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Alimentação [1]
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A relação entre as estratégias utilizadas pela indústria do tabaco e a indústria de alimentos não é uma novidade para pesquisadores e ativistas em saúde pública. Um relatório [2] da Universidade da Califórnia em São Francisco reforça ainda mais esta associação: nos anos 60, fabricantes de cigarros, proibidos de fazer publicidade desses produtos para crianças, empregaram seus conhecimentos em marketing para vender bebidas adoçadas a esse público.
Empresas de tabaco, como a Philip Morris e a R.J. Reynolds, adquiriram marcas de bebidas emblemáticas nos Estados Unidos, tais como Hawaiian Punch, Kool-Aid, Capri Sun e Tang, e usaram sua experiência com sabores e colorações artificiais, além de conhecimentos de marketing, para reforçar os atrativos dos produtos adquiridos.
A informação foi tema de reportagem [3] no jornal norte americano The New York Times, divulgada no Brasil [4] pelo jornal Folha de São Paulo.
De acordo com o periódico, usando sabores testados em crianças, personagens de quadrinhos, brinquedos e milhões de dólares em publicidade, as empresas criavam fidelidade a produtos com excesso de açúcar.
Publicado no último dia 15 de março, o relatório [2] faz parte do acervo digital conhecido como Truth Tobacco Industry Documents, criado como parte de um acordo entre as empresas de tabaco e representantes jurídicos de diversos estados americanos, após inúmeros processos que penalizaram as fabricantes.
“Esses documentos nos ajudam a compreender como as companhias de alimentos e bebidas, usando estratégia e táticas ardilosas, nos viciaram em produtos insalubres”, afirma Laura Schmidt, uma das autoras do estudo, à matéria do New York Times.
De acordo com Ana Paula Bortoletto, líder do Programa de Alimentação Saudável do Idec, o estudo também reforça a importância das medidas regulatórias para a restrição da publicidade de bebidas e outros produtos ultraprocessados, no mesmo sentido do que já foi realizado para o tabaco.
“No Brasil, as regras existentes também não são cumpridas, trazendo consequências graves para a saúde pública, como o aumento da obesidade infantil. As estratégias de marketing direcionadas para crianças são consideradas abusivas e, portanto, ilegais, segundo o Código de Defesa do Consumido”, explica.
Estratégias agressivas
Além de diversos testes realizados, algumas das estratégias para promover os produtos foram a criação de mascotes e o patrocínio a grandes fabricantes de brinquedos, ligas esportivas, estádios, parques temáticos e revistas - espaços propícios para influenciar o público infantil.
Um dos exemplos destacados é o do refresco Hawaiian Punch, que originariamente foi criado para ser uma mistura para coquetéis adultos e só tinha dois sabores. Após testes com crianças, a marca expandiu de dois sabores para pelo menos 16 sabores e 24 produtos.
Em um relatório interno da empresa, de 1985, o sucesso do produto é creditado a cientistas que haviam criado "uma fórmula para bebidas baseada no conhecimento de sabores que já produzimos ou já são parte de nossa biblioteca de sabores". O documento ainda afirma que o objetivo "é deixar as pessoas querendo mais".
A Philip Morris e a R.J. Reynolds não são mais proprietárias dessas marcas, mas os produtos e o marketing utilizado para criar fidelidade de crianças e jovens são usados até hoje.
“Já temos a comprovação de que tanto a indústria de alimentos quanto a do tabaco atuam com a mesma agressividade sobre as crianças, por isso devem ser tratados da mesma forma pelos órgãos responsáveis”, avalia Bortoletto.
Epidemia da obesidade
De acordo com um estudo publicado [5] na revista médica The Lancet, o número de crianças e adolescentes (de cinco a 19 anos) obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. Se as tendências atuais continuarem, haverá mais crianças e adolescentes com obesidade do que com desnutrição moderada e grave até 2022.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A organização também aponta que a redução do consumo de bebidas açucaradas é uma das principais medidas para reverter esse quadro.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil é o 4º consumidor de açúcar no mundo. Mais da metade dos adultos está com o peso acima do recomendado e 19% são considerados obesos.
“Relatórios como esse reforçam a necessidade de que medidas imediatas sejam tomadas para regular a publicidade de produtos que fazem mal à saúde e contribuem diretamente para o aumento da obesidade e de outras doenças crônicas não transmissíveis”, finaliza Bortoletto.
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