Pernas, pra que vos quero?
A escolha dos "Pisantes"
A “saúde ortopédica” do atleta depende de outro ponto fundamental: a escolha dos calçados. É claro que ninguém vai sair por aí correndo de sapatos. Mas, em se tratando de tênis, há uma infinidade de modelos. E é preciso escolher um que seja apropriado ao seu estilo. Estilo, não, pisada. Cada um pisa de um jeito, e ter um par de tênis apropriado ajuda a evitar sobrecargas, dores e fraturas.
Para ajudar na escolha, é preciso entender o ciclo da corrida e identificar o seu tipo de pisada – neutra, pronada e supinada. Se você entender esses conceitos, já dá para começar a escolher os tênis ideais: as marcas costumam classificar os modelos justamente de acordo com os três tipos de pisada. Mas como saber qual é a sua? O melhor dos mundos seria consultar um ortopedista que, por meio de uma análise do movimento, consegue classificar sua maneira de pisar. Lojas especializadas também oferecem o serviço de “detecção de pisada”, mas, segundo Pedrinelli, os funcionários nem sempre estão preparados para fazer essa análise. O infográfico da página seguinte traz algumas explicações.
Muita gente está encontrando a resposta: começar a correr.
Mas antes de sair trotando por aí, saiba os cuidados que se deve tomar para aproveitar melhor o exercício
A pátria de chuteiras vai, aos poucos, tornando-se a “pátria de tênis”. Tênis para correr, caminhar, treinar. Uma pesquisa encomendada pela Corpore – organização de corredores que tem mais de 250 mil associados – mostrou que, no fim de 2009, o número de corredores no Brasil atingiu a marca de 4 milhões – seis anos antes eram 2 milhões. Um grande mercado a ser explorado, sem dúvida, mas também sinal de que a preocupação com a saúde está se incorporando à mentalidade do brasileiro.
Só que é importante lembrar que correr não é simplesmente revestir os pés com qualquer par de calçados e sair a todo vapor por aí, a esmo, em um parque, nas ruas, ou até mesmo em provas organizadas. Não. Correr (e até mesmo caminhar) requer cuidados: escolha do material esportivo, supervisão médica, preparação física, alimentação. Por isso, a Revista do Idec dedica esta matéria aos principais pontos a que você, atleta amador ou aspirante a atleta, deve ficar atento.
- Aqueça, alongue e desaqueça. “Para cada 40 minutos de exercício, em média, deve-se reservar 20 aos rituais de aquecimento, alongamento, desaquecimento e, novamente, alongamento”, indica Paula Viana. Ela acrescenta ainda que um trabalho de reforço muscular é útil para evitar lesões.
- Não ingira alimentos muito pesados antes do treino nem corra em jejum.
- Tome um pouco de água a cada 20 minutos de treino.
- Compre tênis um ou dois números acima do seu para evitar que as unhas batam na parte frontal do calçado; e experimente-os no fim do dia, quando os pés costumam ficar mais inchados.
- Em caso de dúvida sobre qual é o seu tipo de pisada, compre um modelo que seja, antes de tudo, absolutamente confortável.
- Prefira meias de algodão, que permitem a absorção do suor.
Além do coração
Evidentemente, não é só o coração que merece cuidado especial. Correr sem tomar os devidos cuidados também pode causar danos a outras partes do corpo. Mais cedo ou mais tarde os problemas começam a surgir – principalmente em articulações, tendões e músculos. “A carga da atividade tem de ser progressiva. Não dá para recuperar de uma só vez o ‘tempo perdido’ ”, diz André Pedrinelli, especialista em medicina do esporte pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Mais vale uma frequência maior, mas com intensidade menor, do que o contrário. Tendinites e fraturas por estresse costumam acometer os que não se preparam devidamente”, ele completa. O médico destaca ainda que é normal ter algum tipo de dor muscular nas três primeiras semanas de treino. Mas se a dor persistir, é sinal de que algo está errado.
Além da receita básica de respeitar os limites do corpo, ter um especialista para montar os treinos é recomendável. “Quem não tem condições financeiras ou não quer contratar um profissional da área pode começar com caminhadas por algumas semanas e aumentar a intensidade progressivamente. Outra alternativa interessante é entrar em um grupo de corrida”, pondera Paula Viana, professora de corrida do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (USP). Ela se refere a turmas de atletas amadores que contratam um profissional para supervisionar simultaneamente várias pessoas, o que é financeiramente interessante, além da interação com os demais adeptos. Isso costuma acontecer, por exemplo, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
1- A maior diferença é que, na rua, a carga nas articulações tende a ser maior. Por isso, a escolha dos tênis ideais é ainda mais importante para quem corre ao ar livre.
2- O “rendimento” do atleta é algo muito subjetivo. Tem gente que “rende” mais na rua, pois conseguir chegar a tal ponto em um determinado tempo é estimulante; tem gente que se apega mais aos “números” da esteira (distância, calorias, velocidade média), sempre ao alcance dos olhos.
3- O gasto de calorias de quem corre na rua pode ser ligeiramente maior do que o de quem corre na esteira, pois a resistência do ar e o atrito com o solo devem ser considerados.
Bomba-Relógio
Um dos momentos mais chocantes da história recente do esporte nacional foi a morte de Paulo Sérgio Oliveira da Silva, o Serginho, zagueiro do São Caetano, transmitida ao vivo e em rede nacional. Em outubro de 2004, no começo do segundo tempo de uma partida contra o São Paulo, o atleta desabou, vítima de parada cardiorrespiratória. Foi levado ao hospital e, 40 minutos depois, faleceu. Na época, a imprensa revelou que Serginho não poderia jogar futebol, pois os exames cardiológicos haviam apontado que o coração do atleta não ia bem. Embora o futebol seja diferente da corrida, ambos são esportes extenuantes, que exigem muito do corpo. Casos como o de Serginho também ocorrem com atletas amadores. No ano passado, um professor da rede pública faleceu durante o início de uma prova de corrida, em Parauapebas (PA). Ele tinha 41 anos e foi vítima de mal súbito. Em Campo Grande (MS), um militar de 43 anos também não resistiu a uma parada cardiorrespiratória durante testes de aptidão física em um quartel-general. É infrutífero pormenorizar se essas mortes estão ou não atreladas a doenças cardíacas preexistentes. O fato é que há pessoas que não podem se submeter a exercícios muito intensos por possuírem quadro clínico incompatível com a prática de atividades físicas que demandam muito vigor. Assim, é imprescindível que o atleta – amador, profissional ou mesmo o aspirante a atleta – se submeta a avaliação médica. “Essas avaliações têm o intuito principal de detectar doenças potencialmente fatais, que podem causar morte súbita, e devem ser realizadas preferencialmente por um médico da área do esporte”, afirma Patrícia Oliveira, médica da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“A carga da atividade tem de ser progressiva. A especialista explica que, até os 35 anos, as principais doenças do coração costumam ser de origem congênita; elas são quase sempre detectáveis por um simples eletrocardiograma ou mesmo um exame clínico cuidadoso. Após essa idade, aumentam as probabilidades de quadros isquêmicos, isto é, de obstrução de artérias (o que pode determinar arritmias e infartos). Para a detecção desses casos, recomenda-se o teste de esforço, também conhecido como teste ergométrico. Mas não são todos os problemas cardíacos que impedem a prática de exercícios físicos. “Em todo caso, o esporte de alta intensidade é sempre uma grande preocupação, o que demanda aos cardiopatas a prescrição individual de atividades físicas. O objetivo é ter os maiores benefícios, mas com os menores riscos”, recomenda Patrícia. Um importante “termômetro” para quantificar a intensidade do esforço é a frequência cardíaca (FC), o número de batimentos do coração por minuto. Assim, o uso de monitores cardíacos, também chamados de frequencímetros, durante a corrida é uma maneira prática de se fazer essa medição. Segundo Patrícia, a intensidade do esforço ideal pode ser obtida por meio de uma conta simples, que vai estabelecer qual é a FC mínima e a máxima de cada indivíduo (veja a fórmula abaixo). “Essa fórmula costuma funcionar para a maioria das pessoas jovens e saudáveis”, afirma a médica. Mas, claro, que é importante considerar variáveis como condicionamento físico e antecedentes.
Não dá para recuperar de uma vez o tempo perdido”
André Pedrinelli, especialista em medicina do esporte