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O que eu aprendi com as mulheres que conheci no Quênia

Mudanças climáticas e aumento no preço dos alimentos afetam a vida de mulheres no mundo todo

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Atualizado: 

08/03/2012
Helena Christensen, embaixadora da Oxfam
Acabei de voltar de minha terceira viagem com a organização humanitária Oxfam. Dessa vez nós visitamos o leste da África, onde encontrei Elisabeth e Josephine
 
Elisabeth mora na região rural de Turkana, no norte do Quênia - uma das muitas regiões da África afetadas pela terrível seca que colocou em risco as vidas de mais de 13 milhões de pessoas.
 
Josephine vive cerca de 600 km ao sul de Elizabeth, em Mukuru, um bairro grande e pobre da vibrante capital do Quênia, Nairobi. Mukuru é uma das maiores favelas do país e fica a poucos quilômetros de distância dos apartamentos e carros de luxo de Nairobi.
 
As vidas dessas duas mulheres mudaram drasticamente nos últimos anos, principalmente por dois motivos: um clima cada vez mais imprevisível e aumento nos preços dos alimentos. 
 
Conseguir ou não alimentar os filhos com duas refeições sólidas por dia está fora do controle de ambas.
 
Mulheres poderiam ter nas mãos a solução para a fome global
Como é sempre o caso nas áreas pobres, muitas mulheres que conhecemos são as responsáveis por alimentar suas famílias e, quando os tempos estão difíceis, elas chegam a sair de casa sem comer para deixar a comida que resta para seus maridos e filhos.
 
Em minhas viagens anteriores com a Oxfam, visitamos Peru e Nepal, onde conheci e tirei fotos de outras mulheres lutando para lidar com os impactos do aquecimento global. Dessa vez, quis ir à África para tentar entender melhor como é possível que as mudanças climáticas determinem se uma mãe pode mandar os filhos à escola e colocar comida na mesa.
 
O que está claro para mim agora é que se as mulheres tiverem voz e posição igualitária em suas comunidades, elas podem ter nas mãos a chave para resolver a fome global.
 
Mulheres produzem mais de 80% da comida em alguns países pobres e, mesmo assim, é menos provável que elas possuam sua própria terra. Elas sempre trabalham duro nas áreas menos produtivas e recebem pouco apoio financeiro ou agrário. O mundo precisa investir mais nas mulheres fazendeiras e criadoras de animais.
 
Elisabeth caminha 12 km todos os dias
Tome Elisabeth, a queniana de 48 anos de idade que vivem em Turkana, como exemplo. Ela era criadora de animais e fazendeira nômade. Dependia de seus camelos e cabras para alimentar seus 11 ffilhos e uma neta. Todos os animais morreram na seca.
 
Agora, sua família depende do que ela consegue ganhar vendendo carvão vegetal. Ela é magra e parece fraca, mas caminha 12 km todos os dias para recolher o carvão vegetal e vender na vila próxima. Ela não pode se dar ao luxo de pagar um ônibus. O preço do combustível é astronômico. Quando o preço da comida sobe, ela é forçada a tirar seus filhos menores e a neta da escola (o preço do milho e do feijão dobrou no último ano!). No momento, ela só pode pagar para que o filho mais velho vá à escola.
 
“Estou lutando para entender o que está acontecendo”, disse Elisabeth para mim. “Apenas dez anos atrás, tudo era verde. Tínhamos leite e carne à vontade, graças às nossas cabras e camelos. Agora está tudo seco. A falta de água torna nossas vidas cada vez mais difíceis. Estou preocupada com os meus pequenos”.
 
Josephine: cuidando de 13 crianças em uma favela
Enquanto Elisabeth ainda está dormindo em uma pequena cabana com seus seis filhos, Josephine acorda às cinco da manhã na favela Mukuro, do outro lado do Quênia, para recolher carvão vegetal e repolho.
 
Essa favela ao sudeste de Nairobi é a casa de centenas de milhares de pessoas - é difícil contar exatamente quantas pessoas vivem lá. Grandes famílias se amontoam em pequenos barracos de zinco e inúmeras crianças brincam ao redor descalças. É incrivelmente quente aqui.

Como Elisabeth, Josephine também criava animais. Ela precisou se mudar para a cidade grande e abandonar sua vida em sua região natal para conseguir prover, pelo menos, uma refeição por dia às treze crianças que ela cuida - alguns dos quais órfãos. A Oxfam ajuda Josephine e outras mulheres como ela a começar seu próprio negócio, reconstruir seu futuro.

 
Algumas dessas mulheres também são portadoras de HIV positivo e precisam realmente de ajuda. O alto nível de pobreza deixa os cuidados com saúde e educação fora do alcance. 
 
Mudanças climáticas afeta a vida das mulheres
Como mãe, não consigo me imaginar insegura quanto ao futuro do meu filho ou tendo de me perguntar onde vou conseguir a próxima refeição. Essas mulheres têm muito o que lutar todos os dias somente para prover o básico. Elas carregam um pesado fardo, uma vez que seus filhos, família e o resto da comunidade dependem, basicamente, delas.
 
Há comida suficiente no mundo para todos, mas uma em cada sete pessoas vão para a cama com fome todos os dias e a vasta maioria são mulheres e crianças. Em ocasiões como essa, do Dia Internacional da Mulher, o que eu me pergunto é: Como isso pode estar acontecendo em 2012? O que podemos fazer para mudar radicalmente as coisas de uma maneira positiva? A ligação entre as mudanças climáticas e as mudanças drásticas nas vidas dessas mulheres é tão óbvia! Os efeitos negativos do aquecimento global estão se alastrando, não apenas como uma marolinha, mas como ondas gigantes no mundo inteiro.
 
Felizmente, o futuro não está cravado em rocha. Um mundo alternativo é possível, se nós transformarmos nosso modo de produção e distribuição de alimentos. Talvez seria ingênuo pensar que isso pode realmente acontecer. Talvez a maioria das pessoas enxergam tal situação sem qualquer esperança. Eu acredito que há pessoas que realmente se preocupam com o mundo e com quem vive nele. Pessoas que estão preparadas para mudanças fundamentais para corrigir o falido sistema de distribuição de alimentos e garantir que todos tenham o que comer.
 
Somos muitos e estamos mais que preparados para fazer parte disso e urgimos para que os líderes mundiais tomem as providências necessárias. Estamos prontos para apoiar, se eles simplesmente abrirem o caminho.

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