Brasil, o paraíso dos agrotóxicos
SUSANA PRIZENDT
É arquiteta urbanista pela Universidade de São Paulo (USP), com formação em projetos socioambientais, e coordenadora da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida em São Paulo.
Nosso país é a famosa terra do samba, do carnaval, do futebol e, infelizmente, também dos alimentos repletos de veneno. Sim, desde 2008 convivemos com o título de campeões mundiais na utilização de agrotóxicos nas lavouras em que cultivamos os produtos que vão para a nossa mesa e os que exportamos para outros países.
O Brasil recebe cerca de 20% do total dos pesticidas fabricados no mundo: um bilhão de litros a cada ano, ou 5,2 litros por brasileiro. Além de sermos recordistas quanto à quantidade utilizada, ainda permitimos o uso das substâncias mais perigosas, proibidas na maioria dos países, sofrendo as gravíssimas consequências sociais, econômicas e ambientais que esse uso abusivo provoca.
Diante desse contexto, em abril de 2011, um conjunto de organizações e movimentos sociais se uniu para criar a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. De lá para cá, passamos a promover ações para que a população conheça a realidade da nossa agricultura, os problemas que ela apresenta e as alternativas existentes para transformá-la. O objetivo maior dessas atividades é garantir a preservação da saúde das pessoas, dos demais seres vivos e do solo.
Atualmente, dezenas de instituições e grupos expressivos da sociedade civil, como a Via Campesina, a Fiocruz, a Rede de Direitos Humanos, a Rede de Segurança Alimentar, a Associação dos Profissionais de Saúde Coletiva e o próprio Idec, fazem parte da nossa campanha.
Estamos organizados por meio de comitês estaduais e municipais, articulados entre si com o objetivo de alertar a população brasileira para os males da agroquímica. Para isso, contamos com diversas pesquisas e muitos dossiês científicos que comprovam seus impactos na vida dos trabalhadores rurais, dos consumidores e do meio ambiente. Mas a ação da campanha não é apenas informativa. Agimos para impedir a continuidade desse uso absurdo, sobretudo por meio da cobrança de ações do poder público e da promoção das iniciativas de cultivo orgânico.
Hoje, há uma quantia expressiva de agricultores pelo Brasil que adotam sistemas agroecológicos capazes de gerar alimentos saudáveis com produtividade por metro quadrado similar ou superior à do sistema convencional. Somente a ampliação desses sistemas irá atender à demanda crescente da população mundial, já que os pesticidas usados nas monoculturas são responsáveis pela contaminação de lençóis freáticos, afetando todo o sistema hídrico; pela redução da biodiversidade; pela geração de pragas cada vez mais resistentes; e pelo desgaste acelerado do solo.
Todos nós podemos atuar para que o uso de venenos em nossa comida seja freado. A campanha está ativa e convida as pessoas a participarem desse processo de mudança. Conheçam nosso site www.contraosagrotoxicos.org, procurem um comitê, divulguem as informações que veiculamos, busquem alimentos orgânicos. Contem conosco nessa ação combativa e propositiva pela vida.