Assistência ao parto em questão
Título: O Renascimento do Parto
Gênero: documentário
Produção: Eduardo Chauvet e Érica de Paula
Direção: Eduardo Chauvet
Duração: 90 minutos
Onde encontrar: DVD à venda em livrarias
por CARLA ANDREUCCI POLIDO*
Lançado nos cinemas em agosto de 2013, o documentário O Renascimento do Parto transformou-se rapidamente na segunda maior bilheteria do gênero. O sucesso da produção reflete o grande questionamento que vem sendo feito sobre a assistência ao parto no Brasil. O que começou como uma abordagem técnica, por um grupo de profissionais no início dos anos 90, chega agora como um movimento social pela reinvindicação de direitos reprodutivos.
Para viabilizar a sua exibição, os produtores do filme sensibilizaram o público para um financiamento coletivo (que também atingiu recorde de arrecadação). Dessa forma, a chegada do filme aos cinemas se deu por meio da iniciativa de consumidores de planos de saúde brasileiros, insatisfeitos com a atual oferta de assistência ao parto que esses serviços vêm oferecendo.
O filme traz um retrato claro e conciso da realidade obstétrica brasileira, em que atualmente 55% das crianças nascem por cesariana, chegando a 90% no setor privado, segundo dados do Ministério da Saúde de 2013.
Com a participação de profissionais que estudam e trabalham no modelo humanista, o documentário expõe o cenário do parto medicalizado brasileiro e mostra como o processo fisiológico do nascimento foi modificado, ao longo de anos de valorização da tecnologia, culminando na transformação da operação cesariana em um "tipo de parto".
Ao mesmo tempo, famílias que procuraram alternativas apresentam outra perspectiva possível: o parto natural, no qual intervenções médicas, incluindo a cesariana, são realizadas apenas quando necessárias.
Muito se diz sobre a "opção" das brasileiras pela cesariana, fato já questionado em publicações científicas, inclusive. Tanto o crowdfunding para viabilização da exibição do filme nas telonas quanto a procura voraz por DVDs levam à conclusão de que as mulheres desejam mudanças no modelo obstétrico atual.
*Médica obstetra, professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É mestre em Tocoginecologia e doutoranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)l