Quando viajar é preciso
Avião, carro ou ônibus? Veja qual modalidade de transporte vale mais a pena para viajar entre as maiores cidades do país.
Não é exatamente novidade que o transporte aéreo deixou de ser um luxo. Os principais fatores que explicam o fenômeno são o aumento da renda média do brasileiro, maior número de voos e queda dos preços das passagens. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), por exemplo, a oferta de voos domésticos aumentou 275% entre 2000 e 2012. E o IPCA-15 de março (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que só neste ano os bilhetes ficaram quase 21% mais baratos.
Mas, quando se analisa a atual situação da aviação civil brasileira, percebe-se que o cenário não é exatamente um céu de brigadeiro. Segundo a mesma Anac, a oferta de voos domésticos em fevereiro deste ano registrou queda de quase 11% em relação a fevereiro de 2012. Foi a sexta queda mensal consecutiva. Paralelamente, TAM e Gol, as duas maiores companhias aéreas do país, divulgaram recentemente vultosos prejuízos referentes ao caixa do ano passado. Já se especula que os preços podem subir e que o conforto do passageiro pode desabar – a Gol, por exemplo, anunciou que todos os serviços de bordo passarão a ser cobrados, e que a oferta de voos neste ano deve ser 7% menor.
Diante desse cenário, paira sempre a dúvida: no fim das contas, qual modalidade de transporte é a mais barata? Para responder a essa pergunta, o Idec levantou os custos de seis importantes rotas nacionais. Os resultados estão à página 26 a 27.
Foram escolhidas as quatro cidades com maior população, segundo o último censo do IBGE: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador (em ordem decrescente). O Idec levantou os preços de viagens de avião, carro e ônibus entre essas quatro cidades, totalizando seis trechos: São Paulo–Rio de Janeiro, São Paulo–Brasília, São Paulo–Salvador, Rio de Janeiro–Brasília, Rio de Janeiro–Salvador e Brasília–Salvador. Quando são comparados os preços de viagens entre quaisquer duas cidades, nota-se que há uma ligeira diferença de valores dependendo de qual cidade é escolhida como origem. Por exemplo, um voo entre Rio de Janeiro e São Paulo em uma determinada data tem um preço muito parecido com o de um voo entre São Paulo e Rio, na mesma data. Assim, os resultados de cada trecho aqui apresentados são uma média entre esses dois valores, sempre para viagens de apenas uma pessoa.
A pesquisa mostra que, na média, viajar de ônibus entre essas cidades sai sempre mais barato. Claro, há que se considerar que percorrer longos trechos nessa modalidade é bastante cansativo. Por exemplo, uma viagem entre São Paulo e Salvador leva mais de 30 horas e custa, em média, R$ 291,20. E ainda é provável que, ao longo da viagem, o passageiro gaste mais algumas dezenas de reais com alimentação. Assim, a opção pelo avião, cujo preço médio é R$ 519,14 (ou quase 78% a mais), não é possibilidade a ser totalmente descartada.
É importante dizer que as médias de preços das passagens aéreas também levam em conta os custos médios de táxi entre o centro de cada cidade e o respectivo aeroporto. As médias das tarifas de ônibus também consideram esse deslocamento, mas com transporte público. A justificativa para isso é que, no geral, os aeroportos brasileiros não são bem conectados com as cidades, ao contrário dos terminais rodoviários. Assim, quem estiver disposto a se aventurar em um ônibus ou metrô para ir até o aeroporto pode economizar ainda mais na viagem aérea.
Vale lembrar que, caso o consumidor consiga comprar as passagens aéreas com antecedência, o preço do avião é quase sempre bastante competitivo. Vejamos: um bilhete para esse mesmo trecho São Paulo–Salvador, em voo do dia 5 de maio, poderia ser comprado por R$ 220 em 5 de abril. Nas outras viagens analisadas, prevalece a mesma lógica: quanto maior a antecedência, menor tende a ser o preço da passagem aérea.
Mas atenção: se você não estiver seguro quanto à data da viagem, comprar com antecedência pode ser mau negócio, principalmente para as modalidades mais baratas de passagem. Elas oferecem condições de cancelamento e alteração de data do voo nada interessantes. O barato pode sair caro – e muito.
Outra dica para a compra de passagens de avião é escolher bem a data da viagem. Passagens para épocas de forte demanda (como férias e feriados) costumam ser evidentemente mais caras. Além disso, geralmente as passagens para sexta-feira à noite, domingo à noite e segunda-feira de manhã são mais caras; os voos de sábado e domingo de manhã têm normalmente preços mais interessantes.
COMO FOI FEITA A PESQUISA
Foram selecionadas as quatro maiores cidades do país (em população), segundo o último censo do IBGE: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Assim, seis trechos, em três modalidades de transporte (avião, carro e ônibus), foram analisados. Todos os dados foram coletados na primeira semana de abril. As passagens de avião são as que mais oscilam de preço. Quanto maior a antecedência da compra, menor o preço. Com o objetivo de amenizar essa forte oscilação, foram cotadas passagens para 30 dias consecutivos. A maior antecedência foi de 29 dias; a menor, de um dia. Por exemplo, em 1º de abril foram coletados preços para o período compreendido entre 2 de abril e 1º de maio.
Outra variável importante na cotação dos preços das passagens aéreas é o tipo de bilhete. Os mais caros têm condições mais favoráveis para cancelamento e remarcação de voo; os mais baratos, longe disso. No entanto, como o objetivo da pesquisa foi mostrar o quão econômica é cada modalidade de transporte, foram considerados apenas os voos mais baratos de cada data. Três companhias aéreas foram pesquisadas: Avianca, Gol e TAM. Cada uma recebeu um peso, de acordo com o número de voos considerados — por exemplo, os preços da Avianca tiveram menos peso na composição dos resultados finais, pois essa empresa oferece menos voos.
A antecedência para se comprar passagens de ônibus, ao contrário, praticamente não altera os preços dos bilhetes. As maiores oscilações se devem ao tipo de ônibus (convencional, semileito ou leito) e ao horário de partida. Assim, foram considerados sempre os tipos mais em conta de cada empresa. Quando havia diferenças de preço, mesmo entre passagens do mesmo tipo, foi feita uma média de valores referentes a sete dias consecutivos. O número de viagens de cada empresa conferiu pesos diferentes na composição dos resultados finais.
Para as composições das médias de avião e de ônibus também foram considerados os custos de acesso aos aeroportos e rodoviárias (táxi e transporte público, respectivamente). Em São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que contam com dois grandes aeroportos cada, foi escolhido o aeroporto com maior número de voos para cada destino pesquisado. No caso, Congonhas e Santos Dumont (para as ligações entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília) e Aeroporto Internacional de Guarulhos e do Galeão (para as ligações São Paulo–Salvador e Rio de Janeiro–Salvador, respectivamente). As médias das viagens de avião também consideram as taxas de embarque.
Por fim, os preços de viagens de carro contaram com as seguintes variáveis: custos com combustível, pedágio e manutenção do veículo. Para cada trecho, foi escolhida a principal rota (isto é, por estradas principais). A média de consumo considerada foi de 10 quilômetros por litro, com o combustível gasolina (já que o etanol, quando da coleta de dados, não era economicamente interessante em nenhuma das cidades escolhidas). O preço utilizado foi de R$ 2,886 (média nacional no mês de março, segundo a Agencia Nacional de Petróleo).
Para se calcular o custo de manutenção em cada viagem foram levados em conta gastos com revisão e desgaste de peças (como pneus, freios, embreagem etc.). Assim, foi estimado que a cada 10 mil quilômetros um carro demanda R$ 1 mil em manutenção. MAU NEGÓCIO
O carro é o jeito mais caro de se viajar entre as cidades escolhidas. A diferença mais gritante foi a do trecho Rio de Janeiro–Brasília: a viagem de carro custa mais de três vezes que a de ônibus. Claro, o motivo de o carro ser a modalidade menos interessante se deve um pouco ao fato de esta pesquisa ter considerado apenas uma pessoa por viagem. Mas, mesmo que mais de um viajante fosse no veículo, o preço por passageiro nem sempre seria mais interessante que o de ônibus ou avião. E olha que nem foram consideradas as prováveis despesas com hospedagem e alimentação ao longo das viagens mais longas.
Outro fator determinante para deixar o carro na lanterninha é o custo com manutenção, muitas vezes esquecido pelos motoristas. Não é exagero imaginar que um veículo demande ao menos R$ 1 mil em manutenção a cada 10 mil quilômetros percorridos. Esse seria o preço das revisões e também o custo da reposição de peças (pastilhas de freio, embreagem, pneus etc.). E alguns carros podem demandar um “investimento” ainda maior. Outras despesas não foram consideradas (como impostos, seguros e o próprio custo do carro), pois foi usado o pressuposto de que o viajante já dispõe de um carro e que, portanto, teria de arcar com isso de qualquer maneira, viajando ou não com o veículo.
A recomendação final é que, independentemente do trecho que você tem que percorrer, faça suas próprias contas. Não esqueça que, além dos custos mais evidentes (como as passagens ou o combustível), há também outras variáveis mensuráveis (como o deslocamento até o aeroporto ou rodoviária) e variáveis mais subjetivas (por exemplo, quanto “custa” cada hora que você perde nesses deslocamentos). Faça suas contas, coloque tudo na balança e boa viagem!
- Na média, as passagens de ônibus são mais baratas
- Passagens de avião compradas com algumas semanas de antecedência podem ser até mais baratas que as de ônibus
- Atenção ao comprar os bilhetes de avião: os mais baratos normalmente têm condições ruins de cancelamento e remarcação de voo
- Se for possível escolher a data da viagem, opte por épocas de “baixa temporada”
- Não esqueça que, para as viagens de carro, também se deve calcular o custo de manutenção e desgaste de peças
- Viajar de carro sozinho dificilmente vale a pena, principalmente para trajetos muito longos