Confusão de etiquetas
Consumidor pode encontrar nas lojas refrigeradores com selo de eficiência energética no modelo novo ou antigo. Veja como comparar esses produtos a fim de levar para casa o que consome menos energia
Os brasileiros já se acostumaram a observar, na hora de comprar eletrodomésticos, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), que é colada em geladeiras, ares-condicionados, ventiladores, máquinas de lavar roupas, fornos de micro-ondas e televisores, para indicar a sua eficiência energética. Esse selo ajuda o consumidor a comparar os equipamentos disponibilizados no mercado e a escolher o que consome menos eletricidade, impactando menos a conta de luz e também o meio ambiente, já que emitem menos gases que contribuem para o aquecimento global.
Mas quem decidir comprar um refrigerador nos próximos meses pode sentir dificuldade na hora de fazer essa comparação. Isso porque encontrará nas lojas dois tipos de etiqueta: o modelo antigo, que classifica os aparelhos de "A" a "E" (sendo "A" os mais eficientes, e "E", os menos); e o modelo novo, cuja classificação vai de "A" a "C", sendo a categoria "A" subdividida em "A+", "A++" e "A+++". A nova etiqueta, aprovada em 2021, começou a ser afixada nos refrigeradores fabricados e importados a partir de julho deste ano. Mas ela só será obrigatória a partir de 30 de julho de 2023. Dessa forma, etiquetas novas e velhas coexistirão no mercado por mais 10 meses, confundindo os consumidores. "Ainda estamos na primeira fase, na qual os equipamentos estão sendo reclassificados em "A+++", "A++" e "A+", para facilitar a escolha do consumidor", informa Priscila Morgon Arruda, pesquisadora do Programa Energia e Sustentabilidade do Idec. Mas esta é uma etiqueta temporária, pois ela deve passar por nova atualização em 2026, com a retirada das "notas" "A+++", "A++" e "A+". "A previsão é que os refrigeradores sejam reformulados para serem mais eficientes. Mas isso só deve acontecer a partir de 2026", ela calcula.
Para Colin Taylor, gerente da Equipe de Clima do Clasp, ONG que trabalha para melhorar a qualidade do ar e proteger o clima por meio de ações para reduzir os poluentes climáticos, a educação do consumidor é fundamental para uma transição eficaz da etiqueta velha para a nova. "Pode começar com anúncios explicando o novo modelo e como ele difere do antigo. Também é importante fornecer orientação aos varejistas sobre como treinar sua equipe de vendas para responder com precisão às perguntas dos consumidores sobre o novo selo", ele sugere.
LADO BOM E LADO RUIM
A nova etiqueta é um avanço significativo após 15 anos sem uma revisão. Durante esse período, quase todos os refrigeradores vendidos no Brasil se enquadravam na classe "A", tornando quase impossível para o consumidor identificar quais refrigeradores eram mais ou menos eficientes. "Com esta reformulação, refrigeradores mais eficientes serão diferenciados no mercado, e podemos esperar que a eficiência média melhore, pois os consumidores estarão mais bem informados", acredita Taylor. Essa melhora é fundamental, pois segundo Taylor, todos os produtos "A" disponíveis hoje no mercado brasileiro são muito menos eficientes do que a maioria dos produtos de outros países, mesmo os menos desenvolvidos. "Um refrigerador classe "A" no Brasil não poderia ser vendido no Quênia ou na Índia, por exemplo, porque não atenderia aos padrões mínimos de desempenho energético desses países. Mesmo com a revisão, os refrigeradores da nova classe "A+++" não seriam vendidos nos EUA, no México e na União Européia", ele comenta.
COMO CALCULAR O IMPACTO NA CONTA DE LUZ
Com base nos dados da etiqueta de eficiência energética de geladeiras, é possível estimar qual o impacto de seu uso na conta de luz. O primeiro passo é calcular o custo do valor unitário do quilowatt-hora (kWh), unidade que mede a quantidade de energia elétrica consumida. Para isso, basta dividir o valor total da conta de luz pela quantidade de kWh usada no mês. Essas informações constam na conta de energia elétrica. Em seguida, multiplique esse valor pelo consumo mensal de energia que aparece na etiqueta do produto.
O programa Energia e Sustentabilidade do Idec está construindo uma calculadora que permitirá ao consumidor mensurar o impacto de qualquer modelo de refrigerador em sua conta de luz, seja aquele que você já tem em casa ou um que pretende adquirir. Fique de olho na página "É da sua conta" (www.idec.org.br/edasuaconta), pois ela será lançada em breve!
Taylor levanta também um ponto negativo da nova etiqueta: "Os mesmos requisitos de eficiência para a classe 'A' serão mantidos até 2026. Em vez de aumentarem as exigências para um equipamento receber a classificação 'A', serão adicionadas as categorias 'A+++', 'A++' e 'A+'. Isso significa que quase todos os refrigeradores continuarão a ter redução de 50% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), incentivo que, originalmente, era destinado apenas a produtos eficientes.
Para o Idec, as subcategorias "A+++", "A++" e "A+" são um grande problema, pois o consumidor brasileiro, que não está acostumado com essa classificação, pode se sentir confuso. "Mais eficaz do que criar subcategorias é fazer uma revisão completa dos critérios de eficiência energética atuais", opina Arruda. Taylor concorda que essa classificação não é eficaz e comenta que a União Europeia, que havia adotado subclasses da nota "A" desistiu de usá-la após pressão da indústria e dos defensores da eficiência energética. "Uma pesquisa do Clasp revelou que na União Europeia, os consumidores eram menos propensos a pagar mais por um produto "A+++" em vez de um produto "A" do que por um produto "A" em vez de um produto "D", ele destaca. "Já na Tailândia, 57% dos varejistas relataram que os consumidores pediram esclarecimentos sobre o significado das estrelas adicionais nos cinco níveis existentes na etiqueta de eficiência energética do país", complementa.
O Idec segue acompanhando o processo de troca das etiquetas e contribuindo para sua clareza e eficácia.
COMO COMPARAR
Se o consumidor encontrar as etiquetas nova e velha na loja, como poderá comparar os aparelhos a fim de levar para casa o mais eficiente? "Ele deve comparar o consumo mensal de energia (em kWh/mês), pois observar apenas a letra que indica a eficiência energética pode levá-lo a comprar um eletrodoméstico que vai custar mais para funcionar. Quanto mais baixo esse valor, menos eletricidade o equipamento consome", responde Priscila Arruda, do Idec. Vale ressaltar que não dá para comparar banana com abacaxi. Assim, é importante que os equipamentos a serem comparados tenham as mesmas características ou pelo menos semelhantes, como o número de portas, o tipo de degelo, a capacidade (volume em litros) e a temperatura mínima atingida pelo congelador. "Todas essas informações constam da etiqueta de eficiência energética", diz Arruda.