Lar, verde lar
Conheça algumas alternativas que fazem toda a diferença na construção ou na reforma de um imóvel para que ele seja mais sustentável e diminua o impacto causado ao meio ambiente
Foi em 2008 que a arquiteta e urbanista Marcia Mikai decidiu fazer uma revolução em casa e reformar completamente o seu imóvel, que fora construído já havia 45 anos e não tinha passado por nenhuma melhoria até então. O foco do projeto, ela sabia desde o início das obras: trazer para o ambiente conforto e eficiência energética. "Sempre me envolvi muito com questões de sustentabilidade e não tive dúvidas ao dar esse grande passo", conta a arquiteta paulistana, membro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), órgão formado por profissionais de diversas áreas que visa a inserir a responsabilidade socioambiental no setor da construção civil.
De acordo com Marcio Pereira, químico e diretor executivo da Ecocasa, empresa responsável pelas transformações no imóvel da arquiteta, tanto uma nova construção quanto a reforma de um projeto antigo podem ser sustentáveis, desde que sejam bem planejadas, inclusive do ponto de vista financeiro. "A análise da viabilidade econômica dever ser abrangente. Mas acreditamos, também, que a obra deve ser financeiramente possível para ser sustentável", afirma Pereira. "A ideia é que todos que buscam essas alternativas possam recuperar o investimento [a mais do que seria gasto numa obra 'normal'] dentro de um prazo razoável. Isso sem contar com a contribuição para a preservação do meio ambiente, que tem valor intangível", completa.
Na casa de Marcia, as portas, os resíduos metálicos e os materiais de plásticos foram cuidadosamente retirados durante a demolição e destinados para instituições de caridade ou para reciclagem. Parte do entulho foi utilizada para a construção do muro da fachada, e o telhado foi pintado com cores claras a fim de minimizar o calor. Além disso, foram instalados sistemas de aquecimento de água por energia solar e de captação da chuva, para reaproveitamento no abastecimento das bacias sanitárias e na rega do jardim. "Ficou melhor do que esperava. O espaço ficou bonito e harmônico, e a economia financeira e de recursos naturais tem sido muito positiva", diz ela. Os gastos mensais com água e luz foram reduzidos em 30%, e o consumo de água diminuiu em aproximadamente 20%.
No entanto, a arquiteta revela que o processo não foi um mar de rosas. "A reforma exigiu paciência, pois levou bastante tempo para ficar pronta. Mas para mim foi vantajoso, porque já tinha planejado mexer na casa toda", conta. Às vezes, no entanto, as soluções podem ser mais simples do que parecem.
De acordo com o Conselho Internacional da Construção, o setor é o que mais consome recursos naturais e energia de maneira intensiva. Além disso, construção civil é responsável pela geração de enorme quantidade de resíduos sólidos. O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), aponta que o Brasil acumulou 60,9 milhões de toneladas de lixo em 2010, o que representa um aumento de 6,8% em relação ao ano anterior.
PEQUENAS AÇÕES, GRANDES REVOLUÇÕES
Na reforma de sua casa, Marcia não se ateve apenas às grandes transformações. Ela também investiu em pequenas mudanças que podem fazer toda a diferença para tornar o imóvel mais sustentável. Entre as ações mais simples, a arquiteta substituiu as válvulas de descarga dos vasos sanitários por modelos de duplo acionamento (para dejetos sólidos e líquidos), trocou as lâmpadas das luminárias por outras com tecnologia LED (mais econômicas) e comprou apenas móveis de madeira com selo do FSC Brasil (sigla para Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal, em português), que certifica que a madeira não é fruto de desmatamento ilegal.
Ela também colocou mais plantas na casa para refrescar e energizar o ambiente e incorporou ao cotidiano da família novos hábitos, como reutilizar a água da lavagem de roupas para limpar o quintal e separar o lixo para reciclagem. "São atitudes simples, que não têm custo alto – às vezes nenhum – e todo mundo pode fazer", destaca Marcia.
Já Pereira indica como medida simples para diminuir o impacto da construção ou reforma a utilização de produtos feitos com materiais reciclados. Além de evitar a exploração de novos recursos, eles podem ter um custo relativamente mais baixo. Mas o especialista alerta, porém, que o mais barato nem sempre é a melhor opção.
A telha de fibrocimento, por exemplo, ilustra bem isso: fabricada com amianto, um agente reconhecidamente cancerígeno, o material era bastante utilizado em construções por ser muito barato. Recentemente, quatro estados brasileiros – Mato Grosso, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul – proibiram o uso da matéria-prima. Segundo um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outros centros, aponta que o amianto provocou a morte de 2400 pessoas no Brasil entre 2000 e 2010.