Guia Alimentar para a População Brasileira
O Guia Alimentar para a População Brasileira, que promove a alimentação adequada e saudável de um jeito simples e inovador, tem sofrido ataques da indústria de ultraprocessados. Entenda por que o Idec o defende!
"Os 10 inimigos da dieta", "não coma carboidratos", "doce? Só se for no final de semana". Você já deve ter ouvido (ou até falado) alguma dessas frases, mas se te contássemos que ter uma alimentação adequada e saudável é muito mais simples você acreditaria? Por exemplo, preferindo sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias em vez de alimentos ultraprocessados. Ou seja, comer frutas, verduras, legumes, castanhas e ovos em vez de comidas congeladas, salgadinhos de pacote e fast food. Essa é a regra de ouro do Guia Alimentar para a População Brasileira. Lançado em 2014, o documento do Ministério da Saúde foi elaborado a partir de pesquisas e evidências científicas que visam à promoção da alimentação adequada e saudável no País.
"O Guia é inovador. Para além de seu caráter de orientação oficial, ele traz um conteúdo fácil de ser entendido e aplicado tanto por profissionais da saúde quanto por gestores públicos. Pela primeira vez, um guia alimentar começou a olhar o processamento como um importante fator de impacto na saúde", afirma Janine Coutinho, coordenadora do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec.
Seu impacto é tão positivo que o faz ser uma referência internacional. Instituições como a Organização Pan-Americana da Saúde, parte da Organização Mundial da Saúde, não só apoiam o Guia como vêm incentivando outros países na elaboração dos seus respectivos documentos alimentares.
Ter uma alimentação saudável vai muito além dos nutrientes que você coloca em seu prato. De acordo com o Guia, é o conjunto de hábitos alimentares que fazem bem para a sua saúde, o que vai desde a escolha dos alimentos, passando pelo seu preparo e indo até o ato de comer. Comida pode ser afeto, cultura, tradição e até mesmo arte.
SOB ATAQUE
Como era de se esperar, o Guia não agrada à indústria de alimentos e bebidas ultraprocessados. Os principais motivos são a classificação de alimentos conforme o seu grau de processamento e, claro, a recomendação de evitar consumi-los.
A vontade de mudar o Guia é tanta que em setembro de 2020 ele foi atacado. Pressionado pela indústria de ultraprocessados e da carne, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) emitiu um ofício ao Ministério da Saúde solicitando alterações urgentes no documento. A ação ganhou destaque na imprensa e nas mídias sociais. Rapidamente, organizações como o Idec e a Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável lançaram um movimento em sua defesa e publicaram um manifesto que recebeu cerca de 40 mil assinaturas. O Instituto também lançou a campanha "Você já é a favor do Guia Alimentar para a População Brasileira", para divulgar o Guia ao maior número possível de pessoas.
O Idec e o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) tiveram um papel crucial na proteção do Guia. Enviaram notificação ao Mapa e levantaram uma série de evidências científicas que comprovaram a relevância da classificação dos alimentos e os impactos negativos dos ultraprocessados na saúde humana e no meio ambiente. Por ora, a defesa do Guia venceu, e ele continua inalterado!
"O Idec, na sua missão de orientar os consumidores, favorecer que eles tenham a possibilidade de fazer escolhas mais saudáveis e incidir na criação de políticas públicas, utiliza o Guia como base para todas as suas ações. O documento é um patrimônio dos brasileiros e deve ser defendido", declara Coutinho.
NOVAS DOENÇAS, NOVOS DESAFIOS
O Brasil passa por uma mudança no perfil das doenças que atingem a população. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde mostram que, em 2019, 52% dos brasileiros com mais de 17 anos receberam diagnóstico de pelo menos uma doença crônica não transmissível (DCNT), como diabetes, doenças do coração e pressão alta. Ao mesmo tempo, começamos a consumir mais ultraprocessados, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prática que está diretamente relacionada à intensificação dessas enfermidades.
"Uma mudança de comportamento alimentar, no entanto, não depende apenas da existência do Guia. Existem diversas barreiras para a aderência da população às recomendações. É essencial, por exemplo, que as pessoas tenham acesso físico e financeiro a alimentos saudáveis e tempo para cozinhar, além da possibilidade de dividir tarefas domésticas para evitar a sobrecarga de trabalho das mulheres. Nesse contexto, é importante que sejam desenvolvidas políticas públicas que facilitem e incentivem a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis", afirma Patrícia Jaime, vice-coordenadora do Nupens.
A dificuldade de acesso a alimentos, que leva à insegurança alimentar, tem sido um tema bastante debatido durante a pandemia. Milhares de brasileiros passam fome enquanto empresas multimilionárias de alimentos e bebidas ultraprocessados se aproveitam da situação para vender seus produtos. Com a promessa de serem mais práticos e baratos, colocam-se como opção quando as pessoas se veem sem nada para comer.
Coutinho defende que em vez de o Estado dar incentivos, inclusive financeiros, a essas empresas, ele fortaleça as políticas públicas que promovam o consumo de comida saudável e sustentável. "A população está passando fome, mas tem o direito de se alimentar com qualidade", enfatiza.
Saiba mais
Baixe o Guia Alimentar para a População Brasileira gratuitamente: https://guiaalimentar.org.br