Voluntariado
Em 28 de agosto, o Dia Nacional do Voluntariado faz 25 anos, e nunca foi tão importante ajudar o próximo. Reunimos algumas dicas inspiradoras para quem não tem ideia de como começar
Você faz ou já fez algum trabalho voluntário? Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2019 – realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, 6,9 milhões de pessoas com 14 anos ou mais fizeram voluntariado no Brasil na semana da pesquisa.
A executiva de vendas paulistana Bruna de Castro, 38 anos, faz parte do grupo que reserva parte do seu tempo para ajudar os outros. Desde 2016, ela é uma volunteacher (trocadilho com as palavras voluntário e teacher, que significa professor em Inglês) no projeto Cidadão Pró-Mundo, responsável por dar aulas de Inglês em comunidades carentes. "São 150 turmas na cidade de São Paulo (SP) e no interior, além do Rio de Janeiro. Ao todo são 2.500 alunos e 1.400 voluntários. No Capão Redondo [bairro periférico de São Paulo (SP)], onde eu atuo, temos 16 turmas, 271 alunos e 126 voluntários", conta Castro, empolgada. Para ela, que dá uma aula de três horas de duração por mês (sempre aos sábados de manhã), o trabalho é cansativo, mas recompensador. "Eu queria muito dar aulas de Inglês para poder compartilhar o que eu havia aprendido porque meu pai pôde pagar uma boa escola e um intercâmbio para mim. Mas eu acabo aprendendo muito com eles também", declara.
Castro deu sorte de ter encontrado uma organização que precisava de professores de Inglês, exatamente o que ela sonhava fazer. Mas tem muita gente que tem vontade de ser voluntário, porém não sabe por onde começar, principalmente agora, quando a pandemia de coronavírus está dificultando as atividades presenciais. É aí que entram os muitos sites que fazem o "meio de campo" entre instituições que precisam de ajuda e cidadãos que querem ajudar. Para essa reportagem, conversamos com Renato De Giovanni, desenvolvedor de software e colaborador do voluntarios.com.br, e Daniel Morais, fundador do Atados (https://www.atados.com.br). Veja, a seguir, as dicas que eles deram.
Voluntariado digital
Hoje, muitas atividades podem ser feitas em casa, pelo computador ou celular. Giovanni e Morais citam algumas: design gráfico, produção de conteúdo, tradução, gestão de mídias sociais, treinamentos, consultoria jurídica, assistência psicológica, captação de recursos, entre tantas outras. "Tem muita gente escrevendo cartas para pessoas que estão isoladas [por conta da quarentena] e que precisam de carinho", exemplifica o fundador do Atados.
Atividades que podem ser executadas
Há uma infinidade de tarefas que os voluntários podem fazer, das mais "braçais", como construção de casas populares e plantio de árvores, ou mais comuns, como ler para crianças hospitalizadas ou idosos, até as que precisam de conhecimentos específicos, nas áreas jurídica, contábil, médica, veterinária, educacional etc. "No Atados, temos uma instituição que estava procurando um sósia do Chacrinha, por exemplo", lembra Morais.
Como escolher uma instituição
É importante ter clareza sobre a causa pela qual se quer lutar e o público que quer beneficiar (moradores de rua, idosos, crianças, jovens etc.). Giovanni recomenda visitar a instituição a fim de conhecer o ambiente e as pessoas com as quais vai atuar, além de buscar informações sobre ela em meios confiáveis.
VOLUNTÁRIA POR NATUREZA
A piracicabana Sandra Virgínia Stoffelshaus, residente em São Paulo (SP), tem uma história inspiradora. Seu primeiro trabalho voluntário foi na quinta série: "Ajudei a arrumar o jardim da escola, que era muito feio", ela conta. Depois, virou escoteira, e durante toda a adolescência e a vida adulta se envolveu em projetos sociais, principalmente com crianças carentes. "Eu sempre acreditei que o trabalho voluntário realmente ajuda quem precisa e promove mudanças", ela afirma.
Em 2002, Stoffelshaus descobriu o CISV – organização fundada em 1951 para promover a educação pela paz por meio de programas multiculturais. Depois de assistir a uma palestra, resolveu se candidatar a uma vaga de voluntária. "A psicoterapeuta Doris Allen [fundadora do CISV] queria que as pessoas respeitassem as diferenças. Então, resolveu fazer acampamentos com crianças de 11 anos – que estão em fase de formação do caráter – de várias partes do mundo, de religiões e culturas diferentes, como forma de incentivar a construção de amizades sem preconceitos", explica a voluntária, que já liderou 13 acampamentos em diversos países. "Eu acredito profundamente no que Doris Allen dizia e sinto uma satisfação indescritível ao ajudar as crianças dos meus grupos a fazer amizades para a vida toda, a enxergar as diferentes realidades que existem no mundo e a desenvolver a empatia. É um trabalho que exige muita responsabilidade", ela diz.
Hoje, o CISV está presente em cerca de 60 países (mais de 200 cidades), que sediam e/ou participam dos acampamentos anuais destinados a crianças e adolescentes de 11 a 19 anos.
Além do CISV, Stoffelshaus é voluntária em outras ONGs, ajudando-as com a parte administrativa.
Também é preciso descobrir o que você gostaria de fazer. "Tem gente que quer usar suas habilidades profissionais e gente que quer sair totalmente da sua zona de conforto e fazer coisas diferentes", diz Morais. "No caso de quem quer se enveredar em uma atividade nova, será preciso encontrar uma instituição disposta a investir em treinamento", completa Giovanni.
Características necessárias para ser um voluntário
Para Giovanni, dedicação, comprometimento, disciplina e perseverança são características fundamentais. "Muita gente tende a romantizar um pouco o trabalho voluntário, achando que vai ser tudo maravilhoso. Só que a pessoa vai encontrar os mesmos desafios de um trabalho remunerado. Por isso, é bom saber ouvir, respeitar ideias e opiniões diferentes, além de compreender as imperfeições dos outros. Também não dá para achar que será o 'salvador da pátria' ", opina ele.
A consultora estratégica de recursos humanos e voluntária em várias ONGs Sandra Virgínia Stoffelshaus, 43 anos, acredita que autoconhecimento é essencial. "Não é todo mundo que tem perfil para atuar com idosos num asilo e tudo bem, pois há muitas formas de ajudar, direta ou indiretamente. "Quem se conhece procura fazer algo de que gosta e em que acredita, não faz por modismo", defende. Leia mais sobre a história de Soffelshaus no quadro "Voluntária por natureza".
FAZER O BEM FAZ BEM
Existem vários estudos que mostram que gestos de bondade aumentam o bem-estar pessoal. Ou seja, voluntários acabam se beneficiando ao ajudar quem precisa. Para Giovanni, o trabalho voluntário, além de proporcionar amadurecimento a quem o pratica, é uma boa forma de fazer amigos. "Também é importante para a área profissional, pois cada vez mais as empresas estão valorizando candidatos que tenham alguma experiência com voluntariado", ele aponta.
Morais destaca o senso de empatia e o conhecimento de novas realidades. "Trabalhar com pessoas que têm histórias diferentes da sua, como refugiados ou presidiários, amplia a visão de mundo. É diferente de ler notícias ou ver reportagens na TV", ele compara. Soffelshaus concorda que ao fazer trabalho voluntário passamos a ver o mundo como ele é e acrescenta: "O voluntário desenvolve o senso crítico e valoriza o trabalho coletivo, pois entende que é preciso que cada um faça um pouquinho para mudar o mundo. E o resultado, muitas vezes, só virá em longo prazo. Mas virá!", ela acredita.
Saiba mais
Cidadão Pró-Mundo: www.cidadaopromundo.org e CISV: www.cisv.org.br