Plataforma Comida de Verdade
A plataforma Comida de Verdade, do Idec, tem conectado quem vende alimentos saudáveis e sustentáveis e quem quer comprá-los, contribuindo para diminuir os impactos da pandemia de Covid-19 na agricultura familiar
A pandemia do novo coronavírus impactou economicamente o mundo todo – difícil encontrar um setor que não tenha sido afetado. No Brasil, um deles é o da agricultura familiar. Com o isolamento social, pequenos agricultores passaram a enfrentar um problema: o que fazer com tanto alimento? "Muitos desses produtores rurais vendem o que plantam para escolas ou em feiras livres. Com a paralisação das aulas e a suspensão das feiras em muitas cidades, eles não tinham para onde escoar o que cultivavam em suas terras", afirma Rafael Arantes, nutricionista do Idec.
Surgiu, então, a ideia de aproximar esses agricultores das pessoas interessadas em comprar alimentos saudáveis e produzidos de forma sustentável. "Emergencialmente, criamos a plataforma Comida de Verdade, que faz parte do Mapa de Feiras Orgânicas, que já existe desde 2015", conta Arantes, completando: "É uma ferramenta prática e pontual [vai funcionar enquanto durar a pandemia]".
Na página Comida de Verdade, os internautas encontram cerca de 470 iniciativas que vendem predominantemente alimentos in natura ou minimamente processados em todo o Brasil. Ela é superfácil de usar, basta digitar a sua cidade no campo de busca. Ao clicar nas opções listadas, você encontrará informações como endereço, telefone para contato, horário de funcionamento, alimentos comercializados, endereço da rede social, se houver, entre outras.
FOI PRECISO SE ADAPTAR
Pedimos para os agricultores cadastrados na plataforma responderem a algumas perguntas a fim de conhecermos o real impacto da pandemia na agricultura familiar. Recebemos aproximadamente 347 respostas. Uma das questões era: "Teve algum tipo de dificuldade para comercializar seus produtos em função do coronavírus?". A maioria afirmou que teve um pouco de dificuldade (36,7%); 27,8% enfrentaram muita dificuldade; 10,6% não tiveram problema e 25% viram as vendas aumentarem.
Algumas das dificuldades foram diminuição da mão de obra em função do isolamento social e mudanças no planejamento da produção para atender às novas formas de comercialização. Outro desafio foi adaptar a forma de comercialização, pois muitos produtores não ofereciam serviço de entrega. Mais de 70% das iniciativas informaram que estão fazendo delivery mediante encomenda. É o caso do Instituto Feira Livre, um armazém localizado no centro de São Paulo (SP), onde é possível encontrar alimentos de cerca de 250 produtores. "Tivemos de aprender como fazer entregas. No começo, nós mesmos entregávamos, de carro. Depois passamos a contar com um parceiro que tem uma Kombi. Montamos os kits, e ele distribui", relata Fabrício Muriana Area, associado do Instituto Feira Livre. Segundo Area, por conta das entregas, os rendimentos já estão acima dos do ano passado, enquanto a frequência na loja física caiu pela metade por conta do isolamento social. "Mais da metade dos clientes que pedem delivery são novos e muitos deles comentaram com a gente que nos descobriram por meio de reportagens na mídia ou da plataforma Comida de Verdade", ele informa.
Por enquanto, os pedidos são realizados numa lojinha improvisada no site do Feira Livre, mas isso há de mudar, pois receberam um aporte da Agência São Paulo de Desenvolvimento (Ade Sampa) para criar uma plataforma de comercialização que poderá ser usada por outros Institutos, como o Baru e o Chão, entre outros. Area explica que, com essa plataforma, haverá sincronia entre estoque e produtos ofertados, o que não ocorre hoje (pode ser que algo que consta do e-commerce não esteja disponível). Além disso, eles poderão exercer a transparência, uma de suas marcas registradas, informando, além do valor final, o quanto pagam para os agricultores, além dos custos para manter o Feira Livre.
MUITO MAIS DO QUE MEROS CONSUMIDORES
A Fazenda Malabar, localizada em Itatiba, interior de São Paulo, viu sua receita cair, porque deixou de entregar em São Paulo (SP). "Mas os custos também foram reduzidos", destaca a cofundadora Flavia Alterfender Santos. Agora, o delivery de cestas orgânicas com produtos sazonais é feito apenas em Itatiba e Campinas (SP). "Optamos por um comércio mais local, que é no que acreditamos", ela complementa.
Além de comercializar cestas, a Fazenda Malabar está se preparando para oferecer ações educativas, como cursos, vivências e consultorias. "Queremos que as pessoas entendam que o alimento não é apenas um produto, a agricultura é um serviço. Para isso, estamos trabalhando para propor um modelo em que os consumidores se comprometam conosco por seis meses ou um ano, pois esse é o ciclo da terra. Nossa ideia é envolver as pessoas para que elas sejam mais do que meras consumidoras", explica Santos.
Hoje, a Malabar trabalha com assinaturas mensais inspiradas no modelo Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA). "Com o apoio mensal, nós, que produzimos o alimento, ficamos tranquilos, pois sabemos que não faltarão recursos, mas também não haverá desperdício", declara a cofundadora.
AGRICULTORES SOLIDÁRIOS
Logo no início da pandemia no Brasil, um grupo de pessoas – dentre elas integrantes da Fazenda Malabar – percebeu que muitos produtores que vendiam alimentos para escolas por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) ficariam com mercadorias paradas por conta da suspensão das aulas por tempo indeterminado. Além disso, com a crise financeira se agravando e o número de desempregados crescendo, muita gente teria dificuldade para comprar comida. Foi para ajudar essas duas pontas da cadeia alimentar que a Pertim foi criada.
As cestas compostas de alimentos cultivados por pequenos agricultores de Jaguariúna, Itatiba e Morungaba, cidades do interior de São Paulo, são doadas na Brasilândia, bairro da periferia de São Paulo (SP), e na comunidade Menino Chorão, em Campinas (SP). Para comprar as frutas, as verduras, as raízes e os legumes que compõem o kit, a Pertim recebe doações em dinheiro de cidadãos e empresas e também vende uma cesta de orgânicos batizada de Hobin Hood para moradores de São Paulo (SP) e Jundiaí (SP). "A cada duas cestas vendidas, doamos uma para uma família de quatro a seis pessoas. Nossa meta é vender 100 cestas por semana e entregar 75 cestas para pessoas vulneráveis", diz Bianca Riet Villanova, membro da Pertim.
Paralelamente, a Pertim está investindo em ações para promover a autonomia de algumas comunidades. "Começamos a plantar uma horta na Menino Chorão, que é liderada por mulheres, para que os moradores não dependam de doação. E queremos fazer isso em outros locais", conta Villanova. E é assim, com boas ideias e união de forças, que agricultores familiares têm se reinventado e seguido em frente.
Saiba mais
- Comida de Verdade: https://bit.ly/2VOuHv8
- Instituto Feira Livre: https://bit.ly/32q5Tgk
- Fazenda Malabar: https://bit.ly/2YzI3xy
- Pertim: https://bit.ly/2FTxTkE