Invista na tranquilidade
A pandemia nos mostrou a importância de se ter uma reserva de emergência, pois imprevistos vão acontecer uma hora ou outra. Veja, a seguir, dicas para aplicar bem o seu dinheiro
Foi-se o tempo em que guardar dinheiro era sinônimo de colocá-lo na caderneta de poupança ou ser "refém" das sugestões de investimento do gerente do banco. Hoje, quem tem acesso à internet consegue investir sozinho por meio das corretoras de valores que, diferentemente dos "bancões", que só oferecem seus próprios títulos, disponibilizam inúmeras opções, de diversas instituições financeiras. "As corretoras virtuais democratizaram os investimentos ao permitir que pessoas de diferentes classes sociais tenham acesso a ativos financeiros variados", diz a economista Ione Amorim, coordenadora do programa Serviços Financeiros do Idec.
E não é preciso ser rico para investir, pois com R$ 30 dá para comprar um título do Tesouro Direto, por exemplo. Mirna de Fátima Pasti Ferreira Borges, educadora financeira por trás do Economirna, canal do Youtube com 1,12 milhões de inscritos, acredita que o mais importante não é a quantia investida, mas a mudança de mentalidade: "Quando a mentalidade muda, e os resultados começam a aparecer, a pessoa começa a sentir prazer em investir".
É fato que estamos passando por uma crise econômica gravíssima, com muitos brasileiros lutando para colocar comida no prato. Essa parte da população, infelizmente, não tem condições de guardar dinheiro. Mas há aqueles cidadãos privilegiados, que continuam trabalhando e até passaram a gastar menos com lazer e refeições fora de casa. Se você faz parte desse grupo, essa matéria é para você.
A pandemia do novo coronavírus deixou evidente a importância da reserva de emergência – aquele dinheiro que você deve guardar para quando ocorrer um imprevisto (o ideal é que seja suficiente para cobrir seus gastos mensais por de seis a doze meses). "Ela precisa estar num investimento seguro e de liquidez diária, ou seja, que você possa sacar a qualquer momento sem perder a rentabilidade", indica Amorim. "Eu gosto de formar a reserva de emergência antes de investir em outros objetivos, porque ela dá tranquilidade, além de tempo para estudar outros investimentos", conta Gabriela Mosmann, educadora financeira e analista de investimento da Suno Research.
COMO VIRAR UM INVESTIDOR
Segundo Mosmann, o primeiro passo para virar um investidor é ter a vida financeira organizada, isto é, saber quanto ganha, quanto gasta e quanto consegue poupar por mês (leia a matéria "Um olho no presente, outro no futuro", publicada na edição 230 da Revista do Idec).
Depois, abrir conta em uma corretora de valores (ou em mais de uma, já que é gratuito) e definir, por meio de um teste, o seu perfil de investidor, que pode ser conservador (não aceita correr riscos), moderado (tolera algum risco) ou arrojado (aberto a riscos).
Por fim, ter clareza sobre seus objetivos (para que usará o dinheiro e quando), pois como Borges costuma dizer em seu canal "dinheiro sem destino é recurso perdido". Os objetivos são fundamentais para a escolha do investimento. "No caso da reserva de emergência, a segurança é mais importante do que a rentabilidade. Já quem for usar o dinheiro daqui a alguns anos, encontrará opções mais rentáveis, pois quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, mais ele renderá, por conta dos juros compostos [entenda como eles funcionam no quadro da página 24], exemplifica a economista do Idec.
A SEGURANÇA DA RENDA FIXA
As educadoras financeiras consultadas para esta reportagem foram unânimes ao indicar a renda fixa (veja essa e outras definições no quadro abaixo) para iniciantes, por ser mais simples de compreender, além de mais segura. Os principais investimentos dessa categoria são: Tesouro Direto (você empresta dinheiro para o Governo Federal), CDB (empresta dinheiro para o banco), LC (empresta dinheiro para uma financeira), LCI (empresta dinheiro para o banco financiar o setor imobiliário) e LCA (empresta dinheiro para o banco financiar o setor agropecuário).
TERMOS QUE VOCÊ DEVE CONHECER
- Renda fixa: as regras de remuneração do investimento são definidas previamente, ou seja, você sabe quanto irá receber na data de vencimento.
- Renda variável: a remuneração não é informada, pois varia de acordo com as expectativas do mercado.
- Tesouro Direto: títulos públicos oferecidos pelo Governo Federal.
- Taxa-Selic: taxa básica de juros da economia. É usada em empréstimos, financiamentos e alguns investimentos.
- CDI (Certificado de Depósito Interbancário): taxa usada pelos bancos para emprestar dinheiro entre eles. Sempre próxima à Taxa Selic, ela é usada como referência para a rentabilidade de investimentos de renda fixa.
- IPCA (Índice de Preços ao Consumidor): índice oficial da inflação no país.
- Liquidez: capacidade de converter um ativo em dinheiro (quanto mais rápido for vendê-lo, mais líquido ele é).
- FGC (Fundo Garantidor de Crédito): instituição privada, sem fins lucrativos, que protege o investidor caso o banco quebre. O FGC cobre até R$ 250 mil por CPF/CNPJ e por banco, totalizando R$ 1 milhão. Os investimentos protegidos são: poupança, CDB, RDB, LCI, LCA, LC e LH.
Assim como a poupança, a LCI e a LCA são isentas de Imposto de Renda (IR). Já o Tesouro Direto não (a cobrança é regressiva, ou seja, quanto menos tempo o dinheiro fica investido, maior a alíquota, sendo a máxima de 22,5%, e a mínima, de 15%). Isso é algo a se considerar na hora de comparar as rentabilidades. "Outro ponto que merece atenção é a cobrança de IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], que impacta principalmente investimentos de curto prazo. Para não pagar essa taxa é preciso deixar o dinheiro investido por mais de 30 dias", informa Amorim.
ONDE INVESTIR A RESERVA DE EMERGÊNCIA
Muitos especialistas em finanças indicam o Tesouro Selic para reserva de emergência, por ser superseguro (a probabilidade de o governo quebrar é muito baixa) e render mais do que a poupança, mesmo com a Taxa Selic – que é usada para calcular os juros – baixíssima. "A Selic está mais baixa, mas a inflação também está. É importante entender essa relação. É muito benéfico para o nosso país ter uma Selic baixa, pois ela acelera a economia", explica Mosmann, completando: "Além disso, a renda fixa não serve para aumentar o patrimônio, seu papel é garantir a segurança da carteira de investimentos".
A MÁGICA DOS JUROS COMPOSTOS
Para quem tem dívida, os juros compostos (ou juros sobre juros) são um pesadelo, pois fazem ela virar uma bola de neve, já que não são calculados sobre o débito inicial, mas com base no último montante. Contudo, para investidores, eles são ótimos, pois fazem com que o valor investido cresça exponencialmente. Por exemplo, se você aplicar R$ 100 em um título que rende 10% ao mês durante três meses, não receberá R$ 130 no dia do vencimento. Após o primeiro mês, você terá R$ 110; no segundo mês, R$ 121; e no terceiro mês, R$ 133,10. Ou seja, R$3,10 a mais. Agora imagine isso num investimento de longo prazo com aplicações mensais!
Outro investimento bastante procurado para a reserva é o CDB (sigla de Certificado de Depósito Bancário), emitido por bancos. "Ele precisa ter liquidez diária e render no mínimo 100% do CDI", recomenda Borges. Uma dúvida comum é: "vi um CDB com boa rentabilidade, mas nunca ouvi falar da instituição emissora. Posso confiar?". Sim! "Bancos menores oferecem maior rentabilidade, porque precisam ser atrativos para conseguir os recursos de que precisam. Além disso, o risco de quebrarem é maior. Contudo, o investidor é protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) [leia mais na página 23]", observa a economista do Idec.
APOSENTADORIA E OUTROS PROJETOS
A renda fixa também é indicada para projetos de curto, médio e longo prazos. Para a tão sonhada independência financeira, por exemplo, o Tesouro IPCA – outro título do Tesouro Direto – é uma opção interessante, segundo Amorim. "Ele tem rentabilidade pré-definida e normalmente é remunerado pela variação da inflação mais um percentual. Assim, se resgatado na data de vencimento, o ganho real é superior à inflação", ela esclarece.
Quando estiver confortável com os investimentos de renda fixa e com a reserva de emergência formada, você pode começar, aos poucos, a se arriscar na renda variável, mas não sem antes estudá-la bem. "Siga perfis sobre finanças nas redes sociais, leia livros e faça cursos. É importante não copiar o que os outros fazem, mas se conhecer", aconselha Mosmann.
Saiba mais
- E-book Planejamento financeiro descomplicado, do Idec: http://bit.ly/33vDsf8
- Cursos oferecidos pelo Tesouro Direto: https://bit.ly/3aJ531H)
- Canais do Youtube: Economirna (https://bit.ly/31UKDio) e Gabriela Mosmann (https://bit.ly/3aNgy8n)
- Planilha de orçamento doméstico do Idec (http://bit.ly/2DQE84p) e matéria em que ensinamos a usá-la (https://bit.ly/2Qo7JIW)