
Sobre iniciativas como a do Magazine Luiza, que desenvolveu um programa de trainees voltado à correção da inequidade racial da companhia, e da gigante alemã Bayer, que anunciou trainee e mentoria exclusivas para candidatos negros, a executiva afirmou: "Esse é um problema complexo e de difícil solução, e nesse sentido é ótimo que mais e mais empresas encontrem a sua maneira de contribuir para um mercado de trabalho mais diverso e inclusivo."