Hora da decisão
Escolher a escola dos filhos requer dedicação. Confira as dicas de educadores sobre quais critérios levar em conta na hora de decidir entre um colégio e outro
A matrícula em uma escola é um passo importante para pais e filhos. É nesse momento que se inicia uma relação que pode durar anos e que, espera-se, traga os melhores frutos: uma educação plena, capaz de qualificar os pequenos para encarar os desafios de um mundo cada vez mais competitivo e em constante transformação.
Quem tem filho em idade escolar já está envolvido com esse assunto até o pescoço, afinal é no fim de um ano letivo que se começa a pensar e a agir em relação ao próximo. O casal Maurício e Cristina Magro, de São Paulo (SP), vem lidando com essa questão há algum tempo, pesquisando e visitando escolas para matricular a filha Lara, que, em 2014, fará a transição do 9o ano para o Ensino Médio. "Decidimos mudá-la de escola porque queremos reforçar o ensino, ajudando-a a se preparar para o vestibular", comenta o pai.
Apesar da preocupação com o ingresso na universidade, o casal não gostaria de romper completamente com a formação humanista que vem sendo oferecida à filha desde os primeiros anos escolares. "O colégio em que ela estudou até agora tinha essa proposta, de preparar para a vida, desenvolver valores e senso crítico", conta Cristina. Assim, o que eles buscam é uma instituição que combine uma proposta humanista com um ensino sólido, com bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A educadora Cláudia Cafarella esclarece que não existe uma escola ideal para todos. "A escola certa é aquela que responde às expectativas dos alunos e dos pais", diz a coordenadora geral do Colégio Objetivo da Baixada Santista. Segundo Aurora Joly Penna Mariotti, professora de pedagogia e de música-licenciatura na Universidade Metodista de Piracicaba (SP), para escolher o colégio, os pais devem refletir sobre o que esperam da instituição, o que eles acreditam que seja uma boa escola e qual será o papel da família nessa relação, ou seja, o quanto ela vai participar no dia a dia escolar. "Essas questões poderão desencadear o diálogo com a coordenação, e a decisão acabará ocorrendo com base na identificação com a instituição visitada", defende Mariotti.
Superada essa fase mais reflexiva, o próximo passo é avaliar a metodologia de ensino e a forma de avaliação, bem como os valores com que a escola trabalha. Também é válido investigar se a escola faz o estilo mais linha-dura ou democrático, e qual deles combina mais com a sua maneira de educar e com a personalidade da criança.
Veja dicas do que levar em conta na escolha do colégio em cada etapa da vida escolar dos filhos.
• A maioria das famílias gostaria de ver os filhos estudando por muitos anos em uma mesma escola. A continuidade é positiva, porém, procure saber que ferramenta a escola usa para medir o desenvolvimento da criança ao longo dos anos.
• O estudo do meio – saídas e passeios com vistas no aprendizado – é um recurso didático bastante utilizado hoje pelas escolas para aprofundar o conteúdo trabalhado em sala de aula. Informe-se como esses passeios ou viagens são organizados, para que não virem puro turismo.
• O material didático adotado também merece atenção dos pais. Vale analisar a sua atualidade, o preço e de que forma ele é complementado. Verifique também a lista dos livros paradidáticos solicitados.
• Conversar com pessoas que têm filhos na mesma escola traz uma dose extra de confiança.
• Considere as percepções do seu filho, afinal, o processo de adaptação na escola nova será primordialmente dele.
BERÇÁRIO E EDUCAÇÃO INFANTIL
Na mochila, em vez de livros, fraldas; na lancheira, mamadeira. O mercado de trabalho e as recentes descobertas da educação infantil têm levado os pais a matricular os seus filhos cada vez mais cedo na escola. E, se a escolha da instituição representa uma decisão complexa para os pais em geral, imagine para aqueles que vivem a experiência pela primeira vez. Esse é o caso dos papais de primeira viagem João Lúcio e Fabiana de Azevedo, da capital paulista. Há dois meses, o casal vem procurando um berçário para o pequeno Gabriel que, quando do início do ano letivo, em fevereiro, terá completado o seu primeiro ano de vida. "Visitamos oito escolas, até que encontramos uma que atendeu às nossas expectativas", afirma Fabiana.
Empenhado em fazer a melhor escolha, o casal informou-se sobre o assunto e seguiu cada etapa do processo: pesquisou escolas na internet, visitou as que julgou mais interessantes e listou os detalhes principais a serem observados, como a proximidade da escola com a residência, segurança e características do espaço físico. "Além do espaço amplo e limpo, o berçário que escolhemos tem um número menor de bebês por profissional em comparação a outros da região", comenta a mãe de Gabriel.
De acordo com a educadora Mariotti, é importante que escolas voltadas para essa fase do desenvolvimento também informem os pais sobre a rotina dos pequenos, como o tempo destinado às brincadeiras e às atividades dirigidas.
• Questione sobre como a escola orienta o processo de retirada da fralda, chupeta e mamadeira.
• Indague sobre a formação dos professores e se eles têm especialização em educação infantil.
ENSINO FUNDAMENTAL I E II
Diante de uma infinidade de questões a serem observadas pelos pais nessa fase, duas vêm à frente: a proposta pedagógica da escola — que é a identidade da instituição, e revela tanto a sua linha de ensino quanto os meios utilizados para alcançar os resultados previstos —, e a maneira como os valores são trabalhados e se eles estão de acordo com os da família.
A forma de avaliação dos alunos pela escola também pode permear a conversa dos pais com a coordenação. Algumas avaliam de modo bem objetivo (notas das provas), outras levam em conta também a participação em aula e a lição de casa.
• O atual 1º ano do Ensino Fundamental I é o antigo "Pré". Portanto, a criança ainda precisa de uma perspectiva lúdica em seu processo de aprendizagem.
• Informe-se também sobre a recuperação escolar. Caso a criança tenha alguma dificuldade no aprendizado, de que forma a escola irá ajudá-la? O colégio promove aula de reforço? E plantão de dúvidas?
ENSINO MÉDIO
O Ensino Médio é uma extensão do Fundamental, porém, com uma preocupação mais evidente: o vestibular e o Enem. Muitos pais avaliam a possibilidade de trocar os filhos de colégio nessa fase, e o principal critério de decisão acaba sendo a posição da instituição no ranking do Enem. O ranking é, sim, um bom critério, mas não deve ser o único. Os pais também precisam verificar como é a preparação em termos emocionais e psicológicos.
Educadores alertam para o perigo de se criar uma neurose exagerada nessa fase, em função da cobrança pelo bom desempenho nos exames. Claudia Cafarella acredita que, mesmo com esse foco definido, as escolas podem dar continuidade a um ensino humanista, que, acima de tudo, prepara para a vida. "Sabemos que o mercado de trabalho é competitivo, mas vai se destacar o aluno mais bem preparado em todos os campos, com múltiplas inteligências", acredita.
Depois de visitar alguns colégios na capital paulista, todos classificados entre os dez melhores no Enem, o casal Maurício e Cristina acabou formando uma visão parecida com a da educadora. Eles conheceram uma escola com uma proposta mais radical de preparação para o vestibular e outra com uma visão mais abrangente, que favorece, inclusive, o apoio dos alunos a obras assistenciais. Estão propensos a matricular a filha Lara nesta última opção. "Acreditamos que seria uma continuidade ao modelo anterior", conclui Cristina. A filha aprova a decisão.
• Procure saber se a escola oferece atendimento com psicólogos ou orientação vocacional.
• A realização de simulados rotineiros também é útil no período preparatório, pois ajuda o aluno a controlar a ansiedade e a organizar o tempo de prova.