No escurinho do cinema
Com o objetivo de verificar quanto a ida ao cinema consome da renda mensal do indivíduo em cada país, considerando o valor do salário mínimo, foi realizado um levantamento do preço dos ingressos de cinema em dez países (veja quais são no quadro Como foi feita a pesquisa). Os dados obtidos permitiram comparar quanto o cidadão de cada país gasta para ir ao cinema uma vez por mês. Em números absolutos, os ingressos mais caros são os da Austrália (R$ 32,63), França (R$ 25,53), Reino Unido (R$ 23,80) e Japão (R$ 23,16). O Brasil vem em seguida, com ingressos a R$ 20 em SP e R$ 21 em Brasília.
Ainda que o valor absoluto do ingresso em algumas cidades do mundo seja mais alto, é preciso comparar o poder aquisitivo dos consumidores desses locais, analisando o valor do salário mínimo. Na Austrália, por exemplo, o espectador que vai ao cinema uma vez por mês gasta apenas 0,82% Custo do cinema no mundo do salário; no Brasil, quem vê filmes na telona com a mesma regularidade despende 3,28% do salário (na capital paulista) e 3,85% (na capital federal).
Ao compararmos o custo do ingresso com a renda da população, a situação do Brasil só não é pior que a da África do Sul, onde o bilhete representa 7,82% do salário mínimo local, apesar de, em números absolutos, ter valor menor que o nosso (R$ 11,65). O percentual que esse gasto representa para os brasileiros pode parecer pequeno, mas numa realidade em que boa parte da população ainda tem renda muito baixa – segundo o Censo 2010, 43,7% dos brasileiros recebem até um salário mínimo e outros 30% até dois –, ir ao cinema uma vez por mês é um luxo. Comparando-se o preço do ingresso com o valor de itens básicos de alimentação, transporte e saúde, por exemplo, isso fica ainda mais claro. Ir ao cinema em Brasília equivale a comprar 3,35 kg de pão, 12,8 litros de leite, sete bilhetes de metrô local e 58 aspirinas.
O Idec analisou as características e a prestação de serviço de dez cinemas de São Paulo. Em geral, a qualidade é satisfatória, mas o ingresso ainda é caro.
Os amantes da sétima arte na capital paulista não têm do que reclamar, pelo menos em termos de disponibilidade. A cidade concentra 260 salas de cinema, o que corresponde a 36% das telonas existentes em todo o estado. Para saber se além de quantidade os espectadores podem contar com qualidade, o Idec avaliou dez salas de cinema do centro expandido de São Paulo (veja quais são no quadro Como foi feita a pesquisa).
Em geral, o serviço é bom em todas as salas pesquisadas, mas em algumas houve problema de informação ao consumidor, por exemplo, em relação ao vídeo de segurança que deve ser exibido antes que a sessão comece, e de cobrança de taxa de conveniência para compra pela internet, sem que seja oferecida, de fato, qualquer comodidade. Além disso, a pesquisa constatou que o preço do ingresso em relação ao salário mínimo é bastante elevado, se comparado ao de outros países.
O Idec enviou o resultado da pesquisa a todos os cinemas avaliados, mas até o fechamento desta edição nenhum havia se manifestado.
PREÇOS E PROMOÇÕES
Comparar os preços dos ingressos entre as salas avaliadas não é das tarefas mais simples. Isso porque os valores variam conforme o dia da semana, o horário, o tipo de sala e as promoções especiais. Dessa forma, só é possível confrontar os preços considerando uma combinação de critérios. Veja o quadro com os valores dos ingressos à página 24.
Todos os cinemas avaliados informam adequadamente sobre o direito à meia-entrada, indicando quem pode usufruí-la e quais são as condições (apresentação de carteirinha de estudante, por exemplo). Além do desconto de 50% garantido por lei para estudantes, professores da rede pública e idosos, muitas salas fazem promoções específicas conforme o dia da semana – em várias, o ingresso é significativamente mais barato às quartas-feiras. A rede Cinemark, por exemplo, tem uma promoção na qual o ingresso para a sessão das 15h, em qualquer dia da semana, inclusive no fim de semana, custa R$ 4 a inteira. A rede UCI tem a Segunda Mania (às segundas-feiras, o ingresso inteiro custa R$ 7) e o Ticket Família, com o qual dois adultos e duas crianças pagam R$ 38 para as sessões em sala normal e R$ 54 em sala 3D.
Entre as parcerias com empresas, os clientes do Banco Itaú pagam metade do valor do ingresso nas salas Multiplex Playarte Bristol, UCI Shopping Anália Franco e na rede Espaço Unibanco, sendo que nesta última a compra do ingresso deve ser efetuada com cartão de débito ou crédito do banco. A rede Cinemark oferece desconto de 50% para os clientes Claro Clube, American Express e Bradesco. Quem é associado (comerciário e dependente) ou usuário do Sesc (Serviço Social do Comércio) tem descontos no Cinesesc, que variam conforme a programação e a modalidade de associação.
“Apesar de as promoções e parcerias serem uma ótima opção, o consumidor deve ficar atento às condições oferecidas, pois os descontos podem não ser válidos para as salas 3D e as sessões de fim de semana, feriado ou véspera de feriado”, alerta Guilherme Varella, advogado do Idec responsável pela pesquisa.
Você já deve ter reparado que de uns tempos para cá têm surgido novas opções de salas de cinema especiais. Além das salas com tecnologia 3D, existem as Imax (ainda raras no Brasil) e as de luxo, como a Prime. Mas, além de mais caras, o que essas salas têm de diferente? Veja, a seguir, o significado desses termos:
3D: os efeitos em terceira dimensão (3D) consistem na projeção de duas imagens da mesma cena, com pontos de observação ligeiramente diferentes. Quando o espectador coloca os óculos especiais para 3D, seu cérebro automaticamente funde as duas imagens em apenas uma, o que proporciona a sensação de profundidade, distância, posição e tamanho dos objetos e a impressão de que as imagens estão saindo da tela. Para isso ser possível, a captação de imagens também precisa ser diferente (são gravadas duas imagens ao mesmo tempo).
Imax: nos cinemas com tecnologia Imax, a tela é muito maior que a convencional, e o som e a imagem são de altíssima definição. Como é bem grande – uma Imax comum tem 16 m x 22 m (e ainda pode ser maior), contra 12 m x 20 m de uma sala normal –, a tela preenche todo o campo de visão do espectador, dando a sensação de “imersão” no filme. Para que a imagem não fique distorcida na tela gigante, o filme precisa ser gravado num formato especial. Pode exibir filmes em 2D ou 3D.
Prime: as denominações “prime”, “premier” e “luxo” indicam salas que oferecem serviços especiais. Elas costumam ter poltronas bem maiores, garçons e cardápio sofisticado, que inclui até vinho. Em alguns cinemas, o cliente conta com bilheteria exclusiva para essas salas. O atendimento VIP, claro, tem preço alto.
Fonte: Tecmundo e Veja S. Paulo
Das salas avaliadas, apenas Cinesesc e Cine Livraria Cultura não vendem ingresso pela internet. Entre os que oferecem essa alternativa, quase todos o fazem por meio do site ingresso.com. A única exceção é o Multiplex Playarte Bristol, que oferece o serviço em seu próprio site.
Apenas Espaço Unibanco Pompeia, UCI Shopping Anália Franco, Reserva Cultural e Cine Livraria Cultura permitem que o consumidor reserve o assento pela internet. Lembrando: a reserva de assentos é oferecida gratuitamente nos cinemas que possuem essa opção, já taxa de conveniência (ou taxa de serviço) pela compra virtual todos cobram; os valores variam de R$ 1,90 a R$ 2,98. No entanto, em pelo menos dois deles (Espaço Unibanco e Sala Sabesp) a taxa é indevida, pois não existe a opção de imprimir o ingresso em casa nem outra forma de acesso senão retirar a entrada na bilheteria. Ou seja, o consumidor corre o risco de enfrentar fila mesmo tendo comprado o ingresso antecipadamente. “A cobrança de taxa de conveniência nesse caso é injustificada, pois não há nenhuma vantagem para o consumidor”, afirma Varella. O Multiplex Playarte Bristol não deixa claro se é preciso retirar o ingresso na bilheteria ou se é possível obtê-lo de outra forma, o que fere o artigo 6o, III, do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que garante ao consumidor informação clara, suficiente e adequada.
As cinco demais salas possibilitam, ao menos, a impressão do ingresso em casa. As duas da Rede Cinemark pesquisadas (Santa Cruz e Shopping D), além disso, oferecem a opção de receber o ingresso adquirido pela internet no telefone celular e também de apresentar o cartão de crédito utilizado na compra como ingresso de entrada (Visapass). No caso do Cinemark Shopping D, a compra antecipada pela internet teria sido uma boa para evitar a longa fila que o voluntário do Idec enfrentou no dia do levantamento. A sala foi a única cujo tempo para atendimento – 22 minutos – foi classificado como ruim. Isso ocorreu porque apenas cinco das nove bilheterias instaladas estavam funcionando.
INSTALAÇÕES
Para quem mora em São Paulo, um fator importante na hora de escolher onde passear é a existência de estacionamento no local, pois, dependendo do bairro e do horário, conseguir vaga na rua é praticamente impossível. Dos cinemas pesquisados, apenas o Cinesesc não oferece o serviço. Em geral, as salas de cinema dentro de shoppings utilizam o estacionamento do próprio shopping, enquanto as de rua geralmente possuem serviço conveniado. Porém, o do Espaço Unibanco Augusta (cinema de rua) fica distante. O Cinemark Shopping D é o único com estacionamento gratuito; já o do Bristol custa R$ 14 – o mais caro entre os que têm serviço próprio. Mas como o preço é único, pode ser vantajoso para quem quiser continuar no estabelecimento ou passear pela região da Paulista após o filme. Entre os estacionamentos conveniados, o mais caro é o do Cine Livraria Cultura (Estapar), que custa R$ 13 por apenas duas horas.
Outro ponto que merece atenção é a higiene e conservação do ambiente. Afinal, ninguém quer pagar caro para ir a um lugar sujo. Nesse quesito, os banheiros de dois cinemas receberam avaliação negativa: Cinemark Shopping D (ruim) e Cinemark Metrô Santa Cruz (péssimo). O primeiro estava sujo e o cesto de papel higiênico, transbordando; no segundo, o piso estava molhado e havia papéis jogados no chão. As mesmas salas foram as únicas mal avaliadas em relação ao hall de entrada, classificados como péssimos porque havia muita sujeira, pipoca e papel espalhados pelo chão. Em relação à higiene das salas de exibição, nenhuma teve avaliação negativa.
Foi observado também se os cinemas cumprem requisitos básicos para tornar o ambiente seguro, como exibição do trailer com informações sobre segurança, antes do filme principal, e a presença de itens indispensáveis em caso de emergência (luzes, extintores, portas corta-fogo etc.). Todos possuem os itens de segurança, mas quatro não passaram devidamente o filminho: Cinemark Shopping D, Espaço Unibanco Augusta, Sala Sabesp e Cine Livraria Cultura. No primeiro, o trailer começou a ser exibido sem o devido aviso de que se tratava das orientações de segurança; sem som e com imagens cortadas, e apenas depois de alguns segundos voltou ao normal. Nos outros três não houve exibição de nenhum trailer, inclusive o de segurança. A ausência se deve, provavelmente, ao fato de na ocasião da pesquisa a programação dessas salas ter sido alterada em virtude da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Contudo, isso não justifica a omissão dessa informação essencial. “Os cuidados com a segurança são de responsabilidade do fornecedor, conforme o artigo 8o do CDC, e quanto à informação suficiente sobre os eventuais riscos, trata-se de um direito básico do consumidor, de acordo com o artigo 6o, III, do Código. Assim, é imprescindível evitar esse tipo de falha”, destaca Varella.
A pesquisa avaliou dez salas de cinema da cidade de São Paulo, no centro expandido: Cinemark Shopping Santa Cruz (Zona Sul), UCI Shopping Anália Franco (Zona Leste), Cinemark Shopping D (Zona Norte), Espaço Unibanco Pompeia (Zona Oeste), Sala Sabesp de Cinema (Zona Oeste), Multiplex Playarte Bristol (Centro/Paulista), Espaço Unibanco Augusta (Centro/ Paulista), Cine Livraria Cultura (Centro/Paulista), Reserva Cultural (Centro/Paulista) e Cinesesc (Jardins). Entre os dias 14 e 24 de outubro, dez voluntários do Idec foram às salas selecionadas e observaram aspectos referentes a venda de ingressos, serviço de estacionamento, limpeza das instalações, entre outros.
Além disso, foram levantados os preços do cinema em dez países: África do Sul (Ster Knekor), Argentina (Cinemark), Austrália (Event Cinemas), Brasil (Cinemark, em Brasília, e Bristol, em São Paulo), Chile (Cinemark), Espanha (Cinebox Parque Corredor), Estados Unidos (Cinemark/ AMC Theater), França (Gaumont Pathé), México (Cinemark), Tóquio (Toho Theater) e Reino Unido (Cineworld). Foram considerados os preços praticados pela maior rede de cinema na capital de cada país (com exceção dos EUA, cuja cidade escolhida foi Nova York, e do Brasil, onde também foi avaliado o cinema de São Paulo). A sessão escolhida foi sempre a de sábado à noite, com preço integral em sala normal. Os preços apurados foram convertidos em dólar e depois em real, e comparados com o valor do salário mínimo local.