Beleza com segurança
Conheça os riscos e as contraindicações de alguns tratamentos estéticos e saiba que cuidados tomar antes de se submeter a um deles.
“Dê adeus às gordurinhas localizadas”, “acabe com a celulite”, “pareça mais jovem”. Embora não exista fórmula mágica para a beleza e a boa forma, essas promessas chamam a atenção. Quando acompanhadas de grandes “descontos”, como ocorre nas ofertas dos sites de compras coletivas enviadas diariamente por e-mail, a tentação é ainda maior. No entanto, é preciso ter cautela antes de contratar esses serviços, pois além de não serem milagrosos, oferecem riscos. “O consumidor deve pesquisar muito bem os resultados concretos e as contraindicações do tratamento que pretende realizar, avaliar a infraestrutura e as condições oferecidas pelo estabelecimento e se certificar da formação do profissional que irá atendê-lo”, recomenda a advogada do Idec Mariana Alves. Mas como as promoções dos sites de compras coletivas têm duração limitada (normalmente um dia), nem sempre dá tempo de pesquisar tudo isso antes de clicar em “comprar”.
Além da pesquisa por parte do consumidor, é fundamental que o profissional responsável pelo tratamento faça uma avaliação prévia para saber as condições de saúde do cliente, qual o procedimento mais adequado para o que ele procura e quantas sessões serão necessárias para atingir o resultado desejado. “Não dá para fazer pacote de tratamento estético. Cada pessoa é única e os casos devem ser avaliados individualmente”, aponta Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (SBME). Segundo ele, pelas normas do Conselho Federal de Medicina, os médicos estão proibidos de oferecer serviços, sejam eles estéticos ou não, através de sites de compras coletivas. Da mesma forma, em agosto do ano passado, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) vetou a prática aos profissionais da área. No entanto, as ofertas de tratamentos estéticos nesses sites continuam a todo vapor. Se os responsáveis pelos procedimentos forem médicos ou fisioterapeutas, o consumidor deve denunciar a prática aos respectivos conselhos profissionais, que podem puni-los. Ao consumidor também cabe o bom-senso de não se deixar levar pelo preço atrativo, afinal, tratamento estético não é um serviço qualquer.Os tratamentos estéticos mais conhecidos
PEELING
Em inglês, o verbo to peel significa descascar. E é justamente essa a ideia do peeling: promover a descamação da pele para “trocar” a antiga por uma nova e, assim, remover ou suavizar manchas e cicatrizes de acne, e rejuvenescer a cútis. O procedimento pode ser realizado com a aplicação de substâncias químicas, uso de materiais abrasivos que “lixam” a pele ou ainda com laser. Há peelings de diferentes graus: desde os mais superficiais, que provocam leve descamação da pele, até os mais profundos, que podem promover a necrose da derme (camada profunda da pele).
Riscos: queimaduras, cicatrizes, queloides, infecções bacterianas e virais. Quanto mais profundo o peeling, maiores os riscos.
Contraindicado para: pessoas com doenças de pele ou infecções ativas e aquelas que usaram medicamentos à base de isotretinoína (Accutane, Roacutan) no último ano. Quem tem histórico de herpes precisa tomar antivirais, receitados pelo médico, antes do procedimento.
Profissional indicado: médico dermatologista; apenas os peelings muito superficiais podem ser realizados por esteticista ou fisioterapeuta dermatofuncional.
DEPILAÇÃO POR FOTOTERAPIA (“a laser”)
Esse tipo de depilação utiliza a luz (laser ou luz pulsada) para destruir os pelos. O procedimento é muitas vezes chamado, equivocadamente, de “depilação definitiva”. “O que ocorre é uma regressão progressiva dos pelos, pois a luz só consegue ‘pegar’ os que estão em determinada fase de crescimento”, aponta Maria Silvia, da Unimep. Segundo Valcinir Bedin, da SBME, cada sessão de fotodepilação destrói cerca de 20% dos pelos.
Riscos: o principal é o de queimadura, que pode ser causada por doses equivocadas ou tempo de exposição excessivo da pele à luz. Peles morenas exigem mais cuidado, pois a luz é absorvida pela melanina, e quanto mais melanina, maior o risco de queimadura e até de despigmentação (manchas esbranquiçadas) na área atingida.
Contraindicado para: peles negras; as morenas dependem de avaliação do profissional e do tipo de aparelho utilizado. O procedimento também não funciona para os pelos loiros ou brancos. Gestantes não devem fazer, pois a produção de melanina é alterada durante a gravidez.
Profissional indicado: fisioterapeuta dermatofuncional e médico dermatologista ou especialista em estética.
DRENAGEM LINFÁTICA
Esse tratamento elimina o excesso de líquido dos tecidos e é indicado para casos de inchaço por problemas linfáticos ou vasculares (varizes, por exemplo), ou após cirurgias (plásticas ou de outros tipos). O procedimento é famoso por supostamente combater a celulite, mas essa função é bastante limitada. “A drenagem é indicada para graus bem iniciais de celulite, e é apenas um coadjuvante, não o principal recurso de tratamento”, alerta Maria Silvia. Segundo Ana Lúcia Vieira, da Anhembi Morumbi, é muito comum confundir drenagem linfática com massagens redutoras de medidas.
Riscos: se o indivíduo estiver com alguma infecção, a estimulação da circulação linfática pode ajudar a disseminar o vírus e as bactérias pelo organismo. Caso o procedimento seja realizado em pessoas que tiveram trombose recentemente, pode acarretar embolia pulmonar ou até acidente vascular cerebral (AVC).
Contraindicado para: pessoas com câncer (estas só podem fazer o procedimento com expressa indicação médica e apenas com um profissional de saúde habilitado), trombose e outros distúrbios vasculares, assim como gestantes até o terceiro mês de gravidez.
Profissional indicado: fisioterapeuta ou esteticista.
Fontes: Ana Lúcia Vieira, Maria Silvia Pires de Campos e Valcinir Bedin Milagres não acontecem
No primeiro trimestre deste ano, o Procon-SP registrou 207 atendimentos referentes a tratamentos estéticos; 96 deles ocorreram porque o serviço não foi realizado de acordo com o prometido ou o resultado não foi o esperado. Para Ana Lúcia Vieira, professora do curso de Estética da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, a insatisfação dos consumidores com os tratamentos resulta da combinação de excesso de expectativa por parte deles e da falta de esclarecimento pelos profissionais. “Muitas vezes, a pessoa quer resolver todos os seus problemas num centro de estética e espera resultados imediatos. Cabe ao profissional explicar os limites do tratamento, pois nem cirurgia plástica resolve tudo”, aponta Ana Lúcia.
A advogada do Idec Mariana Alves ressalta que o principal, nesses casos, é que o consumidor tenha o seu direito à informação respeitado. “É preciso deixar muito claro, antes da contratação, que o tratamento estético leva tempo e, muitas vezes, apenas ameniza o problema, não necessariamente o resolve definitivamente. Também é preciso esclarecer que o resultado depende de uma alimentação saudável e da prática de exercícios físicos”, afirma. Para o presidente da SBME também é importante que o profissional não alimente falsas expectativas de resultado positivo, por exemplo, mostrando fotos de “antes e depois”.
Outro problema, de acordo com Maria Silvia Pires de Campos, professora de Fisioterapia Dermatofuncional da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), é que muitos procedimentos estão sendo realizados sem estudos científicos que comprovem sua eficácia. “As pessoas têm sido cobaias sem saber”, alerta. Como novos tratamentos estéticos surgem a cada dia, principalmente aqueles que afirmam reduzir medidas ou gordura localizada, a professora recomenda que o consumidor desconfie sempre, sobretudo dos que prometem resultados rápidos e fenomenais. “Não dá para perder muita gordura de uma só vez, e a gordura também não sai pela urina ou é evacuada, como dizem por aí”, explica Maria Silvia. “Existem tratamentos eficientes, que ajudam a colocar a gordura para fora do tecido, mas depois ela precisa ser queimada com exercício físico”, completa. Ou seja, não existe milagre. E é preciso lembrar sempre disso.
- Visite a clínica ou o centro de estética* antes de contratar o serviço e observe as condições de higiene, se são utilizados materiais descartáveis (seringas e agulhas, especialmente) e se os artigos de uso comum (como toalhas, lençóis etc.) são esterilizados.
- Verifique se o estabelecimento tem autorização de funcionamento emitida pelo órgão de vigilância sanitária municipal ou estadual. A licença deve estar afixada em local visível.
- Informe-se sobre a formação do profissional que irá atendê-lo: se for médico ou fisioterapeuta, veja se está registrado no conselho de classe e se é ligado a alguma associação científica.
- Fique atento se o profissional presta informações claras sobre o tratamento ou se apenas tenta “empurrar” o serviço.
- Questione quais os riscos, as contraindicações e as limitações do tratamento e solicite detalhes sobre como os procedimentos serão realizados (que aparelhos e cosméticos serão utilizados, quantas sessões serão necessárias etc.).
-Leia o contrato com atenção.
SAIBA MAIS
- Cartilha Conheça seus direitos – clínica de estética, do Procon-SP http://goo.gl/Eht90
*Clínicas de estética precisam ter um médico responsável, centro de estética, não