Iluminação sustentável
Saiba o que precisa mudar para que tenhamos um mercado de lâmpadas com maior eficiência energética e livre de mercúrio.
Que tipo de lâmpada você utiliza para iluminar a sua casa? Se você não respondeu LED é hora de entender porque essa tecnologia deve ser priorizada. Além de serem mais eficientes, as lâmpadas LED duram mais e emitem menos gases de efeito estufa. Além disso, não contêm mercúrio, que é um metal tóxico. "As lâmpadas LED são três vezes mais eficientes do que as lâmpadas fluorescentes compactas (LFC) e podem gerar uma economia de 43% para o consumidor brasileiro", compara Edilaine Camillo, assessora institucional da Collaborative Labeling and Appliance Standards Program (Clasp).
Mas você pode alegar que as LEDs são mais caras. Um estudo da Clean Lighting Coalition (CLiC), de 2021, mostra que não. No caso das lâmpadas em formato de bulbo, enquanto a unidade da LED custa, em média, R$ 8, a unidade da LFC custa R$ 11. Além disso, as primeiras duram muito mais (11 mil horas contra 6 mil horas) e consomem muito menos energia (9,9 kWh/ano contra 16,4 kWh/ano). Assim, em dez anos, quem usar as LFCs gastará R$ 137, enquanto quem optar pelas LEDs desembolsará R$ 79.
Estudo encomendado pela Clasp à Euromonitor corrobora esses dados. Ao avaliar o mercado brasileiro de iluminação em 2022, o trabalho mostrou que a iluminação LED representou 89% das vendas totais, e que até 2030 esse número deve chegar a 96%. "Todavia, as lâmpadas fluorescentes e halógenas ainda são vendidas no Brasil, e devem continuar presentes até 2030 se não houver uma mudança consistente na regulamentação", pontua Camillo.
REGULAMENTAÇÃO DEFICIENTE
Viabilizar a transição para um mercado de iluminação com maior eficiência energética e livre de mercúrio, priorizando o LED, significa superar barreiras importantes, a começar pela regulamentação. O primeiro problema é que o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), para lâmpadas LED e lâmpadas fluorescentes, abarcam somente 66% dos produtos vendidos no mercado brasileiro. "Produtos não regulamentados, como luminárias, refletores, fitas de LED e lâmpadas coloridas, vêm se tornando populares. Em 2022, foram vendidas 129 milhões de unidades desses itens", informa Camillo.
O segundo problema é que a regulamentação atual não permite que o consumidor identifique rapidamente, na hora da compra, qual o produto mais eficiente. Isso porque os critérios de eficiência energética são diferentes para lâmpadas fluorescentes e LED. Enquanto as primeiras possuem uma etiqueta classificatória, que indica de A a G qual a sua eficiência energética, as segundas têm uma etiqueta meramente informativa. "Quando o Inmetro coloca as faixas classificatórias nas fluorescentes, e nas LED não, ele pode induzir o consumidor a achar que a LED é menos eficiente do que a fluorescente, que geralmente recebe a classificação A, o que não é verdade", comenta Priscila Arruda, analista de pesquisa do Programa de Energia e Sustentabilidade do Idec.
POR QUE ESCOLHER LÂMPADAS LED?
Abaixo, listamos quatro vantagens das lâmpadas LED em relação às halógenas e fluorescentes compactas.
1) Eficiência energética: consomem até 90% menos energia do que as halógenas, resultando em grande economia na conta de luz ao longo do tempo;
2) Segurança: são mais seguras, pois não emitem calor, não contêm mercúrio e são mais resistentes à quebra;
3) Longevidade: se forem de boa qualidade, duram até 15 vezes mais do que as halógenas, o que significa menos tempo e dinheiro gastos com manutenção e substituição, menos desperdício e menos resíduos nos aterros sanitários, além de menos energia usada para a fabricação de novas lâmpadas;
4) Pegada de carbono: emitem menos gases de efeito estufa porque consomem menos energia para funcionar.
Marcelo A. Gadelha, analista executivo no Inmetro, explica que quando as Portarias nº 389/2014 e nº 144/2015 foram aprovadas, o mercado de iluminação para uso doméstico era dominado pelas LFCs. "A tecnologia LED, apesar de muito mais eficiente, ainda não possuía metodologia que permitisse uma diferenciação de faixas adequada. Se usássemos a classificação de A a E para LFCs e para LEDs naquela época, as LEDs com 100 lm/W e as LFCs com 25 lm/W seriam ambas classificadas como A. Ou seja, o consumidor seria induzido a achar que essas lâmpadas eram igualmente eficientes, sendo que as LEDs eram quatro vezes mais. Para resolver isso, deveria haver uma classificação de A a T, o que dificultaria a percepção do consumidor e desestimularia a compra", ele esclarece.
Para o Idec há, ainda, um terceiro problema, que é o fato de os níveis mínimos de eficiência energética no Brasil estarem desatualizados. As últimas revisões foram feitas em 2010 (LFCs) e 2014 (LEDs). "Quando o Brasil estabelece níveis de eficiência energética muito defasados em relação a outros países, ele acaba se tornando um destino de produtos menos eficientes. Se o Brasil adotar valores semelhantes aos dos membros da União Europeia, por exemplo, será mais fácil a indústria que atende a esse mercado destinar produtos mais eficientes ao Brasil com um custo reduzido, porque não será uma exigência pontual", acredita Arruda. Camillo concorda e acrescenta: "Vale lembrar que a imposição de índices mínimos de eficiência energética maiores do que os alcançados pelas lâmpadas fluorescentes e halógenas também pode contribuir para a exclusão desses produtos do mercado brasileiro".
O Inmetro reconhece que os requisitos, os ensaios e os procedimentos para controle dos produtos LED regulados precisam ser atualizados para acompanhar as mudanças do mercado. "O regulamento de 2014 trata apenas de lâmpadas LED de uso doméstico em formatos de bulbo ou tubo, as mais ofertadas no mercado. Mas a tecnologia LED progrediu, e novos produtos concorrentes surgiram, como lâmpadas inteligentes, luminárias e plafons", justifica Gadelha.
MUDANÇAS NECESSÁRIAS
Para o Idec e a Clasp, a regulamentação brasileira para produtos de iluminação precisa ser aprimorada e atualizada rapidamente, a fim de limitar a importação de produtos ineficientes e de baixa qualidade. "É urgente que haja uma regulamentação unificada para todos os tipos de lâmpada, incluindo os produtos não contemplados atualmente, como luminárias. Além disso, os mecanismos e testes para controle dos produtos disponibilizados no mercado devem ser aperfeiçoados, assim como as informações contidas nas embalagens, para que os consumidores possam facilmente interpretá-las", defende Camillo, da Clasp. Arruda, do Idec, acrescenta que a avaliação e a revisão da etiquetagem para produtos de iluminação deveria ser feita a cada dois anos, de forma transparente e com participação social.
"O processo de transição para o mercado de LED deve ser feito via política pública. Não deve ser uma responsabilidade jogada exclusivamente nas costas do consumidor. Por isso, é importante pressionar o Inmetro e o Ministério de Minas e Energia, o que o Idec já está fazendo, para que promovam avanços na eficiência energética de lâmpadas e luminárias", conclui Arruda.
Em fevereiro de 2022, o Inmetro iniciou a Análise de Impacto Regulatório (AIR) do regulamento de lâmpadas LED e está trabalhando, com assistência da Clasp e acompanhamento do Idec, na documentação necessária para submeter uma nova proposta de regulamentação à consulta pública. "Pretendemos submeter a AIR à consulta pública até o fim do ano, assim como a minuta do novo regulamento", adianta Gadelha. Para ele, o Brasil não está parado em relação ao tema. "Acreditamos que em breve o regulamento brasileiro para lâmpadas e luminárias LED estará alinhado aos melhores regulamentos praticados atualmente", ele afirma.
COMO FAZER A MELHOR ESCOLHA
Em outubro, o Idec lançou o Guia prático de compra de lâmpadas. Nele, o Instituto recomenda que, na hora da compra, o consumidor dê preferência a lâmpadas de marcas consolidadas no mercado e que tenham o selo do Inmetro na embalagem, pois ele garante que os produtos passaram por testes de desempenho energético e segurança elétrica. Além disso, é fundamental ler as informações da embalagem e da etiqueta de eficiência energética, presente nas lâmpadas fluorescentes e LED.
Apesar de apenas as LFCs possuírem classificação por faixas de desempenho, é possível comparar esse tipo de lâmpada com as LEDs considerando as demais informações (veja abaixo).
Saiba mais
Guia prático de compra de lâmpadas: https://idec.org.br/lampadas-led