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A Coalizão Direitos na Rede, que reúne entidades civis como o Idec e centros de pesquisa de direitos digitais, publicou nesta terça-feira (29) uma carta aberta criticando a votação obscura do projeto de lei de proteção de dados pessoais, que está previsto para ser votado hoje pelo Senado.
De acordo com a Coalizão, o PLS (Projeto de Lei do Senado) nº 330/2013 tramita de forma problemática e pouco transparente. As entidades desaprovam o fato de o PLS ser votado em urgência na Comissão de Assuntos Econômicos da Casa sem que um texto final tenha sido tornado público.
“Proteção de dados pessoais é coisa séria e o texto do Projeto de Lei do Senado nº 330/2013 ainda deixa a desejar”, afirmam as entidades.
Na carta aberta, as organizações criticam sete problemas graves encontrados no texto apresentado nesta terça pelo Senador Ricardo Ferraço. Confira quais são eles.
- Exceções ao poder público: o projeto prevê que os direitos de proteção de dados pessoais não se aplicam para casos de repressão a crimes, atividades de inteligência e ações de segurança pública.
- Inteligência corporativa: o texto prevê que empresas podem coletar dados pessoais sem consentimento quando houver legítimo interesse para atividades de inteligência corporativa.
- Impossibilidade de eliminação de dados: organizações que tratam dados pessoais podem optar pela “anonimização” quando um cidadão pede o cancelamento do tratamento dos dados pessoais. Na prática, isso pode tornar impossível o direito de cancelamento e remoção das informações de uma base.
- Coleta de dados de crianças: apesar de prever o consentimento dos pais, o projeto ignora o direito da criança à informação e a consequente necessidade de o controlador e processador de dados disponibilizarem informações claras e acessíveis sobre o tratamento, observando a condição peculiar de desenvolvimento das crianças.
- Atividades de alto risco: o projeto não prevê obrigatoriedade de elaboração de um relatório de impacto à proteção de dados em situações em que há potenciais para a sociedade. Não há previsão de relatórios nos casos de criação de “perfil comportamental” (profiling) e decisões tomadas unicamente com base em tratamento automatizado de dados pessoais.
- Mudanças nas regras do CDC (Código de Defesa do Consumidor): o projeto não adota a responsabilidade objetiva - responsabilização de todos os envolvidos em caso de dados - prevista no código, tal como existente na versão final do PL 5276/16. O texto prevê a responsabilidade subjetiva entre “responsável” (quem coleta os dados) e “controlador” (empresa subcontratada que trata os dados).
- Diminuição das multas: destoando da experiência internacional e do novo Regulamento de Proteção de Dados Pessoais da União Europeia, o substitutivo do relator Ricardo Ferraço prevê diminuição das multas de 4% para 2% do faturamento do grupo econômico no Brasil, em caso de violação dos direitos dos cidadãos.
Disputas entre projetos
O PLS a ser votado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado está tramitando paralelamente ao Projeto de Lei nº 5276/2017, que trata também sobre dados pessoais e que teve versão final apresentada na Cãmara dos Deputados no último dia 24 de maio. Até o momento, nenhum dos dois foi aprovado em plenário.
“O projeto da Câmara, apesar de algumas falhas a serem corrigidas, foi muito mais discutido que o do Senado. Há algo muito errado quando um texto complexo é apresentado e votado no mesmo dia. A quem interessa a pouca discussão do seu conteúdo?”, indaga Rafael Zanatta, advogado e pesquisador direitos digitais do Idec.
Nos últimos meses, a proteção de dados pessoais tornou-se preocupação nacional. Segundo informações reunidas pelo Idec na plataforma Chega de Desproteção, há um número crescente de vazamentos de dados pessoais e de violações de direitos por parte de empresas públicas e privadas no Brasil.