Ruas em disputa
Título: Contested Streets (Ruas Disputadas)
Gênero: Documentário
Produção: Transportation Alternatives
Realização: Cicala Filmworks
Roteiro e direção: Stefan Schaefer
Duração: 57 minutos
Onde encontrar: goo.gl/OtTZ14 (com legendas em português)
por RAPHAEL MONTEIRO DE OLIVEIRA*
Contested Streets, ou "Ruas Disputadas", em tradução livre, é um documentário norte-americano sobre a evolução da mobilidade humana em Nova York, do final do século 19 até os dias de hoje. O filme mostra como a Big Apple – embora seja a cidade mais bem servida pelo transporte público nos Estados Unidos – foi lentamente abandonando uma rica concepção da rua multidimensional para virar espaço público de uma mentalidade que prioriza o rápido movimento de carros.
No final do século 19, as ruas eram cheias de pessoas, que disputavam espaço com cavalos e carroças. O comércio era vivo e pulsante, as pessoas encontravam os amigos, paravam para conversar, as crianças brincavam enquanto as avós cuidavam delas pelas janelas. As ruas eram uma extensão da vida privada.
Nesse contexto, surge o carro, e logo as ruas começam a ser adaptadas para os automóveis. A cidade passa a ser planejada em torno deles. Mas, a partir da metade do século 20, os nova-iorquinos começaram a perceber que a solução adotada não era mágica. Os congestionamentos eram enormes e a insatisfação, crescente. Afinal, concretar caminhos para os veículos é um modelo finito, já que o espaço na cidade é restrito.
Em busca de uma solução, Nova York foi estudar os casos de sucesso em outras grandes cidades, como Copenhague, Paris e Londres, que priorizam o transporte coletivo e o não poluente. Ruas exclusivas para pedestres, alocação apenas de uma faixa para carros, pedágio urbano e fechamento de avenidas durante o verão são algumas das medidas adotadas pelas cidades europeias, e que poderiam ser replicadas na metrópole norte-americana ou em São Paulo, que é muito parecida com essas outras cidades.
A capital paulista tem problemas sérios de mobilidade. É urgente que adotemos essas e outras medidas, inspiradas em modelos de sucesso, como Londres e Paris. Recentemente, o prefeito Fernando Haddad, em uma ação digna de aplauso, destinou aos ônibus uma faixa exclusiva em uma importante via expressa de São Paulo, a Marginal Pinheiros.
As grandes mudanças começam assim, aos poucos, sem muito alarde. Se seguirmos nesse caminho, logo teremos uma cidade mais humana, voltada novamente para as pessoas, priorizando o transporte coletivo e os veículos não poluentes, como a bicicleta.
*Advogado e membro da CicloLiga, liga de coletivos de ciclistas que visa a promover uma cidade mais amiga para quem usa bicicleta