Na medida certa
Padronização de etiquetas de roupas masculinas pretende facilitar as compras e reduzir a quantidade de troca de peças
A partir deste ano, comprar roupas deve se tornar uma tarefa mais simples para os homens. Pelo menos é essa a proposta da nova norma sobre referenciais de medidas do corpo humano elaborada pelo Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário (ABNT/CB 17) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), composto por fabricantes, consumidores, escolas e centros de pesquisa.
A ideia é que as etiquetas das peças masculinas não contenham apenas os tamanhos P, M, G e GG ou informações numéricas como 38, 40, 42 e 44, mas que também passem a indicar as medidas de tórax, cintura, altura, braços e pernas em centímetros. Esse conceito, chamado de vestibilidade, tem como objetivo informar mais e melhor o consumidor, facilitando as compras e aumentando a assertividade. “As etiquetas não são fieis ao tamanho das peças, e a variação entre as roupas identificadas com o mesmo número é muito grande. O cliente é obrigado a provar cada item, e muitas vezes precisa recorrer à troca”, observa a superintendente do ABNT/CB 17, Maria Adelina Pereira.
A proposta, que ainda este ano deve ser elaborada também para peças femininas, não para por aí. As peças do vestuário masculino serão classificadas de acordo com três tipos físicos: normal, atlético e especial. Normal é aquele em que as medidas dos ombros e da cintura são iguais; atlético é quando a medida dos ombros é maior que a da cintura; e especial é para os homens com sobrepeso, em que a medida da cintura é maior que a dos ombros.
QUE VANTAGEM LEVA JOÃO?
Com a nova etiqueta, comprar pela internet ficará mais fácil. “Com mais informações, o público se sentirá seguro para consumir na rede”, observa o gerente de comunicação do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira. Além disso, as dúvidas que surgem na hora de comprar um presente serão minimizadas. “A norma só facilita. Hoje, tentamos adivinhar o tamanho com base na numeração, que como sabemos não é fiel”, diz Oliveira.
Indivíduos com sobrepeso também serão beneficiados. Em vez de procurar por um GG, por exemplo, que varia bastante entre uma marca e outra, eles poderão pesquisar quais empresas oferecem peças de tamanho especial e verificar as medidas. “O público será direcionado para as empresas que produzem para esse segmento, o que facilitará a vida e minimizará o constrangimento de provar inúmeras peças e nenhuma servir”, avalia Maria Adelina.
As empresas também sairão ganhando: as marcas que se adequarem mais rápido à nova medida e fornecerem informações precisas devem conquistar e fidelizar um número maior de clientes. Além disso, com o tempo, a necessidade de provar cada item deve ser reduzida e, consequentemente, a perda de peças danificadas no provador diminuirá. Com o aumento do acerto na hora da compra, o número de trocas também deve cair.
LIVRE-ESCOLHA
Apesar de a medida dividir as opiniões do setor, para Sylvio Napoli, gerente de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), uma das entidades que participam da Comissão da ABNT, ela só tem pontos positivos. “Serão fornecidas informações complementares, que ajudarão o consumidor a comprar melhor. E a adesão é facultativa, só a adota quem quer”, esclarece.
E os fabricantes não precisarão se preocupar com uma nova fiscalização, pois o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Tecnologia (Inmetro) continuará verificando apenas se o tamanho da roupa está indicado. “Não há como fiscalizar a norma de padronização, porque ela trata de medidas do corpo. Quem a adotar e fornecer informações que não correspondem ao tamanho real será punido pelo consumidor, que deixará de comprar. Esse é o pior castigo”, afirma Maria Adelina.
Mas para a nova norma começar a valer é preciso haver consenso entre todos os interessados. Por isso, além da comissão que participou de sua elaboração, as empresas e os cidadãos também puderam opinar e fazer sugestões na consulta pública sobre o tema, que se encerrou em 6 de fevereiro.
Agora, o comitê deve avaliar as contribuições, e se não forem necessárias alterações técnicas, o projeto será publicado como Norma Brasileira (NBR) e entrará em vigor imediatamente. Se houver mudanças, ele volta para consulta pública.
O conceito da vestibilidade já foi homologado, em 2009, para vestuário infantil e uniformes. Mas como a regra é facultativa, poucos fabricantes aderiram a ela. “Algumas empresas acham que acrescentar uma etiqueta pode onerar o produto. Quem a adotou, no entanto, registrou redução de trocas e boa aceitação por parte do consumidor”, salienta Maria Adelina, do ABNT/CB 17.
A proprietária da marca infantil Clube do Doce, Vitória Dias, pensou, assim como muitos empresários do setor, que a adaptação seria complicada. “Felizmente me enganei. A resposta dos clientes foi muito positiva, porque antes eles tinham dificuldade para saber o número que as crianças usavam. A ideia foi muito bem aceita, porque os ajudou a acertar na hora da compra”, declara.