Desconto invertido
Entenda como funcionam os programas de cashback e saiba quais cuidados tomar antes de aderir
Em época de vacas magras, a ideia de fazer compras e receber parte do dinheiro gasto de volta tem atraído muitos consumidores. Essa é a premissa dos sites de cashback (em português, dinheiro de volta), muito comuns nos Estados Unidos e que vêm conquistando os brasileiros na última década. "O cashback é um desconto invertido. Em vez de você pagar menos por um produto, você recupera determinada porcentagem do preço – geralmente baixa, entre 1% e 20%", define Ione Amorim, economista do Idec e coordenadora do programa Serviços Financeiros.
E qual a diferença para os já conhecidos programas de milhagem? No caso do cashback, o consumidor não acumula pontos, o dinheiro é depositado em sua conta corrente (e esse bônus não expira). Para isso, é preciso se cadastrar em um dos muitos sites/aplicativos disponíveis no mercado e fazer compras em lojas parceiras.
A consultora de finanças pessoais Evelin Bonfim é usuária de um programa de cashback e o indica para suas clientes, mas sempre deixando muito claro que eles só valem a pena se a pessoa já tiver a intenção de comprar o produto. "Adquirir algo de que você não precisa só por causa do cashback não faz sentido, é errado", ela afirma.
As empresas costumam estabelecer um teto para que o dinheiro possa ser resgatado. E é aí que mora o perigo. Para alcançar esse valor, é fácil cair na tentação de comprar coisas desnecessárias. "O que as pessoas não pensam é que o dinheiro do cashback elas vão receber lá no futuro, mas o produto ela precisa pagar na hora, e isso pode comprometer o orçamento dela", diz Bonfim. Para Amorim, do Idec, que se preocupa com o consumo por impulso, o cashback pode ser uma boa ferramenta para pessoas com autocontrole e tempo para pesquisar em várias lojas e avaliar se vale a pena comprar na que tem o programa de devolução de dinheiro. Para quem tem preguiça de fazer pesquisa de preços, a consultora de finanças dá seu recado: "Pesquisar não dá trabalho quando você compra pouco, só o que precisa e com consciência. Quem acompanha o preço do que pretende adquirir sempre vai fazer bom negócio, com ou sem cashback".
DE OLHO NOS DIREITOS DO CONSUMIDOR
As empresas de cashback não são entidades filantrópicas que saem distribuindo dinheiro por aí. Ao redirecionar o internauta para um site ou uma loja física parceira, elas ganham uma comissão. E é essa comissão que é "dividida" com os clientes.
O Idec alerta para a importância de o consumidor se informar sobre todas as regras impostas pelas empresas que oferecem cashback. "Há relatos de cobrança por adesão, cobrança por inatividade, prazos longos para pagamento, não registro da compra, descredenciamento de lojas parceiras etc.", conta a economista do Idec. Ela informa, ainda, que essas empresas precisam respeitar o Código de Defesa do Consumidor, por atuarem como intermediárias entre consumidor e fornecedor. "Se uma compra não for computada no programa ou houver atraso para a devolução do dinheiro há descomprimento de oferta, conforme o artigo 35", exemplifica.
Outra questão que merece a atenção dos usuários é o compartilhamento de dados cadastrados. "É muito provável que as informações sejam compartilhadas com os parceiros. O consumidor precisa ter ciência disso. Ou seja, a política de privacidade de dados precisa estar no contrato", adverte Amorim.
CASHBACK E CARTÃO DE CRÉDITO, NADA A VER
Bancos e financeiras também entraram na onda do cashback. Nesse caso, a porcentagem devolvida depende do valor da fatura: quanto mais a pessoa gasta, mais ela recebe. "Cashback em cartão de crédito é perigosíssimo", declara Amorim, lembrando que essa modalidade de pagamento é a vilã do superendidamento dos brasileiros. Bonfim concorda: "Eu prefiro quando precisamos resgatar o dinheiro e ele cai na nossa conta, porque ficamos mais responsáveis. Quando cai uns 'centavinhos' no cartão de crédito vira uma bagunça", ela opina. "É preciso ter muita maturidade para lidar com cartão de crédito, estabelecer um limite e não ultrapassá-lo. Aí, o bônus que você receber é lucro", ela complementa.
ATENÇÃO
Veja algumas dicas para usar os programas de cashback
- Pesquise o valor do produto desejado em várias lojas, online e físicas, pois nem sempre a que oferece cashback tem o melhor preço;
- Leia com atenção as condições impostas pela empresa que oferece o programa de cashback. As informações devem ser claras e adequadas, como determina o artigo 6o, III, do Código de Defesa do Consumidor (CDC);
- Verifique o percentual que será devolvido;
- Prefira programas que devolvem dinheiro aos que dão desconto na aquisição de novas mercadorias, pois estes últimos incentivam ainda mais o consumo;
- Se você tende a comprar por impulso, evite esse tipo de programa.