A sangue frio
Condicionadores de ar são uma boa opção para aplacar a ira dos dias quentes. Mas é preciso ter calma para escolher o modelo mais apropriado
O calor bate na porta, o calor bate na aorta. Ventiladores, climatizadores e até um bom banho gelado podem ajudar a eliminar a desconfortável sensação de que estamos dentro de um forno. Mas pouca gente vai discordar que imbatível mesmo é um gélido ar-condicionado. É, mas eleger o modelo mais adequado ao perfil de uso desse aparelho não é tão simples: é preciso considerar uma série de variáveis, como área e uso do cômodo, nível de insolação e quantidade de fontes emissoras de calor. Sem contar, é claro, a eficiência energética: uma aparente economia no preço inicial do aparelho pode rapidamente ser diluída por quentíssimas contas de luz.
Diante de tantas ponderações, o Idec preparou um passo a passo de como escolher o ar-condicionado mais apropriado. Também levantou os preços dos principais modelos disponíveis no mercado, separados por tipo e capacidade de refrigeração. Esse levantamento pode servir de parâmetro para a escolha dos modelos (e preços) mais convenientes. Boa refrigeração!
TIPO
A primeira variável que deve balizar a escolha é o tipo de aparelho. Para uso residencial, existem basicamente três: o de janela, o split e o portátil. Os dois primeiros demandam uma instalação mais complexa, como abrir um buraco na parede. Por diversos motivos, nem sempre isso é possível – por exemplo, muitos edifícios não permitem alteração de fachada. Assim, para situações como essa, o mais indicado é um modelo portátil, que dispensa "miniobras" de instalação. O maior inconveniente dos portáteis é que, no geral, são mais barulhentos. "Como o compressor fica dentro do equipamento, a fonte geradora de ruído fica dentro de casa, ao contrário dos de janela e split", explica Mauro Apor, vice-presidente do Departamento Nacional de Ar- -Condicionado Residencial da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Outro ponto a ser considerado é que os portáteis nem são tão portáteis assim, pois têm um tamanho e peso razoáveis. Portanto, avalie se ele não vai virar um trambolho, principalmente se houver escassez de espaço. Além disso, é necessário que fiquem perto de uma janela, onde será encaixada uma mangueira responsável pela expulsão do ar quente.
Se esses inconvenientes lhe parecem exagerados e a instalação não é um impedimento, o melhor é optar entre um split e um de janela. Os split são um pouco mais caros, mas contam com uma tecnologia mais avançada. A grande sacada é que eles são divididos em duas partes (daí seu nome – split, em inglês, quer dizer "separação"). Ou seja, a "parte fria" (o evaporador, que fica dentro do cômodo) é independente da "parte quente" (o condensador, que fica fora). Isso garante melhor performance, menos barulho e, no geral, maior eficiência energética. Atenção: a imensa maioria dos split é 220 V.
Um parêntese: há ainda modelos split que contam com a tecnologia inverter. Nela o compressor funciona de maneira gradativa, com a velocidade relacionada à temperatura do ambiente. Os compressores de modelos sem essa tecnologia, ao contrário, não têm essa gradação: ou ficam ligados ou desligados, sem meio termo. Assim, aparelhos inverter, embora mais caros, têm eficiência energética ainda melhor.
Os modelos de janela são os mais tradicionais. São um monobloco, uma caixa onde estão todos os elementos do sistema de refrigeração. Por isso, tendem a ser mais barulhentos e gastões. A diferença de preço entre eles e os split já foi exorbitante. Hoje esse intervalo já é mais razoável, mas os de janela ainda contam com instalação mais simples e barata. Se o aparelho for ser usado intensamente, talvez seja melhor ficar com um split. O investimento inicial maior será rapidamente compensado por contas de luz menos caras. Se o uso for mais esporádico, um de janela pode atender perfeitamente à demanda. Faça as contas (leia mais detalhes sobre eficiência energética na página 24).
Em tempo: é importante dizer que existem três tipos de aparelhos split. Os de uso residencial se enquadram na categoria hi-wall. Para ambientes maiores, há os split cassete (embutidos no teto) e os piso-teto.
Foram considerados os três tipos de aparelho de uso residencial. Cada um foi dividido nas faixas mais comuns de capacidade de refrigeração. A partir disso, o Idec levantou os preços dos modelos mais comumente encontrados no mercado. Foram consultados os sites dos fabricantes e das principais lojas do país.
Para cada faixa de capacidade de refrigeração, foi calculado um preço médio e uma potência média. Essa potência média balizou o cálculo da quantidade de energia elétrica gasta em um mês. Como nem sempre os aparelhos consomem toda a potência nominal (pois o compressor é desligado automaticamente), a potência média foi multiplicada por 0,7, considerando um regime de operação de 70%, mesmo índice usado pelo Inmetro. Com esses dados, calculou-se o custo aproximado com energia elétrica, com o valor de R$0,30 por kWh, com base em um uso mensal de 240 horas (oito horas por dia).
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
O processo de escolha de um ar condicionado certamente deve levar em conta o quão eficiente ele é em termos de consumo de energia elétrica. Ainda mais quando estamos falando de aparelhos com mui- tos watts de potência (no mínimo 600 W) e que normalmente são usados durante várias horas por dia.
É a mesma lógica que se aplica a automóveis: os mais eficientes rodam mais quilômetros por litro de combustível. Com o ar-condicionado, a conta a ser feita é o quanto ele gela por cada unidade de energia elétrica consumida. Ou seja, dividir a capacidade de refrigeração pela potência do aparelho. Mas, calma: essas contas já foram feitas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), que chegou a um índice de eficiência energética: quanto maior o número, mais eficiente é o equipamento. De acordo com esses índices, eles foram divididos em classes, que variam entre A (classe mais eficiente) e E (classe menos eficiente). As tabelas com essas informações estão publicadas no site www.inmetro.gov.br/pbe.
Cada modelo, assim, tem uma etiqueta, chamada de Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). Por lei, elas devem estar afixadas nos produtos em exposição. Infelizmente, a regra não vale para comércio eletrônico, o que quer dizer que os fabricantes não costumam publicar em seu sites notas que deponham contra o produto. E olha que tem bastante nota baixa: pelo menos até as últimas avaliações do Inmetro, dos 136 modelos tipo janela, 55 tinham nota B ou inferior (40%). Entre os 1.299 modelos split, 786 receberam notas inferiores a A (60%).
Além das notas e dos índices, as etiquetas também informam o quanto de energia elétrica os aparelhos consomem por mês. Esse dado está em kWh (quilowatt-hora). Mas atenção: o Inmetro considerou um uso relativamente comedido, de uma hora por dia (ou seja, 30 horas por mês). Se você acha que vai usar mais que isso, faça as devidas multiplicações. E multiplique também pelo preço do kWh da sua região para saber quanto a mais, em reais, virá sua conta de luz.
INSTALAÇÃO
Prepare-se: se o aparelho não for portátil, será preciso gastar uns trocados a mais com a instalação – principalmente para os modelos split. Os preços variam muito, de acordo com as condições de instalação. Por exemplo, o quanto de tubulação entre a parte externa e interna será necessário; se é casa ou apartamento; se a parede está ou não pronta para receber o aparelho etc. Uma instalação padrão de split fica em torno de R$ 500, dependendo da região do país. Portanto, é preciso não só considerar o preço do equipamento, mas também fazer uma consulta prévia sobre o valor desse procedimento. Procurar uma loja especializada, portanto, faz ainda mais sentido. A colocação de modelos de janela é mais simples e mais barata – a principal questão se restringe ao trabalho de alvenaria.
Contratar a instalação de uma assistência técnica autorizada é mais seguro, mas não obrigatório. No entanto, alguns fabricantes só concedem a garantia contratual caso a instalação tenha sido feita por essa rede credenciada.
Também fique atento às condições de sua rede elétrica. Ela não pode ser monofásica (ou seja, deve ter tomadas de 220 V), caso queria um split. E verifique se ela comporta a corrente "puxada" pelo aparelho (a que chamamos popularmente de "amperagem").
• Procure um modelo com capacidade térmica adequada
• Mantenha os ambientes fechados
• Não instale o aparelho em lugares quentes (por exemplo, onde bate muito sol ou perto de outros equipamentos elétricos)
• Mantenha os filtros sempre limpos
• Desligue o aparelho antes de períodos de ausência
• Não fique viciado em ar condicionado: se não estiver tão quente, não use o aparelho. Nada como uma janela aberta
CAPACIDADE DE REFRIGERAÇÃO
Escolhido o tipo de ar condicionado, é hora de quebrar a cabeça com a capacidade de refrigeração ideal para o ambiente a ser resfriado. Essa capacidade é usualmente medida em BTU por hora. Quantos mais BTUs, maior a capacidade do aparelho de deixar o ar gelado. Os aparelhos mais fracos começam com sete mil BTUs. Para uso residencial, chegam a até 30 mil.
"Ah, não gosto de um ar tão frio, então posso escolher um aparelho mais fraquinho!". Correto? Não. A capacidade de refrigeração deve ser condizente com as variáveis do ambiente, independentemente de você ser friorento ou vaporoso. E o principal ponto a ser considerado é a área do cômodo. Existe uma tabela que associa essa área ao número de BTUs, mas ela não é totalmente confiável, pois ainda há outros fatores importantes a serem considerados. "De modo muito geral, pode-se dizer que um cômodo de até 12 metros quadrados demanda um aparelho de sete mil BTUs; entre 12 e 15 metros, nove mil BTUs; e entre 15 e 20 metros, 12 mil BTUs. Isso vale mais para ambientes convencionais, sem fontes de calor adversas", afirma Apor.
Depois disso, veja como e quando o sol bate no ambiente. O dia todo? Nunca? Só de manhã? Só à tarde? Se a incidência de luz solar for maior, claro, também maior deverá ser o número de BTUs. Considere, ainda, o tipo de cobertura do cômodo: laje, telhado ou entre andares, por exemplo.
Mais contas: o número de pessoas que costumam ficar no ambiente e número e tipos de fontes de calor (lâmpadas e aparelhos eletrônicos, por exemplo). Quanto mais gente e mais "coisas" no cômodo, mais forte tem que ser o ar-condicionado. Diante de tantas considerações, alguns fabricantes passaram a oferecer em seus sites uma calculadora de BTUs. Elas consideram todas essas variáveis e são fáceis de usar. Embora sejam mesmo úteis, isso não exclui a importância de uma boa conversa com o vendedor. Procurar um fornecedor que entenda do assunto, aliás, é essencial. Por isso, nesse caso, comprar pela internet pode não ser um bom caminho (use a rede para pesquisar preços e, depois, barganhe em lojas físicas). As lojas especializadas no assunto tendem a oferecer um atendimento mais qualificado.
A limpeza periódica dos filtros é a principal tarefa de manutenção a ser feita. "O ideal é verificar o estado deles mensalmente e, caso seja preciso, lavá-los com água e sabão neutro. E importante: devem ser secados à sombra", afirma Mauro Apor, da Abrava. Deixar os filtros sujos pode gerar problemas respiratórios, principalmente reações alérgicas.