Diversão à moda antiga
ALGUMAS VANTAGENS
Embora não condenem os brinquedos tecnológicos, as pedagogas apontam algumas vantagens dos brinquedos educativos e jogos tradicionais. Entre elas, o estímulo à criatividade. É por esse motivo que a professora paulistana Karine Gonçalves, que vive em Itatiba, interior de São Paulo, com o marido e as filhas, Leonarda (ou Leo, como é mais conhecida), 8 anos, e Lívia, 5, prefere os brinquedos “alternativos”. “Minhas filhas têm uma casinha de boneca, construída pelo avô no quintal. Compro, aos poucos, bonecos e acessórios neutros, sem expressão ou cor, para que elas possam inventar histórias e personagens diferentes”, conta. Ivan também aposta na criatividade do filho, que gosta de construir brinquedos com sucata. “Outro dia o Gabriel brigou comigo porque eu ia jogar fora uma caixa de ovos. Ele disse: ‘isso aqui é um ônibus, papai’; pegou a caixa e pintou as janelas, os passageiros e o motorista”, lembra.
Para Maria Ângela, muitos brinquedos modernos pecam por já virem muito ‘prontos’. “Eles não permitem que as crianças façam descobertas e por isso elas se cansam deles facilmente”, afirma a pedagoga. A mãe das meninas Lívia e Leo concorda. “Os produtos que passam na TV são muito atrativos, então quando elas veem um deles na loja ou se alguma amiguinha tem, querem igual; mas brincam com eles por 15 minutos e largam. Já os educativos podem não chamar tanta atenção logo de início, mas depois elas gostam e usam por bastante tempo”, constata.
Outro benefício dos brinquedos tradicionais, especialmente os jogos, é permitir a interação com os coleguinhas e familiares. Segundo Fátima Balthazar, esses momentos são fundamentais para trabalhar a afetividade. “Quando os pais brincam junto com os filhos, estes ficam mais seguros. Esse processo é importantíssimo para estabelecer laços e confiança entre eles”, observa a educadora. Maria Ângela também ressalta a importância dessas brincadeiras numa época em que a quantidade de filhos únicos é grande. “As crianças de hoje têm, em geral, muita dificuldade para respeitar as regras de convivência. As brincadeiras em grupo e os jogos são muito importantes para que elas aprendam a seguir essas regras, por exemplo, esperar a sua vez, ganhar e perder”, destaca. De acordo com a pedagoga da PUC-SP, os jogos de tabuleiro e aqueles com regras mais elaboradas devem ser apresentados às crianças a partir dos 7 anos de idade. Antes disso, apenas jogos de memória ou dominó. A partir dos 10 anos, os jogos de estratégia, como War, passam a ser interessantes.
You and Me
-A loja virtual You and Me http://www.youme.com.br, inaugurada em 2010, vende brinquedos e acessórios para pais e filhos brincarem juntos. Entre os produtos há kits de cozinha, jardinagem e outros, com itens em tamanho adulto e infantil, e kits musicais para recém-nascidos. “Acredito que os pais perceberam que hoje em dia têm pouco tempo para ficar com os filhos e que esse tempo precisa ser bem aproveitado”, afirma Roberta Landmann Echenique, idealizadora do projeto e mãe de Sofia, 4 anos, e de Helena, 8 meses.
Preta Pretinha
-Situada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, desde 2000 a Preta Pretinha www.pretapretinha.com.br prima pela diversidade. Fundada por três irmãs negras que não encontravam bonecas de sua cor quando crianças, a loja oferece também bonecas de pano e de vinil com traços orientais, ruivas, caracterizadas como muçulmanas, indianas e também portadoras de necessidades especiais. A Preta Pretinha também comercializa fantoches, brinquedos e acessórios de madeira, entre outros.
Videogames e outros eletrônicos não são as únicas opções para presentear os filhos no dia 12 de outubro. Conheça pais que provam que dá, sim, para despertar o interesse dos pequenos por brinquedos tradicionais e jogos educativos
As crianças de hoje passam horas jogando videogame e entendem de computador melhor que os adultos. Sim, mas nem todas. Muitos pais priorizam que seus filhos nascidos na era dos tablets tenham contato com brinquedos educativos, tradicionais jogos de tabuleiro e brincadeiras folclóricas, como pular corda, em vez de com modernos brinquedos eletrônicos. É o caso da manicure Gisele Camargo, mãe da Aline, de 6 anos. Mesmo morando no centro de São Paulo, ela encontra espaço para a filha brincar ao ar livre. “Levo a Aline a pracinhas e uso o pátio do prédio para jogar amarelinha”, relata. Quando está em casa, Gisele prefere propor atividades para fazer junto com a menina a deixá-la em frente à TV ou jogando no computador. “Invento alguma coisa para cozinhar com a ajuda dela (ela quebra os ovos, acrescenta alguns ingredientes etc.). Ela adora!”, conta a mãe, animada. “Acredito que os brinquedos eletrônicos são melhores para os pais, pois a criança fica ali sozinha e se distrai, enquanto eles podem fazer suas coisas”, completa a manicure.
Segundo Maria Ângela Barbato Carneiro, pedagoga e coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não é possível e nem recomendável deixar as crianças alheias à tecnologia. Além do mais, os brinquedos sempre acompanharam a evolução da sociedade, então é natural que hoje em dia os pequenos se divirtam em frente a um monitor ou com outro tipo de eletrônico nas mãos. Contudo, é importante que eles também tenham acesso a outras formas de brincar. “Os brinquedos e jogos tradicionais permitem a reflexão, estimulam a imaginação e a descoberta, e despertam a criatividade – coisas que muitos brinquedos atuais não fazem”, aponta a especialista.
Para a professora, pedagoga e arte educadora Fátima Balthazar, assessora pedagógica do Sistema Educacional Família e Escola, de Curitiba (PR), não se trata de recriminar os brinquedos modernos, nem achar que os antigos eram melhores. Mas é preciso saber que eles desenvolvem habilidades diferentes. Enquanto os jogos eletrônicos, por exemplo, estimulam o raciocínio, as brincadeiras de movimento (como jogar bola ou brincar com bambolê), melhoram a capacidade motora, e os brinquedos de construção (como o Lego) e a leitura estimulam a criatividade.
Em suma, os eletrônicos podem coexistir pacificamente com os brinquedos tradicionais e educativos. É o que pensam 60,3% dos 209 internautas que responderam à pergunta “qual o seu critério na hora de comprar brinquedos para o seu filho?”, disponibilizada em agosto no portal do Idec. O produtor editorial paulista Ivan Vasconcelos, pai de Gabriel, de 7 anos, também defende a coexistência pacífica. “Ele joga no meu iPad e tem videogame, mas essa não é a sua prioridade. O Gabriel prefere muito mais ir a uma livraria e sair de lá com vários gibis do que ir a uma Ri Happy [rede de lojas de brinquedos]”, diz. Gisele também aposta no equilíbrio. “Um dia desses, a Aline me pediu um celular. Expliquei que ela ainda é muito pequena e não precisa de um, e ela entendeu. Não vou deixá-la totalmente fora do mundo tecnológico, mas acho importante ter controle. Vejo filhos de amigos que mal sabem falar e já pedem para brincar no iPad”, critica.
DESDE O BERÇO
Não é tarefa fácil despertar o interesse de uma criança pelos brinquedos tradicionais ou jogos de tabuleiro frente ao forte marketing dos brinquedos modernos, cheios de luzes e cores, e capitaneados por personagens infantis famosos. Segundo Maria Ângela, o único caminho para ter sucesso nessa empreitada é apresentar desde cedo as opções educativas. “Se os pais derem o primeiro brinquedo tradicional só quando o filho tiver 6 ou 7 anos, ele provavelmente irá rejeitá- lo, pois terá aprendido a gostar do consumo e não de brincar”, acredita.
Essa é uma preocupação que a administradora Silvia Troncon Rosa, de Sorocaba (SP), já tem com sua filha Luna, de apenas 1 ano. Ela procura oferecer desde já brinquedos que estimulem sua criatividade, como bonecas de pano, teatrinho de dedoches (fantoches para os dedos) e livrinhos de plástico ou de EVA (material parecido com borracha). Mas na caixa de brinquedos da menina também há eletrônicos que ela ganhou de aniversário. “Troquei alguns, mas fiquei com outros, pois acho importante ter variedade; e nessa idade, querendo ou não, as crianças gostam muito de luzinhas coloridas e musiquinhas”, diz Silvia. Segundo Maria Ângela, para crianças muito pequenas, especialmente, é preciso tomar cuidado com o excesso de estimulação, como cores, luzes e som num brinquedo só. “Esse tipo de objeto deixa a criança excessivamente excitada e a cansa”, adverte.
Nos primeiros anos de vida, também é comum a criança brincar com objetos que não foram feitos para esse fim. “Caixa de papelão vira tambor, colher vira baqueta, controle remoto é telefone, abrir e fechar a porta do armário é a maior curtição”, exemplifica Silvia, citando os “brinquedos” preferidos de Luna. Se qualquer coisa pode propiciar uma brincadeira, não tem por que os pais comprarem um brinquedo novo a cada semana. “Além de não ajudar a criança a brincar mais, isso pode ensiná-la a valorizar mais ‘ter’ do que ‘brincar’”, alerta a pedagoga da PUC-SP. Sem falar que não adianta lotar o quarto do filho de brinquedos, é preciso dar atenção a ele e brincar junto. E isso vale inclusive para o Dia das Crianças. “Às vezes, os pais acham que comprar brinquedos vai satisfazer a criança, mas, na verdade, passar um dia no parque brincando com ela é muito mais proveitoso, uma experiência que será guardada para o resto da vida”, declara Karine.