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Doce demais


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CONTINUE LENDOIMAGEM DE DESTAQUE Entenda como o açúcar age no organismo, os riscos do consumo exagerado e por que você pode estar comendo demais sem nem perceber

Brigadeiro, bolo, pudim, sorvete, biscoito, refrigerante. A lista é extensa quando o assunto é alimento açucarado. Tão grande quanto é a dificuldade de resistir a essas guloseimas no dia a dia. Mas, afinal, o açúcar é mesmo esse vilão que pintam por aí?

O problema, como sempre, está no excesso. Mas exagerar no doce pode ser mais fácil do que se imagina, principalmente pelo consumo rotineiro de alimentos industrializados. "Os produtos ultraprocessados são a principal fonte de açúcar adicionado, ou seja, aquele que não está naturalmente presente nos alimentos e é incluído com o objetivo de torná-los mais palatáveis", diz Ana Paula Bortoletto, nutricionista e pesquisadora do Idec.

Por que é tão difícil resistir aos doces?
"Alimentos palatáveis [guloseimas] em geral atuam no sistema límbico e liberam serotonina – neurotransmissor associado ao prazer. Eles dão um boom de prazer, mas rapidamente o cérebro recapta esses neurotransmissores, por isso dá vontade de comer mais".

É um tipo de vício?
"Não há vício 'físico' em açúcar. Ou seja, se o indivíduo deixar de comer, ele não vai sofrer os efeitos como um alcoólatra que para de beber, por exemplo. Porém, existe dependência psicológica ao açúcar e ela pode ser tratada. Muitas vezes, o tratamento é para ansiedade".

Patricia Dualibi, endocrinologista da Unifesp

SILHUETA E SAÚDE EM JOGO

O consumo de açúcar exige atenção porque ele é um composto simples, que é rapidamente absorvido pelo organismo. "Ele provoca um pico de glicemia, ou seja, uma elevação brusca no nível de glicose na corrente sanguínea", explica a nutricionista.

Como é muito calórico, o açúcar gera uma quantidade bem alta de glicose, que é utilizada como "combustível" para o funcionamento das células. Até aí, tudo bem. Mas se a ingestão for além do que o corpo precisa para suas funções vitais, a glicose extra será transformada em gordura e depositada nos tecidos adiposos. O resultado disso é um só: engordar.

"Se a pessoa [come açúcar em excesso e] não for um grande atleta, vai ganhar peso. O sobrepeso, por sua vez, pode levar ao desenvolvimento de comorbidades, como pressão alta, diabetes e doenças cardiovasculares, se houver predisposição", diz Patricia Dualib, endocrinologista do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A médica ressalta, porém, que é um grande mito que comer açúcar demais causa diabetes. "A doença só vai aparecer se o indivíduo tiver predisposição, como consequência da obesidade. Se não, a produção de insulina será adequada ao açúcar ingerido, mesmo que em grande quantidade. Há obesos que nunca desenvolvem diabetes", afirma.

Veja o infográfico na próxima página ao lado para entender como o açúcar age no organismo.

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Os brasileiros consomem bem mais açúcar por dia do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo definição recente da OMS, o ideal é que a ingestão desse nutriente não passe de 5% do valor diário de calorias, sendo aceitável até 10%. No entanto, os brasileiros atingem 16,3%, segundo estudo feito com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009. A recomendação refere-se ao açúcar adicionado aos produtos e presente em alimentos como mel e suco de frutas.

AÇÚCAR ESCONDIDO

Se um alimento industrializado tem sabor doce, pode desconfiar que a quantidade de açúcar presente nele é enorme. Infelizmente, hoje não dá para saber precisamente a quantidade presente nos produtos brasileiros, pois, pela legislação em vigor, essa informação é opcional. Na tabela nutricional, é obrigatório constar apenas o teor de carboidratos; se quiser, o fabricante indica também quanto desses carboidratos é açúcar.

Em alguns países, como no Canadá, é obrigatório não só informar a quantidade de açúcar como também especificar o quanto foi adicionado ao produto — diferenciando-o daquele naturalmente presente nos ingredientes utilizados. Regra semelhante está sendo discutida nos Estados Unidos.

Como descobrir se tem açúcar?

Para driblar a falta de informação sobre açúcar na tabela nutricional, o jeito é olhar a lista de ingredientes no rótulo. Ela apresenta os ingredientes em ordem decrescente, ou seja, o primeiro item da lista é o que está presente em maior quantidade no produto e o último, em menor. Assim, se o açúcar for um dos primeiros da lista, já dá para saber que o produto é muito açucarado.

Outros nomes para o açúcar

A dica de olhar a lista de ingredientes nem sempre funciona tão bem. Há fabricantes que, para mascarar a presença e a quantidade do nutriente, usam diversas formas de açúcar, com nomes diferentes, em um mesmo produto.

O açúcar ou outros ingredientes usados para adoçar alimentos podem aparecer como: açúcar branco/refinado, açúcar bruto, açúcar cristal, açúcar de confeiteiro, açúcar invertido, açúcar mascavo, glicose, frutose, sacarose, lactose, maltose e xarope de milho, caldo de cana, cristais de cana, dextrose, glucose, glucose de milho, maltodextrina, mel, melaço/melado, néctares, xarope de bordo e xarope de malte.

As frutas também têm açúcar. Seu efeito é o mesmo dos doces?

"Não. As frutas têm açúcar, mas também têm fibras e nutrientes. É bem diferente de quando o açúcar é adicionado a alimentos e bebidas, que só fornece calorias, mais nada."

Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec


URL de origem:https://idec.org.br/em-acao/revista/qual-sera-a-proxima/materia/doce-demais-2015