É possível reinventar as cidades
Título: Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano
Autor: Carlos Leite
Editora: Bookman Companhia
Ano: 2012
Páginas: 278
Onde encontrar: em livrarias
por GISELLE TANAKA
O livro Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano tenta responder à seguinte questão: "Como realizar as transformações necessárias e urgentes em nossas cidades?". Para o autor, Carlos Leite, é possível reinventar as cidades.
O tema "desenvolvimento sustentável" está mais disseminado na sociedade, mas aparece, muitas vezes, de forma abstrata e vaga. Carlos Leite afirma que falar de sustentabilidade implica reconhecer suas várias dimensões. Se neste século nos transformamos num planeta urbano, com a maior parte da população vivendo nas cidades, temos de encontrar soluções para enfrentar a enorme desigualdade social e os padrões de consumo insustentáveis. Soluções individuais, que vão desde a separação do lixo à construção de "edifícios verdes", embora desejáveis, estão longe de serem suficientes. Os desafios são maiores: ambientais e de moradia para todos, mobilidade acessível, combate à exclusão e segurança pública.
Ao longo da obra, o autor divide com os leitores vários "projetos inovadores", de alta qualidade de design, e mostra exemplos de boa arquitetura aplicada a projetos habitacionais, de infraestrutura inteligente e de redesenho de áreas da cidade. A valorização da dimensão urbana e do projeto, nem sempre reconhecidos nas análises econômicas e sociais do desenvolvimento, se destaca. Porém, é preciso tomar cuidado com a mistura de conceitos e perspectivas que podem ser, inclusive, paradoxais. Valorizar a diversidade, a memória urbana e o uso social da infraestrutura, na maioria das vezes, não coincide com promover o mercado competitivo e os interesses privados.
A PERSPECTIVA DE QUE AS SOLUÇÕES EXISTEM E SÃO POSSÍVEIS DEPENDE TAMBÉM DA REINVENÇÃO DA DEMOCRACIA
Os exemplos internacionais, em geral, tratam de cidades com regulação efetiva do uso do solo e das construções, e nas quais as decisões sobre investimentos públicos são no mínimo transparentes e públicas. No nosso caso, em que ainda estamos engatinhando na construção de espaços democráticos e nas formas de participação social, a parceria entre o Estado e o mercado, invariavelmente, pende para a garantia de recursos públicos para lucros privados, e passa longe da inclusão e do reconhecimento de interesses diversos.
A perspectiva de que as soluções existem e são possíveis não depende apenas da reinvenção das cidades, mas também da reinvenção da democracia, para que decisões coletivas realmente estejam à frente de decisões parciais e insustentáveis. Como transformar, então, ambientes inóspitos e modelos excludentes de crescimento? A solução estaria nas próprias cidades, lugar de diversidade e criatividade.
*Arquiteta e urbanista, é pesquisadora e consultora na área de políticas públicas para o desenvolvimento urbano e habitacional