Beleza tóxica
PESQUISAS BRASILEIRAS
No ano passado, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgaram um estudo que detectou níveis elevados de um corante com potencial cancerígeno em três de nove esmaltes analisados. "Contemplamos tanto marcas nacionais quanto internacionais, todas disponíveis no Brasil", conta o farmacêutico Diogo Noin de Oliveira, responsável pela pesquisa.
Também foram analisadas amostras de batons e lápis de olho. Um dos batons oxidou antes de atingir seu prazo de validade e um dos lápis de olho, vencido, apresentou substâncias que poderiam provocar alergias ou infecções.
Já uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicada em 2012, revelou a presença de chumbo em batons. Das 22 marcas avaliadas, apenas uma, importada, não estava contaminada. "O chumbo é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos elementos químicos mais perigosos à saúde humana e seus efeitos nocivos são conhecidos desde os tempos antigos", escreve a química Aline Rodrigues Soares na publicação. "Os principais efeitos adversos são vistos no sistema nervoso central, na medula óssea e nos rins". Anemia, cefaleia, perda de memória e deficiência renal estão entre as principais consequências da intoxicação por chumbo.
SAIBA MAIS
• Cartilha de cosméticos infantis, da Anvisa: goo.gl/RR3isG
• Cuidados e orientações na compra e no uso de cosméticos, da Anvisa: goo.gl/aYuDEM
• Campanha por Cosméticos Seguros: safecosmetics.org (em inglês)
• Grupo de Trabalho Ambiental: goo.gl/giiAT (em inglês)PRESSÃO POR MUDANÇAS
A americana Annie Leonard, especialista em saúde ambiental, autora do livro A história das coisas e da série de vídeos homônima, afirma que os produtos cuja função é mudar a forma ou a cor do cabelo (alisantes e tinturas, por exemplo) são os maiores vilões, na lista de cosméticos com substâncias mais perigosas. Mas nem os bebês estão a salvo: segundo a autora, muitos xampus infantis contêm um carcinógeno chamado 1,4 dioxano, substância também presente na maioria dos xampus para adultos, frequentemente oculto sob o nome lauril éter (ou laureth) sulfato de sódio.
Em janeiro, a gigante Johnson & Johnson anunciou que, após dois anos de pesquisa, está retirando de seu famoso xampu infantil "Chega de lágrimas" o 1,4 dioxano e o quartenium-15, ambos com potencial cancerígeno. O alcance da alteração é mundial, embora o produto europeu já não contivesse esses ingredientes.
Outras grandes empresas também se movimentam frente aos questionamentos de grupos de consumidores e cientistas no exterior – infelizmente, ainda inexistentes no Brasil. O Walmart anunciou no ano passado que planeja pedir que seus fornecedores reduzam ou eliminem uma lista de dez substâncias químicas de seus produtos. E a Procter & Gamble se comprometeu a banir de seus artigos os ftalatos e o triclosan, ingredientes cuja segurança é posta em xeque por entidades como a Environmental Working Group (EWG, Grupo de Trabalho Ambiental), nos Estados Unidos.
A indústria costuma responder que os produtos contêm níveis muito baixos dessas substâncias tóxicas, e que não causariam nenhum dano a quem os utilize. "O problema é que a maioria das pessoas está sendo exposta a somas de químicos perigosos todos os dias – dos produtos de cuidados pessoais a muitas outras fontes", alerta a Campanha por Cosméticos Seguros.
É possível fazer escolhas mais seguras na hora de comprar produtos de higiene pessoal e cosméticos. Aqui estão algumas dicas:
• Prefira produtos com listas de ingredientes mais simples e "naturais", como manteiga de karitê, óleo de amêndoas etc. e com menos substâncias químicas sintéticas;
• Pergunte a si mesmo se realmente precisa daquele produto: desejo me expor a mais esses químicos?
• Use menos produtos no geral;
Não confie cegamente em termos como "puro", "natural" ou "orgânico", pois não há regras oficiais para essas alegações.
Produtos de higiene pessoal e cosméticos podem conter substâncias prejudiciais à saúde do consumidor. Veja quais são os principais "vilões" e como evitá-los
Riscos à saúde é o que as pessoas menos esperam ao lavar as mãos ou passar um batom. No entanto, alguns artigos de higiene pessoal e cosméticos podem ter componentes inseguros. Segundo a coalizão norte-americana Campaign for Safe Cosmetics (Campanha por Cosméticos Seguros), um em cada cinco desses produtos contém substâncias relacionadas ao câncer. Além disso, 80% deles possuem ingredientes que podem apresentar alguma contaminação perigosa (como metais pesados); e 56% apresentam ingredientes que estimulam sua penetração, levando-os para camadas mais profundas da pele. Mas como identificar essas substâncias nos produtos usados no dia a dia?
Além de ter uma vista muito boa para enxergar as letrinhas no rótulo do xampu ou do creme hidratante, o consumidor tem que ter uma paciência de Jó para identificar tantos nomes estranhos que, ainda por cima, estão em inglês. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a nomenclatura internacional é adotada para unificar a informação, pois existem mais de 12 mil ingredientes usados em cosméticos, e muitos deles possuem mais de um nome comercial. "Essa classificação permite que o consumidor identifique os ingredientes em qualquer lugar do mundo", justifica a agência, por meio de sua assessoria de imprensa. Contudo, segundo o artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor, todas as informações sobre um produto devem estar em bom e claro português, inclusive quando se trata de sua composição. Assim, segundo a advogada do Idec Mariana Alves Tornero, os artigos vendidos no Brasil deveriam apresentar as informações em língua portuguesa também. "O uso exclusivo da nomenclatura internacional viola o direito à informação do consumidor brasileiro", critica.
Quem quiser buscar produtos de higiene e cosméticos que lhe apresentem menos riscos, terá, sim, um trabalho árduo pela frente – considerando os nomes complicados, as letras pequenas e o idioma dos componentes. Para ajudar, listamos os principais componentes a serem evitados nesses produtos. Confira, abaixo, no quadro "De olho nos rótulos".
Embora trabalhoso, identificar componentes suspeitos na lista dos produtos é importante também para cobrar mudanças por parte dos fabricantes e contribuir para que produtos mais seguros estejam disponíveis nas prateleiras dos supermercados e drogarias. O Brasil é o terceiro maior mercado de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, segundo a pesquisa do Euromonitor de 2012, ano em que movimentou 42 bilhões de dólares no setor. Assim, a indústria deve estar atenta aos interesses dos consumidores no país.
Veja alguns componentes a se evitar nos cosméticos, de acordo com a organização americana Environmental Working Group (Grupo de Trabalho em Meio Ambiente). Procure-os no rótulo! Os nomes estão em inglês porque é assim que, infelizmente, eles aparecem nas embalagens.
• Bronopol, DMDM hydantoin, Diazolidinyl urea, Imidzaolidinyl urea e Quartenium-15: conservantes que geram formaldeído, um conhecido composto carcinogênico. Podem provocar alergias. São usados em alguns lenços umedecidos para bebês, por exemplo.
• Fragrance: a fragrância, também indicada às vezes em inglês, é usada no xampu, no desodorante, no hidratante e em milhares de outros produtos. O problema é que não sabemos o que há por trás desse nome, pois as empresas não são obrigadas a informar. Está entre as maiores causas de alergia e pode provocar alterações hormonais. Compre artigos sem fragrância sempre que possível.
• Paraben: presente em uma infinidade de produtos, essa classe de conservantes imita a ação do hormônio feminino estrogênio. Pode afetar o sistema endócrino e causar problemas de reprodução ou desenvolvimento.
• Triclosan e Triclocarban: antimicrobianos encontrados em sabonetes e muitos outros produtos, tóxicos para o ambiente aquático. O triclosan também atrapalha o bom funcionamento da tireoide, assim como dos hormônios reprodutivos.
• Vitamina A (retinyl palmitate, retinyl acetate, retinol): estudos mostram que pode aumentar a sensibilidade da pele exposta ao sol, ao transformar a vitamina A em radicais livres tóxicos. Essas substâncias são muito usadas em protetores solares, hidratantes, produtos labiais e maquiagem.