O veneno pode ficar fora da mesa
Título: O veneno está na mesa II
Gênero: documentário
Roteiro e direção: Sílvio Tendler
Produção: Caliban Cinema e Conteúdo
Duração: 70 minutos
Onde assistir: http://goo.gl/LnURRzr
por JOÃO PAULO AMARAL*
Os desafios do sistema agrícola convencional no Brasil, baseado no uso extensivo de agrotóxicos, são vastos, mas o novo documentário de Silvio Tendler, O veneno está na mesa II, mostra que "outro mundo é possível". A obra aponta quais caminhos estão sendo traçados rumo a um modelo mais sustentável, abordando o tema com certo tom artístico, com imagens e narrações lúdicas – formato que pode agradar a alguns mais, a outros menos.
O filme começa chamando a atenção para uma crise de saúde pública no Brasil, que enfrenta um número crescente de casos de câncer atrelados ao uso de pesticidas, além do dado assustador de que, a cada 90 minutos, um produtor rural é intoxicado pelo manuseio desses produtos no campo.
Outro problema revelado é de cunho político-econômico. O agronegócio produz 30% dos alimentos do mundo, enquanto 50% dos pequenos agricultores, responsáveis por alimentar grande parte da população do planeta, têm apenas 20% das terras. O Brasil segue a mesma proporção e, pior, vive uma desigualdade ainda mais evidente, uma vez que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) investe dez vezes mais no agronegócio do que o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) no pequeno agricultor.
Depois de apresentar esse cenário preocupante, já explorado no documentário anterior (O veneno está na mesa, também dirigido por Tendler), o filme passa a tomar um rumo positivo e a demonstrar que a agroecologia vem se tornando um movimento social com muita força para mudar essa história.
Entre as medidas citadas como parte da solução estão o sistema de agrofloresta, a produção de sementes crioulas, a organização de cooperativas para fortalecer a logística de alimentos orgânicos, as feiras orgânicas e as políticas de incentivo ao uso de alimentos livre de agrotóxicos na merenda escolar. Os exemplos práticos, adotados principalmente no Rio Grande do Sul, revelam que esses são caminhos possíveis e viáveis para todo o Brasil.
Por fim, o documentário convida o espectador para a ação, por meio da participação na Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e Pela Vida. Quem assistir ao filme não pode deixar esse assunto sair de seu cardápio.
*É gestor ambiental, ativista em questões urbanas e membro do Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo (Muda-SP)