O fim da picada
Dengue: a melhor proteção é a prevenção
A chegada do verão e do período de chuvas em várias regiões do país traz à tona a preocupação com a dengue, cujo número de casos aumenta significativamente nessa época do ano. Na esteira desse problema, muitas marcas de repelente e de inseticida usam a ideia da proteção contra o mosquito Aedes aegypti, o transmissor da doença, como apelo para vender seus produtos. No entanto, nunca é demais lembrar que a forma mais adequada de se proteger da doença é combater os criadouros do mosquito, ou seja, as já conhecidas medidas para evitar água parada. “Não basta passar repelente se os outros cuidados forem negligenciados”, ressalta Silvia Vignola. “O governo tem a responsabilidade de prevenir a doença, mas cada cidadão também tem o seu papel no controle dos mosquitos”, completa.
Relembre, a seguir, algumas dicas para prevenir possíveis focos de dengue:
1. Mantenha as caixas d’água bem vedadas.
2. Remova folhas, galhos e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas.
3. Não deixe água da chuva acumulada sobre a laje.
4. Lave diariamente com escova as vasilhas de água para cachorros e gatos.
5. Encha de areia os pratinhos dos vasos de planta.
6. Guarde as garrafas sempre com a boca para baixo.
SAIBA MAIS
Matéria “Veneno doméstico”, publicada na edição no 152 da Revista do Idec
Os repelentes são bons aliados contra os mosquitos. Mas é importante ficar atento ao uso correto, pois eles podem ser tóxicos, principalmente para as crianças.
Quem visita as belas praias e cachoeiras do litoral norte paulista aprende que as indesejáveis picadas de borrachudos e outros mosquitos fazem parte do “pacote”. A combinação de clima quente, umidade e mata é perfeita para a proliferação desses bichinhos que infernizam a vida de moradores e turistas. Se por um lado os borrachudos indicam que as cachoeiras estão limpas e a mata preservada (a espécie só se reproduz em água limpa), por outro suas picadas costumam causar muita coceira, vermelhidão e até inchaço no local afetado.
Para se proteger do ataque desses insetos, a saída é apelar para os repelentes. Esses produtos “mascaram” as substâncias exaladas pela pele humana que atraem os mosquitos – gás carbônico e lactato –, liberadas no suor. A maioria dos repelentes disponíveis no mercado contém dietiltoluamida (DEET), que em concentrações elevadas pode ser tóxica, principalmente para as crianças. “Quanto mais alta a concentração de DEET, maior é a eficiência do repelente, mas também maior a sua toxicidade”, explica Kerstin Abagge, presidente do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Em doses elevadas, a substância pode provocar vômitos, alergia e até alterações neurológicas. Por isso, deve ser usada com cautela.
Em março deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou a Consulta Pública no 3/2011 com a finalidade de discutir os requisitos técnicos de segurança, eficácia e rotulagem dos repelentes. A proposta é que as marcas passem a informar no rótulo o princípio ativo da fórmula e sua concentração, além de alertar para a forma adequada de utilização e a frequência com que deve ser reaplicado. A recomendação para que as embalagens tenham tais avisos já existe, mas isso passaria a ser obrigatório, inclusive para os repelentes com princípios ativos naturais. Segundo a agência, as contribuições recebidas na consulta pública já foram analisadas e a previsão é que a nova resolução seja publicada até o fim do ano.Crianças: cuidado especial
De acordo com Kerstin Abagge, em geral, os repelentes comercializados no Brasil apresentam concentração máxima de 30% de DEET, que é um percentual seguro para os adultos (com exceção de mulheres grávidas, que não devem usar repelentes com essa substância), desde que utilizado corretamente. No entanto, para os pequenos a tolerância é muito menor. “A criança corre mais riscos porque sua pele é mais fina, e por isso a absorção de qualquer produto é maior. Além disso, seu sistema imunológico é imaturo, de modo que as reações tendem a ser mais sérias”, afirma a médica.
A Anvisa recomenda que os repelentes só sejam usados por crianças maiores de 2 anos de idade. Antes disso, para proteger os bebês das picadas de insetos o indicado é utilizar barreiras mecânicas, como mosquiteiro nos berços e roupas de mangas compridas para sair de casa, por exemplo. “Mas se a família viaja para uma área de risco de malária [doença transmitida pelo mosquito-prego], por exemplo, é diferente. É preciso pesar os riscos e os benefícios”, pondera a representante da SBP.
Se a criança tem alergia a picadas de inseto, também é o caso de se pensar sobre o uso de repelentes. Mas a dermatologista alerta que todo mundo tem alguma reação ao ser picado, o que significa que vermelhidão e coceira não são necessariamente sinais de alergia. Se os pais sabem que a criança é alérgica, a dica é pedir para o pediatra prescrever um medicamento anti-histamínico, para o caso de o pequeno ser “atacado”. “Mas o melhor é evitar áreas com muitos mosquitos”, contrapõe Silvia Vignola, sanitarista e colaboradora voluntária do Idec.
Se não há consenso sobre quando começar a usar os repelentes, os especialistas concordam que o produto a ser aplicado em crianças deve ter a menor concentração possível. A Anvisa preconiza que até os 12 anos a concentração máxima deve ser de 10%. Por isso, os pais devem ficar de olho nos rótulos. “É melhor usar as fórmulas específicas para o público infantil (“kids”), porque costumam ter concentração mais baixa”, aconselha Kerstin. Já as formulações do tipo “dois em um”, com filtro solar e repelente juntos, não são indicadas, pois o tempo de reaplicação de cada um dos produtos é diferente – e isso vale tanto para os de uso infantil quanto para os destinados a adultos. “O filtro solar deve ser reaplicado a cada duas horas, e o repelente, apenas a cada três ou quatro horas, conforme a indicação do fabricante”, aponta Kerstin. Outras regras que valem para todas as idades é passar o produto no máximo três vezes ao dia, e apenas nas áreas em que a pele ficar exposta, nunca por baixo da roupa, pois o suor aumenta a absorção do cosmético.Proteção "Alternativa"
Além das formas convencionais (loção, spray etc.), têm surgido no mercado pulseiras e adesivos que prometem liberar substâncias que afastam os mosquitos. Se eles funcionam ou não, só testando para saber. Mas, para a sanitarista Silvia, o consumidor deve ficar atento a esse tipo de apelo. “O repelente mascara o cheiro da pele que atrai os insetos. Como uma pulseira vai fazer isso?”, questiona. Além disso, muitos desses produtos alegam empregar como princípio ativo substâncias “naturais”, como óleo de citronela e andiroba. Essas e outras essências de ervas e frutas são utilizadas há séculos para afugentar insetos, mas será que são eficazes? “Os repelentes ditos naturais têm eficácia por curto período de tempo. Já os repelentes ambientais, como velas, por exemplo, funcionam apenas em recintos pequenos”, responde Kerstin. Ela pondera ainda que muito embora esses produtos não sejam tóxicos como os industrializados, também podem provocar reação alérgica na pele.
Outra suposta forma de se proteger das picadas é ingerir cápsulas de complexo B. Diz a lenda que essas vitaminas, depois de processadas pelo organismo, fazem com que o corpo exale através do suor substâncias ofensivas aos mosquitos. Mas o tema segue controverso. De acordo com a representante da SBP, os artigos científicos que tratam desse assunto são das décadas de 60 e 70. E a quantidade da substância presente no complexo B que de fato tem efeito repelente (a vitamina B1, a Tiamina) é bem pequena. “Há quem diga que funciona, mas não há comprovação científica”, afirma Kerstin.