Lugar de embalagem não é no lixo
Resposta das empresas
O Idec comunicou todas as redes de supermercados sobre os resultados da pesquisa. Porém, até o fechamento desta edição, apenas duas delas haviam respondido:
• Carrefour: atualizou alguns dados indicados pelo site e SAC, como o número total de lojas – são 143 – e de estações de coleta – 114, o que corresponde a 80% das unidades. A rede informou também que planeja instalar pontos de coleta em todas as lojas possíveis (segundo a empresa, em algumas unidades, como as localizadas dentro de shopping center, a estação é inviável), ampliando para 129 o número de unidades adaptadas. Em relação ao destino dos materiais coletados, o Carrefour disse apenas que ele é "diverso" e por isso a informação não está acessível.
• Supermercados BH: disse que vem acompanhado a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e que se manifestará após a finalização dos acordos setoriais, que estão sendo conduzidos pelas associações de classe estadual (Associação Mineira de Supermercados – Amis) e federal (Abras).
Apenas cinco dos dez maiores supermercados do país recebem material reciclável e de forma limitada; a coleta seletiva nas cidades-sede da Copa também continua baixa, mesmo com 100% de cobertura
As embalagens representam uma parcela significativa dos resíduos sólidos urbanos gerados nas cidades do país. Metal, papel, papelão, Tetra Pak, plástico e vidro, juntos, somaram 32% de tudo que foi coletado em 2012, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). Por representar essa parcela tão significativa do lixo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), criada pela Lei 12.305/2010, determina que as embalagens sejam recolhidas e encaminhadas para o reuso ou a reciclagem, por todos os elos de sua cadeia – do fabricante ou importador, passando pelo comerciante e até o consumidor.
E é por isso que o Idec decidiu perguntar aos dez maiores supermercados do Brasil como anda o recebimento das embalagens recicláveis em suas lojas, contribuindo para a chamada "logística reversa". Por meio desse instrumento, a indústria recebe e destina corretamente os resíduos pós-consumo de seus produtos. "A pesquisa concluiu que, na maioria das redes, não há nenhuma coleta ou que ela está limitada a alguns tipos de produtos", afirma João Paulo Amaral, coordenador do levantamento. "Além disso, as redes de varejo oferecem poucas informações a respeito de sua estrutura de coleta seletiva".
Apenas cinco redes têm algum tipo de sistema de coleta disponível para o consumidor e, dessas, só três (Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart) dão mais detalhes a respeito de sua infraestrutura. Já o Super Muffato, rede paranaense com 49 estabelecimentos, não diz quantas, nem quais lojas têm pontos de coleta; e o Zaffari, que atua no Rio Grande do Sul e em São Paulo, coleta apenas pilhas e baterias e também não diz em quantas unidades.
As três maiores redes têm, respectivamente, 55, 75 e 240 lojas com pontos de coleta seletiva. No caso do Pão de Açúcar, o número não corresponde nem a 3% do total de unidades da rede no país. Além disso, nenhuma rede informa o destino dos resíduos recolhidos.
Os Supermercados BH (MG), o Sonda Supermercados (SP) e o Angeloni (SC) não oferecem qualquer serviço de coleta seletiva ao consumidor. Já o grupo Cencosud, presente em vários estados, e o Condor Super Center (PR) não oferecem nem informação sobre o assunto.
Para saber se os supermercados possuem sistemas de coleta de materiais recicláveis, sobretudo embalagens, o Idec consultou o site e entrou em contato com o serviço de atendimento ao consumidor (SAC) das dez maiores redes do país, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras): Angeloni, Carrefour, Cencosud Brasil (dono das marcas Bretas, G. Barbosa, Mercantil Rodrigues, Perini e Prezunic), Condor Supercenter, Pão de Açúcar, Sonda, Supermercados BH, Super Muffato, Walmart e Zaffari.
A pesquisa também enviou um questionário por carta e e-mail às prefeituras das 12 capitais que sediarão jogos da Copa do Mundo (Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) sobre o sistema de coleta seletiva local, bem como o status do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.
COLETA NOS MUNICÍPIOS
A segunda parte da pesquisa do Idec buscou informações junto aos 12 municípios-sede da Copa do Mundo de 2014. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), essas cidades e suas regiões metropolitanas geram 35% dos resíduos sólidos do país. Além disso, elas serão as primeiras a aderir ao sistema de logística reversa do setor de embalagens.
Apenas oito cidades responderam: Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Manaus, Natal, Porto Alegre, Salvador e São Paulo. Todas informaram que têm coleta seletiva. Destacam-se Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte, que dizem atender a 100% da população. Porém, é notável o baixo percentual de resíduos que de fato passam pela reciclagem, mesmo nessas cidades: 22,36% em Curitiba e 5% em Porto Alegre. Belo Horizonte não informou o dado.
Na opinião da professora Patrícia Iglecias, do Centro Multidisciplinar de Estudos em Resíduos Sólidos da Universidade de São Paulo (USP), há dois problemas centrais na coleta seletiva do país: "falta capacitação nos municípios e educação ao consumidor". João Paulo, do Idec, concorda. "Faltam políticas para incentivar o cidadão a fazer a separação do lixo. É comum vermos uma lata de coleta seletiva com lixo comum misturado", afirma. "A solução do problema passa por educação ostensiva da população e por uma estrutura apropriada, como a instalação de lixeiras devidamente separadas e que induzam o cidadão a descartar no recipiente correto".
Outros dados revelam que São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, ao lado de Salvador, são as que possuem o maior número de cooperativas ou associações de catadores – 22 no caso da primeira, 17 em cada uma das demais. Já Belo Horizonte é o município com o maior número de Pontos de Entrega Voluntária (PEV), com 92.
O Idec também perguntou às prefeituras se o município já desenvolveu seu Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS). Entre os que responderam, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo informaram que seus planos ainda estão sendo desenvolvidos. As demais já concluíram o PGIRS. O plano é um instrumento previsto pela PNRS, com o qual as cidades devem fazer um diagnóstico de seus resíduos sólidos e identificar áreas apropriadas para a disposição final dos rejeitos, além de prever programas de capacitação técnica e educação ambiental e de definir metas para a coleta seletiva.
É importante ressaltar que o Instituto teve dificuldade para receber as respostas das prefeituras, solicitadas via e-mail e carta. Em todos os casos, foi necessário fazer contato telefônico com as cidades, a fim de obter as informações solicitadas. Para o Idec, isso demonstra que não há transparência dos dados à população.
Em agosto deste ano, encerra-se o prazo estabelecido pela PNRS para o fim da operação de lixões a céu aberto em todos os municípios brasileiros. Além disso, é o limite para a destinação incorreta de resíduos que podem ser reutilizados ou reciclados. Contudo, dificilmente o prazo será respeitado, já que a coleta seletiva nas cidades ainda é deficiente e muitos municípios não concluíram seus planos de gestão – prerrogativa para que obtenham financiamento do governo federal para projetos na área.