Tinta a preço de ouro
OUTROS CRITÉRIOS DE ESCOLHA
Embora o custo da impressão por página seja um critério importante, ele não é o único a ser considerado para escolher um modelo adequado de impressora ou multifuncional. Antes, outras variáveis devem ser levadas em conta na hora da compra. A primeira delas é a estimativa do número médio de páginas a serem impressas por mês. Apesar de todos os modelos considerados na pesquisa serem domésticos ou para pequenos escritórios, pode haver uma diferença grande na quantidade máxima de páginas que cada aparelho pode imprimir (o chamado "ciclo mensal"): entre os modelos pesquisados, o mais parrudo tem capacidade para até 30 mil páginas por mês; o mais frágil, apenas 750.
Exigir da impressora um volume maior do que o indicado pelo fabricante certamente vai trazer problemas. Seria como usar um carro popular para uma prova de rali. "Se você usar a impressora sempre no limite, ou além dele, sua vida útil será menor", afirma Hedilberto Martines Galletti, do Centro de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Por outro lado, deixar o aparelho ocioso, sem imprimir nada por semanas ou meses, também pode danificá-lo. "Em impressoras a jato de tinta, por exemplo, corre-se o risco de a tinta secar e entupir os bicos", afirma.
O número de páginas a serem impressas para que o dispositivo tenha um desempenho ideal é indicado pelo termo "volume mensal recomendado". Importante não confundi-lo com o ciclo mensal, que é a capacidade máxima do aparelho. O problema é que os fabricantes ou publicam um dado, ou outro. Dificilmente, os dois. Os próprios atendentes dos SACs fazem confusão. Os da marca HP, por exemplo, não souberam explicar a diferença entre os dois conceitos.
A segunda questão a ser considerada é se você precisa apenas da impressora ou se as funções de copiadora e scanner também são fundamentais. Até pouco tempo atrás, as máquinas com essas três atribuições (as chamadas multifuncionais) eram razoavelmente mais caras. Hoje os preços estão mais próximos, principalmente para os modelos a jato de tinta. Para os a laser, nem tanto: por exemplo, não encontramos nenhuma multifuncional a laser abaixo de R$ 500.
Segundo dados da consultoria IDC, a média de preço das impressoras a laser vendidas no primeiro semestre do ano passado foi de US$ 675, enquanto os modelos a jato de tinta custaram em média US$ 130. Embora ainda bem mais caras, a impressora a laser pode valer a pena para quem não faz questão de uma multifuncional. "Elas são mais robustas e tendem a ter um custo de impressão por página menor", afirma Galletti. Os suprimentos (toners) também são mais caros que os cartuchos de tinta, mas têm um rendimento superior.
Cartuchos ou toner originais são normalmente muito mais caros que os não originais. Diego Silva, da consultoria IDC, cita que um toner original cujo preço é de R$ 320 pode ser encontrado por R$ 70 no mercado paralelo. A diferença brutal, claro, leva o consumidor a procurar os modelos não-originais. Estima-se que mais da metade do mercado de suprimentos não esteja sob controle dos fabricantes, que vêm tentando uma reação.
Para além de questões de mercado, o que interessa ao consumidor é saber se o uso desses suprimentos genéricos pode ou não danificar o equipamento. Os fabricantes das impressoras dizem que sim, mas, convenhamos, imparcialidade talvez não seja o ponto forte deles. "Se os estudos encomendados pelas grandes marcas apontam para esse risco, há que se considerar também que a tecnologia dos genéricos vem se aprimorando. Antes, era bem provável que pudessem causar danos. Hoje, menos", afirma Silva.
Segundo Carlos Thadeu de Oliveira, do Idec, é importante que o consumidor escolha fabricantes confiáveis entre as muitas opções disponíveis no mercado paralelo, checando, por exemplo, se a empresa tem CNPJ e se emite nota fiscal. "Se ainda assim o suprimento genérico causar algum dano ao aparelho, o seu fabricante deve responder pelo prejuízo", diz ele. Também é preciso avaliar se o rendimento dos genéricos é o mesmo dos originais.
EM BUSCA DE INFORMAÇÕES
No primeiro semestre do ano passado, foram vendidas no Brasil 1,85 milhão de unidades de impressoras ou multifuncionais, perfazendo um faturamento de US$ 509 milhões, segundo dados da consultoria IDC. Por trás desses números, há um filão ainda mais interessante: no mesmo período, foram vendidas 30 milhões de unidades de suprimentos (cartuchos ou toners). Os fabricantes, assim, têm duplo interesse em fisgar o consumidor.
Muito embora exista a opção de se comprar suprimentos genéricos, normalmente mais baratos, para fazer uma boa escolha, é fundamental pesquisar antecipadamente e comparar as especificações técnicas dos diversos modelos e marcas de impressoras disponíveis.
Nem sempre essas informações, porém, são tão fáceis de encontrar. É o caso, por exemplo, da Canon, que não publica em seu site os dados de desempenho dos cartuchos de tinta. O Idec obteve essa informação por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Com outros fabricantes, esse tipo de contato também se fez necessário para a busca de outras informações. Portanto, não hesite em recorrer a esses canais para descobrir um dado suplementar ou caso tenha alguma dúvida. "A empresa tem obrigação de informar dados que são essenciais para a escolha do produto, como o rendimento dos cartuchos de tinta", afirma Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec.
Se o objetivo é gastar o mínimo possível com a tinta, o principal item a ser considerado é o custo de impressão por página. Calculá-lo é simples: divida o preço do cartucho ou toner pelo número de páginas que ele pode imprimir. Esse rendimento normalmente está publicado nos sites dos fabricantes, embora nem sempre seja fácil de ser localizado. Assim, você poderá ter uma ideia de quanto vai gastar por mês.
Considerar uma margem de erro (para mais) não seria exagero, já que os dados fornecidos pelas empresas geralmente estão baseados em impressões no modo econômico e com uma área de cobertura de página reduzida. "Às vezes é difícil para o consumidor entender na prática a quantas páginas essas áreas de cobertura informadas se referem. Por isso, os fabricantes poderiam trazer uma informação mais simples e concreta, como páginas de texto com um determinado número de linhas", opina Oliveira. Além disso, lembre-se de que, para um mesmo modelo de impressora, podem existir diversos tamanhos de cartuchos. Os maiores, embora mais caros, geram um custo por página menor.
COLORIDA OU SÓ PRETA?
Outro ponto a ser levado em conta é se você vai ou não realmente precisar de um modelo que imprima conteúdos coloridos. Antes de responder, pondere: não existe nenhum modelo doméstico capaz de imprimir satisfatoriamente um volume muito grande de material colorido (fotos, por exemplo), pois o custo de impressão por página tende a ser muito alto. "Em média, o preço da impressão colorida de cada página é R$ 0,20 maior que o da preta", afirma Diego Silva, analista de mercado da IDC.
Além disso, o resultado final nem sempre vai ficar como o de impressoras profissionais. Nesse quesito, as impressoras a laser coloridas normalmente se sobressaem, mas são mais caras (por exemplo, todos os modelos a laser que fizeram parte da pesquisa – isto é, que custam até R$ 500 – são monocromáticos). "Ter uma impressora monocromática e mandar imprimir conteúdo colorido em gráficas e afins é uma opção a ser considerada", opina Galletti.
Feitas essas considerações, se você pretende, vez ou outra, imprimir alguma coisa que fuja dos tons de preto, vá em frente nas opções coloridas. Mas, atenção: há modelos que têm apenas um cartucho colorido e outros com três (um amarelo, um ciano e um magenta). Neste último caso, considere o preço de três cartuchos para fazer o cálculo do custo de impressão por página. E tem mais um detalhe: caso um deles acabe, a impressora deixa de funcionar, mesmo que você queira imprimir apenas em preto.
Mais uma variável para as considerações: resolução de impressão e do scanner. Sua unidade de medida é o dpi (pontos por polegada, em inglês). Quanto mais, maior a resolução. Para imprimir somente textos, não é preciso uma resolução muito grande. Portanto, preocupe-se mais com ela apenas caso pretenda adquirir uma impressora colorida e/ou multifuncional. Cartuchos podem custar até quase metade do valor da impressora. Considerar o preço dos suprimentos e a eficiência de cada modelo na hora da compra é fundamental para fazer uma boa escolha
Imagine um entusiasmado consumidor que quer comprar um carro novo. Ele pesquisa os preços e os compara ao capital que tem para investir e, para sua surpresa, os valores estão até mais baixos do que ele estava imaginando. Mas aí, da noite para o dia, tudo vai por água abaixo: surge uma hipotética crise do petróleo (ou da cana-de-açúcar) e, para encher o tanque do provável novo carro, o outrora feliz consumidor vai ter de gastar mais da metade do preço do veículo. Algo como R$ 500 o litro do combustível. Parece-lhe surreal? Sim, e você deve estar se perguntando por que cargas d'água estamos falando de carros em uma matéria sobre impressoras. A resposta é simples: esse esdrúxulo preço do combustível é equivalente aos atuais (e reais!) preços de suprimentos para impressoras. Por exemplo, o toner de um modelo da Xerox custa cerca de R$ 256; a impressora em si, R$ 330.
Esse valor proporcional alto de suprimentos ocorre com praticamente todos os modelos domésticos disponíveis no mercado. Portanto, assim como para carros seria importante considerar a eficiência energética do modelo escolhido (quantos quilômetros ele roda por litro de combustível), para impressoras é crucial levar em conta o preço do cartucho de tinta (ou toner) e quantas páginas ele pode imprimir. Um aparelho com preço baixo pode se tornar um chupim, caso seu cartucho seja caro e tenha pouco rendimento. Em pouquíssimo tempo, a economia inicial irá para o ralo.
Idec pesquisou os principais modelos de impressoras e multifuncionais disponíveis no mercado com preços de até R$ 500, a fim de calcular o preço de impressão por página de cada um. Ao todo, foram avaliados 18 modelos, de sete fabricantes diferentes. Os resultados variam significativamente. O modelo com o menor custo de impressão é um da Lexmark, cujo preço é de R$ 0,05 por página na cor preta (o cartucho custa R$ 27 e rende até 600 páginas). O aparelho, porém, está entre os mais caros: R$ 499. Veja os resultados de todos os modelos na página 24.
Para o levantamento, estipulou-se um teto de preço de R$ 500. A partir disso, foram procurados modelos dos principais fabricantes (Brother, Cannon, Epson, HP, Lexmark, Samsung e Xerox) que estivessem dentro dessa faixa de preço. Os valores foram pesquisados nas lojas virtuais dos próprios fabricantes ou, no caso dos que não contam com esse canal de vendas, o preço médio encontrado nas grandes redes de varejo.
Definidos os modelos, foram pesquisadas as especificações técnicas de cada um, com ênfase para os tipos, preços e rendimento dos suprimentos (cartuchos e toners), a fim de se calcular o custo de impressão por página. Outras características foram consideradas, como ciclo mensal e/ou volume mensal recomendado e resolução de impressão. As informações não publicadas nos sites das empresas foram demandadas aos SACs.