Onde é mais barato?
Pesquisa realizada ao longo de um ano reforça que o preço dos orgânicos varia muito conforme o canal de venda. Grupos de Consumo Responsável despontam como opção mais barata, inclusive em relação a alguns alimentos convencionais
Quando o assunto é alimentos orgânicos, a questão do preço ainda é indissociável. Senso comum, o custo elevado desses produtos é tido como principal fator que impede sua popularização e consumo por grande parcela dos consumidores. Para desmistificar a questão, o Instituto Kairós, em parceria com a Rede Brasileira de Grupos de Consumo Responsável, realizou uma pesquisa comparando os preços de frutas e hortaliças convencionais e orgânicas em diferentes canais de comercialização – supermercado; feira convencional e orgânica; e Grupos de Consumo Responsável (GCR) – grupos organizados por consumidores para realizar compras coletivas de orgânicos direto dos produtores. O levantamento foi realizado durante um ano, em cinco cidades do país, e contou com o apoio do Idec.
A principal conclusão da pesquisa é que o local de compra influencia – e muito – no preço dos orgânicos. "Verificamos uma diferença significativa entre os canais [de venda], entre os quais destacam-se os supermercados pelos valores mais altos e os Grupos de Consumo pelos menores preços", comenta a coordenadora da pesquisa, Morgane Retiere.
O resultado não é exatamente inédito – ele reforça o que foi constatado pelo Idec em 2010, quando uma pesquisa identificou diferença de até 463% nos preços de produtos na feira orgânica e no supermercado. "Em partes, a pesquisa atualiza o estudo pioneiro feito pelo Idec há seis anos, com mais dados e uma abrangência maior", observa Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec.
A pesquisa do Kairós avançou ao comparar os preços dos orgânicos também com os alimentos convencionais. Essa análise trouxe um resultado interessante: considerando o preço médio no GCR, o orgânico pode até sair mais em conta do que alimentos produzidos com agrotóxicos à venda no supermercado, principalmente. Mais um mito que cai por terra. Veja, a seguir, outros detalhes do levantamento.
ORGÂNICOS: O LOCAL IMPORTA
A primeira parte do levantamento analisou a variação de preços somente entre os produtos orgânicos de acordo com o canal de vendas. Como era de se esperar, os supermercados foram responsáveis pelos maiores preços, tanto em comparação ao GCR quanto às feiras orgânicas.
Para Morgane Retiere, a diferença é decorrente da estrutura de venda e dos gastos com logística dos supermercados, que acabam sendo revertidos para os preços. Além disso, acrescenta Bortoletto, o custo mais elevado envolve o marketing que os supermercados criam em torno dos orgânicos, explorando-os como "gourmet".
• GCR x Supermercado
No supermercado, os preços dos orgânicos são de duas a quatro vezes maiores do que nos GCRs em mais da metade dos itens pesquisados. À época do levantamento, o preço médio do quilo do chuchu orgânico, por exemplo, era de R$ 7,57 no supermercado, e de R$ 2,43, nos GCR – mais de 200% de diferença.
Feira orgânica x Supermercado
As feiras orgânicas também apresentaram preços mais baixos do que os supermercados. Em três quartos dos produtos analisados, a diferença se situa entre 50% e 100% (ou seja, itens que custavam R$ 1 na feira orgânica saíam entre R$ 1,50 e R$ 2 no supermercado).
A diferença oscilou de 10% – caso da banana prata, cujo preço médio era R$ 5 na feira orgânica e R$ 5,50 no mercado –, até 116%, variação constatada no preço do quiabo – R$ 8 na feira e R$ 17,30 no supermercado.
CESTA DE ORGÂNICOS
Preço médio de uma cesta de 17 produtos
Abacate - abobrinha brasileira - abobrinha italiana- alface americana - alface crespa - banana nanica - banana prata - berinjela - brócolis ninja - brócolis ramoso - cenoura - chuchu - limão tahiti - ovo quiabo - tomate italiano - tomate salada
Supermercado
R$ 144
Feira
R$ 98
GCR
R$ 69
O levantamento foi realizado entre julho de 2014 e junho de 2015, de forma voluntária por cinco Grupos de Consumo Responsável (CGR) nas cidades de Alta Floresta (MT); Piracicaba (SP); Rio de Janeiro (RJ); Salvador (BA) e São Paulo (SP). A pesquisa foi idealizada pela Rede Brasileira de Grupos de Consumo Responsável e coordenada pelo Instituto Kairós com o apoio do Idec.
Durante o período de pesquisa, foram coletados uma vez por mês os preços de 22 tipos de frutas, hortaliças e ovos em quatro tipos de canais de comercialização: supermercado (produtos orgânicos e convencionais); feira convencional (produtos convencionais); feira orgânica (produtos orgânicos) e grupos de consumo responsável (produtos orgânicos).
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• GCR x Feira orgânica
Embora ambos apresentem preços sensivelmente inferiores aos do supermercado, o Grupo de Consumo se mostrou mais competitivo do que a feira orgânica. Todos os preços médios na feira foram maiores do que no GCR, exceto em três casos: o do brócolis, cujo preço da feira orgânica era menor do que nos Grupos, e do ovo e da cenoura, com valores equivalentes.
A nutricionista do Idec lembra que tanto os grupos de consumo quanto as feiras orgânicas são alternativas de compra direta com o produtor, o que influencia nos preços mais baixos.
No caso do GCR, uma vantagem maior é obtida pelo fato de que todo o processo de aquisição e distribuição dos produtos é gerenciado de forma voluntária pelos participantes, enquanto o feirante é remunerado por sua atividade. A "desvantagem" do GCR é que ele exige um engajamento muito maior dos consumidores. Saiba mais no quadro ao lado.
SEMPRE MAIS CARO?
Na segunda parte da pesquisa, o intuito foi verificar se os orgânicos são mesmo sempre mais caros do que os alimentos convencionais – produzidos com agrotóxicos, fertilizantes artificiais e até sementes transgênicas. Nessa etapa, o recorte considerou os preços dos orgânicos no GCR – onde eles são mais baratos – e os dos produtos convencionais no supermercado e na feira.
Embora o preço seja, sim, um fator importante, Ana Paula Bortoletto defende que é preciso olhar para além dele. "É preciso considerar todos os fatores que envolvem a produção dos orgânicos, principalmente em relação aos riscos à saúde e ao meio ambiente associados à aplicação e ao consumo de agrotóxicos", diz. "O custo mais elevado pode ser visto como um investimento: você vai economizar depois lá frente, com a sua saúde", conclui a nutricionista do Idec.
• Orgânicos (GCR) x Convencionais no supermercado: aproximadamente dois terços dos produtos apresentaram preços equivalentes ou menores no GCR. Mas houve casos em que o orgânico apresentou preço sensivelmente superior, como o do brócolis ninja, cujo valor médio no GCR era de R$ 5,20 a unidade, e no supermercado de R$ 2,75 (88% de variação).
• Orgânicos (GCR) x Convencionais na feira: frente aos alimentos convencionais comercializados na feira, os orgânicos eram mais caros em cerca de dois terços dos casos. Mas houve exceções: os preços médios da abobrinha brasileira, alface crespa e americana, abacate e brócolis ninja, eram mais baixos no GCR.
Relembre a pesquisa feita pelo Idec em 2010 sobre o preço dos orgânicos, publicada na edição no 142. Acesse: bit.ly/pesquisa-orgânicos2010