Conta bancária mais cara
Levantamento do Idec mostra que, no último ano, os bancos reajustaram os pacotes de serviços e as tarifas avulsas bem acima da inflação. O aumento chega a 136% entre os serviços avulsos e a 75,2% entre os pacote
Você sabe qual é o seu pacote de serviços bancários? Para 46% dos internautas que participaram de uma enquete feita no portal do Idec, a resposta é não. Se esse é o seu caso também, atenção: é provável que você esteja pagando mais caro para manter a sua conta sem nem perceber. O Idec fez uma pesquisa e constatou que os seis maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú e Santander) aumentaram e muito o valor dos pacotes de serviços e de tarifas avulsas no último ano.
Dos 75 pacotes de serviços atualmente oferecidos pelos bancos, 44% sofreram reajustes. Em muitos casos, os aumentos aplicados foram bem superiores à inflação do período (de março do ano passado a fevereiro deste ano), medida em 7,7%. O Bradesco, por exemplo, elevou o preço de um de seus pacotes em 75,2% – quase dez vezes acima da inflação. "Os reajustes foram mais frequentes entre os pacotes de custo intermediário, os quais, possivelmente, são os mais utilizados pelos consumidores", aponta Ione Amorim, economista e pesquisadora do Idec.
Entre as tarifas avulsas, os aumentos, apesar de pontuais, também foram significativos. O HSBC, por exemplo, elevou a anuidade de um cartão de crédito em 136%. "Os índices [de reajuste] muito superiores à inflação são abusivos e sem justificativas do ponto de vista da prestação do serviço", explica Amorim.
A partir das informações disponíveis no site dos seis maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú e Santander), o levantamento avaliou os reajustes aplicados às tarifas avulsas e aos pacotes de serviços no último ano (de março de 2014 a março de 2015). Excepcionalmente, os reajustes de parte dos pacotes do Banco do Brasil foram comparados com os comercializados em 2013, quando o banco renovou a carteira de serviços.
Em relação às tarifas avulsas, para fins de comparação, o Idec selecionou 12 tarifas prioritárias de serviços mais utilizados pelo consumidor e oferecidos por todos os bancos. O estudo foi realizado com o apoio da Oxfam Novib e compõe o Guia dos Bancos Responsáveis (GBR).
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Os aumentos nos pacotes de serviços afetam mais o consumidor, pois grande parte dos correntistas tem um pacote de serviço (embora muitos não saibam disso) contratado na abertura da conta. O cliente paga um valor fixo por mês pelos serviços incluídos nesse pacote; caso exceda o número de operações ou utilize algum serviço que não faz parte de seu pacote, aí sim a tarifa avulsa é cobrada. Os clientes do Bradesco que no ano passado pagavam R$ 27,40 pela Cesta Exclusive Fácil, por exemplo, agora têm de desembolsar R$ 48 por mês. O segundo maior aumento também foi aplicado pelo Bradesco: a Cesta Exclusive está 33,3% mais cara, subiu de R$ 27,30 para R$ 36,40.
O levantamento observou, ainda, que os pacotes descontinuados – aqueles que não são mais ofertados pelos bancos para novos clientes, mas que continuam valendo para os correntistas "antigos" – estão entre os que sofreram os maiores aumentos. Os reajustes mais consideráveis nesse grupo foram os do Banco do Brasil, chegando a 56,8% para o pacote Modalidade 50, que saltou de R$ 31,35 para R$ 49,15. A avaliação do Banco do Brasil, especificamente, levou em consideração os pacotes que eram comercializados até 2013, ano em que a instituição deixou de ofertar 26 pacotes. Agora foi a vez do Itaú alterar todo o seu portfolio para novos clientes e aplicar altos reajustes aos pacotes contratados pelos antigos correntistas: a MaxiConta Itaú Eletrônica, por exemplo, subiu 25,2%, passando de R$ 11,10 para R$ 13,90.
Na opinião da economista do Idec, os preços dos serviços bancários deveriam ser controlados pelo Banco Central. "A prática de aplicar reajustes muito acima da inflação exige uma revisão e aprimoramento das normas do setor para garantir os direitos dos consumidores, reduzir o índice de reclamações e evitar a judicialização dos conflitos", defende Amorim.
O Banco Central, no entanto, limita-se a dizer que cada instituição estabelece seu reajuste em função da sua "estratégia operacional e mercadológica" e que os casos de eventuais abusos na fixação de preço são competência dos órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, como os Procons.
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Para facilitar a comparação entre as tarifas avulsas, o Idec selecionou 12 das 38 definidas como prioritárias pelo Banco Central, escolhendo as operações mais utilizadas pelo consumidor e oferecidas por todos os bancos. Considerando esse recorte, o Banco do Brasil aplicou 18,5% de reajustes nas tarifas. Em seguida, estão a Caixa, com 16,96% de aumento, e o Itaú, com 8,46%.
Além da anuidade de cartão de crédito do HSBC, que aumentou "apenas" 136% (de R$ 50 para R$ 118), destacam-se os reajustes aplicados ao fornecimento de segunda via de cartão, que subiu 58% no Banco do Brasil (de R$ 5 para R$ 7,90) e 43,64% no Santander (R$ 5,50 para R$ 7,90). Na Caixa Econômica, um extrato pessoal de depósitos à vista ou de poupança foi de R$ 1,45 para R$ 2,20 – 51,72% mais caro.
Chama a atenção que o valor das tarifas avulsas para o mesmo serviço é muito diferente entre um banco e outro. O pagamento de contas na função crédito, por exemplo, custa R$ 4 no Banco do Brasil e R$ 19,90 no Santander – variação de 397,5%. Nesses mesmos bancos, a tarifa de retirada em espécie com cartão de crédito custa R$ 5 e R$ 15, respectivamente, o que corresponde a 200% de diferença. Uma ferramenta criada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) permite comparar o valor das tarifas avulsas cobradas pelas principais instituições financeiras. Para consultá-la, acesse: http://www.febraban-star.org.br/.
Sem informação? Saiba o que fazer
Era de se esperar o resultado da enquete, em que a maioria dos internautas respondeu desconhecer qual é o seu pacote de serviços e o valor pago por ele. Pesquisas realizadas pelo Idec evidenciam que, em muitos casos, na abertura de conta o banco define o pacote com base na renda do consumidor, tolhendo o seu direito de escolha. Além disso, muitas instituições não fornecem sequer documentos que detalhem os serviços contratados. Dessa forma, fica difícil mesmo que o correntista saiba qual é o seu pacote.
Se esse é o seu caso, o Idec recomenda que você consulte o seu extrato ou questione o banco a respeito do pacote vinculado à sua conta. Preste atenção no valor da mensalidade e nos serviços incluídos nele, comparando-os às suas necessidades. "Se o pacote for caro ou incluir operações que o correntista não usa, é possível solicitar a mudança por um mais barato e adequado ao seu perfil", recomenda Ione Amorim. "Há também a opção de utilizar os serviços essenciais, que são gratuitos", completa.
De acordo com a Resolução nº 3.919/2010 do Banco Central, as instituições são obrigadas a disponibilizar o extrato anual de tarifas até 28 de fevereiro correspondente ao ano anterior, contendo detalhadamente o valor do pacote contratado, as tarifas avulsas e os juros eventualmente cobrados do consumidor.
SAIBA MAIS
Relembre a última pesquisa realizada pelo Idec sobre abertura de contas. Acesse: http://goo.gl/8XmVbj