Essa história é contada com o recorte do estado de Minas Gerais, pois é onde estima-se que houve o primeiro consumo da planta e onde surgiu a origem do nome. Lá, a cultura alimentar regional é integrada, até os dias de hoje, por esse alimento.
Na sabedoria popular, contam que o nome da espécie Pereskia aculeata foi dado por pessoas que colhiam as folhas no quintal de um padre, enquanto ele rezava uma ladainha, cujo refrão era: “ora pro nobis”, ou rogai por nós, em português (era comum missas em latim naquela época), que era entoado a cada santo invocado.
Ora-pro-nóbis é uma folha estreita, em galhos espinhosos, mas suculenta, que combina tão bem com tantos pratos, principalmente preparos ensopados, que logo caiu na graça do povo.
Existem algumas variedades da planta, mas as principais, são:
- Pereskia aculeata: é a mais comum e a mais conhecida, caules com espinhos e pequenas flores brancas e amarelas, com odor agradável que atrai uma grande quantidade de abelhas. Após a floração, são produzidos pequenos frutos amarelos e redondos, o que facilita na identificação da espécie. Os frutos e as folhas são comestíveis.
- Pereskia grandifolia: tem característica de árvore, pode alcançar de 2 m a 10 m de altura. Em um tronco esverdeado, tem caules também com espinhos e flores rosas. O fruto dessa variedade lembra um figo, o que garante um outro nome popular para a espécie de ‘figueira espinhenta’.
- Pereskia bleo: conhecida popularmente como ‘ora-pro-nóbis amazônica’, ela tem um caule com característica mais de cacto arbustivo e frondoso. A espécie é nativa das florestas úmidas e sombreadas da América Central, possui ramos verdes lenhosos com espinhos, mede cerca de 2 m de altura e tem grandes flores alaranjadas. Suas folhas, flores e frutos são comestíveis. As folhas podem ser usadas cruas ou cozidas. As flores são de cor alaranjada e os frutos são amarelos, de paredes grossas, carnudos e brilhantes, lembrando bagas. É muito utilizada para várias finalidades alimentícias e medicinais. Alguns estudos apontam que povos indígenas colombianos usam essa variedade para neutralizar os efeitos de picadas de cobra, como relaxante muscular e para aliviar dores musculares. Na América Central, os indígenas Kuna utilizam as folhas trituradas para clarificar a água potável.
É possível constatar que todas possuem espinhos e, apesar do obstáculo, existe uma técnica que quem colhe e consome bastante está acostumado a fazer.
Entre os pezinhos tem um espaçamento bom, é possível segurar com os dedos o caule da planta. Com a outra mão, puxe as folhas na direção dos espinhos. Elas saem com facilidade e não corre o risco dos dedos encostarem nos ferrões.
E se colher algumas parece um desafio, imagine só que no distrito de Pompéu, na cidade de Sabará (Minas Gerais), é colhida em média uma tonelada de folha de ora-pro-nóbis para o festival de mesmo nome, que a cada ano apresenta preparos de pratos regionais com a planta.
Esse festival surgiu por um acaso devido ao sucesso de um prato criado pela cozinheira Maria Torres Lima, conhecida hoje como Dona Maria do Pompéu.
Durante o festival da cachaça, também na cidade de Sabará, o empresário Walter Caetano chamou a dona Maria para ser salgadeira na sua barraca de produtos.
Dona Maria criou a receita do ‘marreco com ora-pro-nóbis’, que fez sucesso instantâneo entre os participantes e, dois anos depois, em maio de 1997 teve início o primeiro Festival de Ora-pro-nóbis.
A cada edição, as famílias criam novas receitas, que vão de bolo, suco, doce, sorvete, rocambole, molho e outras variações do consumo da hortaliça nos preparos.
E aos fins de semana, Sabará é o destino certo para milhares de pessoas que querem apreciar os pratos feitos com a verdura.
E sim, apesar da popularidade que o ora-pro-nóbis tem em Minas, ele é considerado uma planta alimentícia não convencional (PANC), muito fácil de cultivar e que fornece alimento constantemente.
Ou seja, você colhe algumas folhas para o almoço e dentro de alguns dias tem outras folhas despontando no ramo.
Pode ser cultivado em canteiros ou em vasos, basta fazer muda de um ramo, retirando todas as folhas, deixando só o galho e colocando na terra para enraizar.
Observe mais as praças, parques e canteiros, converse com pessoas, ou com o feirante, certamente alguém conhece e pode te apresentar a verdura e conseguir uma muda para você.
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